No comando do navio corporativo, espera-se que o líder seja a personificação da confiança, da visão e da resiliência frente à conquista de resultados cada vez melhores. Contudo, por trás deste ideal, dados recentes divulgados pela pesquisa “Prioridades para Líderes de RH em 2025” revelam que sete em cada 10 desses profissionais admitem não se sentir plenamente aptos a exercer suas complexas funções.
Nem sempre, pelo desconhecimento técnico em sua área, mas por um descuido muito mais preocupante e que precisa ser revertido imediatamente: a falta de um autoconhecimento e busca pela capacitação comportamental que os ajudem a comandarem suas equipes.
Diante de um mercado em constante evolução e transformação, é natural que as empresas busquem talentos qualificados que tragam sua expertise às operações internas, alavancando os processos e identificando oportunidades de melhoria que impulsionem o negócio em seu setor. Em organizações de grande porte, essas habilidades costumam ser bem planejadas, desenhadas e determinadas, estruturando os treinamentos e preparos que cada profissional deve ter para que consiga atingir esses objetivos e, com isso, progredir internamente na ascensão a cargos maiores.
Isso, contudo, representa apenas a minoria das empresas no mercado. Quando olhamos para a grande massa corporativa, o crescimento profissional em um negócio decorre de seu próprio mérito, incorporando seu conhecimento técnico ao que é esperado internamente para que vença barreiras e se destaque em seus resultados – nem sempre, construído com base em cursos de capacitação que os tenham preparado para se tornarem bons líderes.
A grande maioria da liderança, hoje em dia, é mais operacional em seu dia a dia, com um olhar mais voltado ao operacional ao invés dos processos e do desenvolvimento das pessoas. O sintoma deste direcionamento é inevitável: uma baixa autoconsciência dos líderes atuais, que focam apenas em conquistar melhores resultados financeiros e não se preocupam em desenvolver as suas próprias habilidades comportamentais e do seu time.
A raiz deste despreparo, portanto, não está na falta de opções de treinamentos adequados que os capacitem a se tornarem excelentes líderes técnicos em seus ramos, mas no fato de muitos talentos não enxergarem a importância de investir em autoconhecimento como parte essencial de sua progressão de carreira. Afinal, se a dinâmica de mercado, na maioria das vezes, acaba promovendo talentos muito mais por suas competências técnicas do que nas habilidades comportamentais, por que fazer um treinamento comportamental já que a recompensa não virá no curto prazo?
Esse é um pensamento extremamente prejudicial para o desenvolvimento de bons líderes. Mais do que ter uma ótima capacidade técnica de execução e cumprimento de metas, é o aprimoramento constante das nossas soft skills que nos permitirão melhorar como pessoas e, consequentemente, como profissionais, unindo esses conhecimentos para que saibamos como nos adaptar às necessidades de cada organização e do mercado, construindo legados que gerem resultados crescentes frente ao nosso destaque competitivo.
Mas, como promover essa mudança de comportamento? No fim, essa virada de chave tende apenas a acontecer quando ficamos inconformados com nossas carreiras. Quando, na ambição de crescer e conquistar posições melhores, nos desafiamos a sair da zona de conforto, indo atrás de soluções que nos tragam esse maior autoconhecimento e nos permita ir além em nossas rotinas.
Essa é uma matemática complexa, mas que se mostra essencial para que haja o máximo alinhamento desta liderança com a empresa, enxergando neste ambiente uma convergência de valores e oportunidades para que cresçam e se desenvolvam juntos. E, ao invés de esperar esse investimento por parte da organização, busque você seu próprio caminho de desenvolvimento. Para de apontar o dedo para os outros, e comece a apontar para si mesmo, assumindo a responsabilidade pelo seu crescimento profissional como um bom líder.
Thiago Gaudêncio é headhunter e sócio da Wide Executive Search, boutique de recrutamento executivo focado em posições de alta e média gestão.