O cooperativismo em Goiás alcançou patamares expressivos em 2024 e mostrou a capacidade do setor para gerar riqueza e distribuir renda nas comunidades de todo o estado. Com 266 cooperativas ativas, mais de 666 mil cooperados e um faturamento de R$ 31,3 bilhões, o modelo, por mais um ano, se consolidou como pilar do desenvolvimento regional.
O cenário de crescimento ganha ainda mais relevância quando observado sob a ótica social. O segmento, que já é responsável por 18,5 mil empregos diretos, é ocupado em sua maioria por mulheres, e distribuiu R$ 1,5 bilhão em sobras aos cooperados no último ano.
Sob este contexto, a MundoCoop conversou, com exclusividade, com Luís Alberto Pereira, presidente do Sistema OCB/GO, sobre os avanços e perspectivas do movimento no estado.
Crescimento com resiliência
O cooperativismo goiano não apenas cresceu em número, mas também em maturidade. A profissionalização da gestão, o apoio do Sistema OCB/GO e a criação de Núcleos Regionais têm descentralizado o atendimento e aproximado ainda mais o movimento das comunidades locais.

Segundo Luís Alberto, as iniciativas de desenvolvimento se estabelecem a partir de três pilares: qualificação das lideranças, integração regional e a capacidade de adaptação às mudanças socioeconômicas. “Atribuímos o avanço à profissionalização da gestão; ao apoio do Sistema OCB/GO, com capacitação, representação institucional e a criação de Núcleos Regionais para descentralizar o atendimento; e à capacidade de adaptação das cooperativas. Essa combinação gera crescimento com resiliência.”
Esse processo também tem garantido maior visibilidade ao setor e ampliado o diálogo com o poder público, assim atraindo novas parcerias estratégicas. Outro ponto importante é a ampliação dos programas de educação continuada oferecidos pelo SESCOOP/GO, que têm preparado novas gerações de líderes para conduzir o movimento.
Crédito cooperativo
A solidez do ramo crédito é um dos grandes trunfos do cooperativismo goiano e vem se consolidando como protagonista em números e em impacto social. O segmento tem expandido a rede de atendimento e oferecido soluções digitais que aproximam ainda mais os cooperados de serviços financeiros acessíveis.
Atualmente, o setor concentra 86% dos cooperados do estado e lidera os ativos totais, com R$ 56,7 bilhões em 2024. De acordo com o presidente, o crédito cooperativo cumpre um papel social fundamental ao levar serviços a regiões desassistidas por bancos tradicionais. “O ramo crédito é vital para a inclusão financeira. Ele chega a locais onde os bancos tradicionais não estão presentes, oferecendo soluções com taxas competitivas e distribuição de sobras. Isso permite que agricultores, pequenos empresários e trabalhadores tenham acesso a crédito, fortaleçam seus negócios e a economia local.”
Outro destaque é a crescente intercooperação entre cooperativas de crédito e agropecuárias, responsáveis pelo desenvolvimento de linhas de crédito específicas para produtores rurais, prática que tem fomentado o crescimento das cadeias produtivas e fortalecido a economia rural.
Protagonismo feminino no setor
Outro aspecto que reforça a singularidade do cooperativismo goiano é a forte presença feminina no quadro de empregados, que representam 52,5% da força de trabalho. Essa participação, no entanto, vai além dos números e tem transformado a cultura organizacional, com o impulsionamento em inovação e diversidade para a gestão das cooperativas.
Como afirma Pereira, o envolvimento das mulheres em espaços como o InovaCoop Goiás tem sido essencial para oxigenar ideias e criar soluções mais colaborativas. “As mulheres trazem novas ideias e perspectivas, enriquecendo a cultura organizacional. No InovaCoop Goiás, vemos uma participação maciça delas em eventos e hackathons, gerando uma visão mais colaborativa e multifocal. Ainda precisamos avançar na participação feminina em cargos de gestão, porque uma cooperativa diversa é mais inovadora e melhor preparada para cumprir seu papel.”
A expansão da representatividade feminina, segundo o presidente, é um caminho sem volta. Ele defende que a diversidade de gênero precisa alcançar também os conselhos de administração e as diretorias executivas, para tornar a tomada de decisões mais plural e alinhada às necessidades da sociedade como um todo.
Renda distribuída e impacto regional
Os dados também mostram que cooperados e empregados têm renda superior à de trabalhadores autônomos ou empregados de empresas tradicionais. Em 2023, a média de rendimento mensal de cooperados em Goiás foi de R$ 8,7 mil, contra R$ 3,9 mil dos autônomos não cooperados.
Esse diferencial de renda reforça o papel das cooperativas como agentes de desenvolvimento, garantindo maior circulação de recursos nas cidades e estimulando o consumo local.
Para o presidente, esse diferencial tem reflexo direto na economia das comunidades e auxilia na geração de novos investimentos para os negócios locais. Além disso, o presidente ressalta que essa circulação de recursos ajuda a reduzir desigualdades regionais. “Em vez de concentrar a riqueza, o cooperativismo a distribui entre os membros e a comunidade. Isso significa mais poder de compra para as famílias, mais investimento em negócios locais e uma economia regional mais forte e resiliente.”
Longevidade e confiança
Os números do Panorama revelam ainda que as cooperativas ligadas ao Sistema OCB/GO têm uma sobrevivência média de 15,5 anos, contra 9,5 anos das que não fazem parte da instituição.
De acordo com Pereira, a explicação está no suporte oferecido pela instituição, que preza pelo fortalecimento institucional, desde consultorias e capacitação até representação institucional junto ao poder público. “A longevidade é resultado de um ecossistema de apoio robusto. Oferecemos consultorias especializadas, educação continuada, incentivo à intercooperação e atuamos como ponte com o poder público. Isso cria um ambiente de menor risco e maior maturidade, que se traduz em resiliência e fortalece a confiança no modelo.”
ESG e inovação como prioridades
As práticas de ESG têm ganhado espaço nos ramos de crédito e saúde, considerados referências no estado. Nesse âmbito, o presidente afirma que iniciativas como a criação de comitês de sustentabilidade e a transparência na governança mostram que o tema deve ser tratado como investimento estratégico, e não como custo. “A transparência na governança e a busca pelo bem-estar da comunidade mostram que o ESG é um investimento, não um custo. Outros ramos podem replicar isso criando comitês de sustentabilidade, estabelecendo metas e comunicando suas ações.”
No campo da inovação, Goiás tem se destacado nacionalmente. Com iniciativas como o hub InovaCoop Goiás, o Pacto Goiás pela Inovação e programas como Conexão Coop e GO!Coop, o Sistema OCB/GO busca integrar startups e soluções tecnológicas ao dia a dia das cooperativas. “Temos um hub de inovação, o InovaCoop Goiás, e fazemos parte do Pacto Goiás pela Inovação. Estimulamos startups voltadas a resolver problemas do cooperativismo, em programas como o Conexão Coop (com o Sebrae) e o GO!Coop. Em parceria com a WEX, realizaremos a segunda edição da CoopsParty em Goiânia. Investir em inovação é uma das nossas tarefas estratégicas”, afirmou.
Perspectivas para o futuro
O olhar para o futuro é de otimismo. As projeções apresentadas pelo representante da OCB/GO incluem o aumento do número de cooperados, a criação de novas cooperativas e o fortalecimento da representatividade do setor no cenário estadual e nacional.
Para Pereira, a meta é posicionar o cooperativismo como solução definitiva para a geração de emprego, inclusão financeira e produção sustentável em Goiás. “Esperamos uma expansão em tamanho e relevância, com crescimento no número de cooperados, novas cooperativas e maior representatividade. Queremos ser vistos como a solução para geração de emprego, inclusão financeira e produção sustentável, construindo um futuro mais justo para Goiás.”
Na visão do presidente, os próximos anos serão decisivos para consolidar Goiás como referência nacional em inovação e impacto social. Ele acredita que, ao aliar resultados econômicos e compromisso comunitário, o cooperativismo goiano seguirá como exemplo de modelo econômico capaz de transformar realidades.
Por João Victor, Redação MundoCoop