Os avanços tecnológicos, as mudanças climáticas, e os conflitos sociais, bem como as disputas políticas, apontam para um novo ordenamento do mundo como um todo. Na SXSW 2025, evento que reúne as mais diferentes iniciativas ligadas à inovação, tecnologia, arte, cultura e sociedade, ficou evidente que todas essas transformações devem nos conduzir a caminhos desconhecidos. O desafio para qualquer pessoa que ocupa, hoje, cargos de liderança, é de ser agente de mudanças positivas, de forma a trazer impactos benéficos em maior escala.
Parte desse insight vem da palestra realizada por Amy Webb, participante recorrente do evento e que sempre carrega multidões para a sala. No evento, ela apresentou o relatório anual de tendências tecnológicas do Future Today Institute (FTI), e falou sobre estarmos entrando em uma nova era que ela chama de “Beyond”, onde as regras da sociedade estão sendo reescritas devido a avanços científicos e tecnológicos. Ela provoca todos que ocupam uma cadeira de liderança a ser agentes de mudança – é necessário assumir protagonismo para criar o mundo que desejamos para as novas gerações.
Em outra palestra, ao lado da psicoterapeuta Esther Perel e do Dr. Frederik G. Pferdt, Webb destacou a importância de contar histórias que ajudem as pessoas a imaginar futuros possíveis. A empatia foi destacada como uma habilidade essencial para os próximos anos, tanto em relacionamentos pessoais quanto em contextos organizacionais. Isso ressoa com algo que se observa no dia a dia das empresas: ao estabelecermos uma cultura organizacional pautada por determinados valores e princípios, ela tende a ressoar para outros agentes da cadeia do setor e para a comunidade no entorno.
Desse modo, é imprescindível que empresas dos mais variados setores reconheçam essa onda de transformações como uma janela de oportunidades para promover as mudanças que o planeta precisa. É preciso que líderes reconheçam o seu papel de guiar as transformações iminentes na sociedade para um caminho mais ético, inclusivo e sustentável.
Desafios adiante
Isso leva a diversas discussões importantes, como também se viu na SXSW. A pesquisadora Meredith Whittaker, por exemplo, trouxe a privacidade e a proteção de dados, num mundo cada vez mais digital e impulsionado pela IA, como aspecto vital das relações interpessoais e da democracia. Ela enfatizou que em diferentes relacionamentos, a intimidade e os espaços seguros para reflexão pessoal são cruciais e a forma como as redes sociais e aplicativos de comunicação são construídos podem expor dados e levar ao uso indevido de informações privadas, explorando vulnerabilidades.
Também foi discutida a questão da longevidade, como na palestra de Peter Attia, médico autor do best seller “Outlive: A arte e a ciência de viver mais e melhor”. O termo, segundo ele, vai além dos anos que se vive, mas envolve a qualidade que teremos no final da vida – o foco da medicina na prevenção, em vez da cura, leva as pessoas a adquirir hábitos saudáveis que são muito mais positivos que uma vida longa sem saúde. Na conversa entre Carla Buzasi, CEO da WGSN, empresa líder mundial em previsão de tendências, e Renata Gomide de Carvalho, do grupo Boticário, foi informado que ainda em 2025 teremos mais pessoas com +65 anos do que com menos de 18 no mundo. Como estamos vivendo mais, nossas expectativas em relação à vida também mudam, o que leva as empresas a reposicionar a forma como lidam com seus clientes e seus colaboradores.
Por fim, o choque geracional também foi amplamente discutido na SXSW. Em um agenda com a head de employer brand do Google, Mary M Streetzel, e a CMO da Handshake, uma das maiores empresas de R&S dos EUA, Katherine Feo Kelly, que falaram sobre o desafio de recrutar a Geração Z, mesmo em empresas que são o sonho de muitas pessoas, como o Google. Na visão delas, é preciso parar de estereotipar a Geração Z como descomprometida, pois números mostram que são pessoas que têm como foco trabalhar com propósito, boa remuneração e benefícios e num ambiente onde consigam aprender e evoluir. O desafio de trazer os bons profissionais está ligado à comunicação, de modo a engajá-los de forma natural, para que sintam que de fato seus trabalhos têm relevância e são devidamente recompensados.
O mundo está em transformação e seguirá nessa toada por tempo indeterminado. O que cabe aos líderes é definir como fazer com que essas transformações levem a sociedade como um todo a prosperar, com mais qualidade de vida e acesso democrático a produtos e serviços essenciais para o nosso desenvolvimento humano. O processo é desafiador, portanto quanto mais dialogarmos e agirmos de forma colaborativa, melhor.
*Sandra Castello é diretora de Marketing e Pessoas da DM, grupo de serviços financeiros especializado em gestão de crédito.