Nos últimos anos, várias pesquisas atestaram que os clientes estão cada vez mais conectados a organizações preocupadas com o meio ambiente e pautas sociais. Esse cenário impulsiona um movimento onde todo negócio que deseja se firmar no futuro, fazer bons negócios, atrair e manter os associados precisa estar atento as novas demandas do mercado.
Algumas dessas urgências foram apontadas recentemente pela WGSN, autoridade global em previsões e tendências, e certamente moldarão a mentalidade do mercado nos próximos anos. De acordo com a companhia, as marcas que colocarem como meta proteger os recursos naturais, reduzir gastos com o consumo de energia e incorporar a sustentabilidade em seu dia a dia sairão na frente das demais. Já que desafios como lidar com o aquecimento global e questões ambientais seguirão como pauta recorrente.
Nesse cenário, as perspectivas indicam que 2025 será dominado por quem adotar a “Natureza como CEO”, ou seja, repensar o próprio modelo de negócios, colocando a natureza como centro das operações. O termo também foi apresentado pela WGSN, a fim de traduzir o que precisa ser transformado daqui para frente.
“As organizações que não se adaptarem a essa nova realidade correm o risco de perder relevância, enfrentar dificuldades financeiras e comprometer seu futuro. Por outro lado, aquelas que abraçam essa mudança têm a oportunidade de liderar a transformação necessária para enfrentar os desafios ambientais e prosperar em um mundo cada vez mais consciente”, lembra Eduarda Tolentino, CEO da BRZ Empreendimentos. A especialista ainda explica que a realidade das mudanças climáticas é inegável, e os negócios são uma das principais fontes de emissões de carbono, poluição e degradação ambiental.
Em consequência disso, as cooperativas já vem fomentando um movimento que prioriza temas de ESG e de sustentabilidade. Foi o que constatou uma outra pesquisa realizada pela PwC, em 2021. Nas 165 cooperativas que participaram, 74% dos dirigentes disseram estar muito interessados nos assuntos relacionados a ESG e 70% consideram o tema essencial ao segmento.
Mais da metade dos entrevistados, 51% avaliaram que incorporar estratégias de sustentabilidade é essencial para atrair e reter os cooperados. Ainda, três quartos das cooperativas expressaram publicamente os seus compromissos sociais, ambientais e de governança ligados aos seus planejamentos corporativos.
A exemplo disso, a Sicredi Centro Norte, construiu uma usina solar para abastecer 140 agências e sedes administrativas. O projeto tem como objetivo reduzir mais de 24 mil toneladas de carbono nos próximos 25 anos.
Além dela, a Cooperativa Agrária Agroindustrial criou o Programa Agrária de Gestão Rural (PAGR) com o objetivo de prestar assistência técnica na implementação de metodologias e das boas práticas agrícolas. Já o Sicoob Aracoop, que atua em Minas Gerais e Pará, tem investido em projetos de destaque como o financiamento para a construção da Usina de Energia Fotovoltaica da Associação dos Usuários do Projeto Pirapora (AUPPI).
“Adotar práticas mais sustentáveis e centralizar a natureza nas decisões corporativas também tem benefícios econômicos. A eficiência no uso de energia, a redução de desperdícios e a reutilização de materiais podem resultar em economias significativas. Cooperativas que investem em inovação sustentável tendem a ser mais eficientes em termos de custos, o que se traduz em competitividade no mercado”, lembra Eduarda.
Mais do que nunca, quem demonstrar compromisso com a sustentabilidade ambiental construirá uma reputação positiva no mercado. E isso não apenas atrai consumidores e investidores, mas também ajuda a reter talentos, especialmente entre as novas gerações. “Ser visto como um líder em sustentabilidade pode se tornar uma vantagem competitiva crucial”, explica a especialista.
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ADOÇÃO DE NOVAS ESTRATÉGIAS
Seja globalmente ou nacionalmente, marcas grandes e conhecidas já estão se preparando de diversas maneiras. Isso envolve reforçar a adoção de estratégias, mas em especial integrar a sustentabilidade em seus modelos de negócios.
Silmara Gomes, professora e coordenadora do curso de administração e tecnologia da gestão no Centro Universitário Senac EAD, explica que as organizações precisam compreender as mudanças das gestões atuais. “Toda vez que a sociedade muda, ocorrem eventos históricos, sociais ou econômicos de grande impacto, os principais reflexos são verificados na gestão. Foi assim com a primeira guerra mundial, a segunda guerra mundial, a queda da União Soviética, e atualmente, com os pós pandemia e as questões climáticas”, exemplifica a especialista.
Diante disso, é fundamental desenvolver uma consciência responsável pela cadeia produtiva, desde a matéria-prima até o produto. “Esse é um dos motivos para que as cooperativas compreendam as suas responsabilidades e aumentem as suas práticas ecológicas considerando o incentivo à agricultura sustentável, a economia circular e a energia limpa”, exemplifica Silmara.
Ela ainda destaca como primordial nesse processo, o aprimoramento dos processos produtivos, com melhoria na gestão das cadeias de abastecimento, na produção agrícola (para cooperativas agropecuárias) e no controle financeiro (para cooperativas de crédito).
Outros pontos de destaque são o fortalecimento da competitividade para que as cooperativas atuem de maneira mais personalizada e rápida. “Os programas de capacitação e requalificação digital são incentivados para que os cooperados possam aproveitar as funcionalidades das novas tecnologias. A atualidade exige das organizações, ações inovadoras e o rompimento com práticas comuns do passado. É importante a compreensão de questões relacionadas à sustentabilidade e diversidade, fundamentos importantes para a construção de modelos de negócios inovadores e duráveis”, aconselha Gomes.
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TRANSFORMAÇÃO DOS VALORES
Um dos pontos chaves para trazer as temáticas ambientais para o mundo das organizações é por meio da transformação dos valores e da cultura corporativa. Para lidar com as questões ambientais, tanto as cooperativas quanto as empresas devem integrar a sustentabilidade à sua governança e à estratégia de longo prazo.
“Existem vários desafios, desde questões relacionadas à cultura organizacional, capacitação dos colaboradores, até a necessidade de realizar investimentos, que inicialmente podem ser altos. Por isso, é fundamental planejar as atividades, de modo que seja possível superar possíveis desafios no percurso”, indica a professora e coordenadora.
Com isso, Silmara dá algumas sugestões, como por exemplo, criar uma equipe dedicada para monitorar, implementar práticas sustentáveis, estabelecer objetivos mensuráveis relacionados à redução de emissões de carbono, economia de recursos naturais, uso de energia renovável, incorporar esses fatores nas decisões estratégicas e operacionais. “É fundamental criar programas de capacitação para adotar práticas mais sustentáveis nas operações do dia a dia. Além de conscientizar os cooperados da importância, por meio de campanhas e práticas sustentáveis que gerem valor econômico e social. Não esquecer de desenvolver parcerias para integrar inovações tecnológicas e novos conhecimentos científicos à realidade do negócio”, finaliza.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na edição 121 da Revista MundoCoop