Quando a inovação se junta com o cooperativismo, o resultado são soluções com benefícios que vão além do econômico, com impacto na vida das pessoas. Esse conceito é conhecido como inovação social, e, apesar de não ser exclusivo do cooperativismo, tem tudo a ver com esse modelo de negócio.
“Quando falamos de inovação social, nos referimos ao desenvolvimento de novas soluções para melhorar o bem-estar de pessoas e comunidades. Em essência, trata-se da aplicação de ideias inovadoras para resolver problemas sociais, ambientais ou para promover um desenvolvimento mais sustentável e inclusivo”, explica o gerente do Núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB, Guilherme Costa.
Ao contrário do conceito tradicional de inovação, em que o principal objetivo é buscar soluções competitivas e mais eficientes do ponto de vista econômico, na inovação social o foco é gerar benefícios que possam ser compartilhados com todos, com um enfoque no bem-estar das pessoas e das comunidades.
“O objetivo é criar soluções sustentáveis e de impacto positivo que beneficiem a sociedade como um todo, promovendo equidade, inclusão social, e melhor qualidade de vida”, acrescenta Costa. “A inovação social coloca o progresso humano e ambiental no centro de suas atividades, buscando não apenas o sucesso econômico, mas também o desenvolvimento social e a sustentabilidade ambiental.”
Ainda de acordo com o gestor, o próprio cooperativismo pode ser considerado uma inovação social. Afinal, trata-se de um modelo de negócios criado para resolver problemas sociais da época de seu surgimento, em 1844, quando a Inglaterra enfrentava uma grave crise econômica e de desemprego.
Hoje em dia, a relação entre cooperativismo e inovação social se dá de forma ainda mais clara, porque a atuação das cooperativas têm impactos diretos nas comunidades em que estão presentes.
“Uma cooperativa trabalha para atender aos interesses econômicos e sociais de seus cooperados, e, por consequência, as comunidades também são positivamente impactadas. Para se ter uma ideia, de acordo com estudo publicado no Anuário do Cooperativismo Brasileiro em 2023, nos municípios brasileiros onde há presença de cooperativas, a média de PIB [Produto Interno Bruto] por habitante é, em média, 18,6% maior do que em municípios sem cooperativas”, compara Costa.
Impacto no mercado
Uma inovação social produzida pelo cooperativismo pode ter impactos que vão muito além das coops e levar a transformações no mercado. Isso porque outras empresas também passam a utilizar as novas ferramentas, multiplicando os benefícios da inovação para a sociedade.
“Iniciativas que focam em responsabilidade social e ações de cooperação com impacto coletivo na transformação social são somadas às novidades, ações de maior eficiência e eficácia, com maior margem para escalabilidade e replicabilidade. Elas são impulsionadas não apenas pela necessidade de responder a desafios sociais e ambientais, mas também pela crescente demanda de mercado, por práticas mais responsáveis e sustentáveis”, afirma o gerente do Sistema OCB.
Um exemplo que mostra bem o impacto de uma inovação social do cooperativismo para uma comunidade e para todo um segmento econômico é o projeto Barracred Conecta, da cooperativa de crédito Barracred, de Barra Bonita (SP). A iniciativa oferece capacitação para jovens em tecnologia da informação integrada a valores cooperativistas. A ideia surgiu em 2023, depois que a cooperativa ampliou seu setor de tecnologia e se deparou com a falta de mão de obra especializada na região.
Com uma estrutura própria que simula o ambiente de uma startup de tecnologia, o programa oferece aulas teóricas e práticas de tecnologia da informação, inglês, treinamento de habilidades pessoais e profissionais, além de um estágio. “Conseguimos capacitar e encaminhar esses jovens para o primeiro emprego, revelando talentos para o mercado. Contribuímos para que eles se tornem protagonistas de suas próprias histórias, transformando sua realidade, a de suas famílias e também a da comunidade em que vivem”, explica a coordenadora de Responsabilidade Social da Barracred, Andresa Baratela.
Além do impacto social direto para os estudantes, o programa ampliou a oferta de profissionais capacitados para empresas da região, que tem se consolidado com um polo de tecnologia. A primeira turma formada pelo Barracred Conecta registrou 75% de contratação após o estágio.
Assim como o projeto de capacitação da cooperativa paulista, o cooperativismo é palco de inovações sociais em vários ramos e em todas as partes do país. As cooperativas brasileiras são referência internacional em inovações sociais com impacto na segurança alimentar e no combate às mudanças climáticas, com benefícios tanto para seus cooperados quanto para a sociedade.
Inovação social x projetos sociais
Apesar do propósito de beneficiar pessoas e trazer benefícios coletivos, inovação social não é sinônimo de projeto filantrópico nem de ações sociais da agenda ESG – sigla em inglês para Environmental, Social and Governance – que se refere a iniciativas de responsabilidade social corporativa.
Para ser inovação, uma ação deve introduzir uma novidade, resolver problemas de maneira mais eficiente, ser sustentável a longo prazo e ter potencial de escalabilidade e replicabilidade.
Enquanto projetos sociais ou ações ESG estão ligados a compromissos de responsabilidade social corporativa e objetivos de sustentabilidade da organização, uma inovação social passa, necessariamente, por implementar uma nova ideia. O conceito, produto ou serviço inovador deve atender a necessidades sociais de forma mais eficaz, eficiente ou sustentável do que as soluções existentes.
Conheça mais exemplos de inovação social no cooperativismo:
Intercooperação para geração de energia: No Rio Grande do Sul, a cooperativa de eletrificação Certel se uniu às cooperativas de crédito Sicredi Ouro Branco, Sicredi Integração RS/MS, Sicredi Região dos Vales e Sicredi Botucaraí para a construção da Usina Hidrelétrica Vale do Leite, no Rio Forqueta. Além de garantir a geração de energia limpa e renovável para milhares de pessoas, a inovação social levou a um incremento de renda, empregabilidade e desenvolvimento na região de atuação das coops.
Energia limpa e solidária: Uma inovação social do Sistema Ocemg incentiva as cooperativas do estado de Minas Gerais a construírem usinas fotovoltaicas para suprir a demanda de suas unidades e doar parte da energia a entidades filantrópicas. Por ano, o Programa de Energia Fotovoltaica do Cooperativismo Mineiro, MinasCoop Energia, beneficia diretamente mais de 4 milhões de pessoas ligadas às entidades que recebem energia limpa das cooperativas. No estado todo, diversas outras ações mostram na prática essa mudança de pensamento.
Produção sustentável e renda extra: Em uma inovação social com benefícios ambientais no ramo Agronegócio, a Cocamar promove a integração lavoura-pecuária-floresta para sustentabilidade e diversificação de renda dos cooperados. O projeto Super Integração auxilia os produtores cooperados a utilizar de maneira sustentável suas propriedades, e mostra que é possível produzir soja e bovinos de forma harmônica com florestas de eucaliptos, com menos intervenções na terra, menor impacto ambiental e geração de renda extra.
Pesquisa e capacitação para cooperados: Para impulsionar inovações sociais e projetos comunitários, as cooperativas Coopercitrus e Credicitrus, de São Paulo, criaram em 2019 uma fundação para promover o desenvolvimento de seus cooperados e da comunidade no entorno. A Fundação Coopercitrus Credicitrus atua no desenvolvimento de projetos voltados à pesquisa, educação e meio ambiente, como as iniciativas CooperSemear e CooperNascentes.
“Estes projetos refletem a união entre sustentabilidade, inovação e desenvolvimento social, ressaltando o papel vital das cooperativas na promoção de um futuro mais sustentável”, destaca Guilherme Costa.
Fonte: Somos Cooperativo
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