Corria o ano de 2010, dona Lídia de Souza, na época com 70 anos, profetizava: “Ele está indo para um propósito maior”. Referia-se ao filho, Wolmir de Souza, que deixava a presidência da Associação Catarinense de Suínos (ACCS) depois de sete anos à frente da entidade.
Em 2003, Wolmir havia vencido no voto a primeira eleição para a direção da principal instituição que representava os produtores de suínos no estado, com duas chapas concorrentes. Até então, desde a fundação em 1959, os dirigentes da ACCS eram escolhidos por aclamação. O motivo era simples. Sempre houve consenso entre os produtores rurais sobre a quem caberia presidir a associação.
O então presidente assumiu defendendo a bandeira que a “suinocultura estava em alta e o produtor em queda. Uma suinocultura crescente e os suinocultores com diminuição de qualidade de vida”.
A defesa era destinada aos criadores de suínos independentes, que não operavam sob a proteção e as garantias oferecidas pelo sistema de integração das grandes agroindústrias e das cooperativas. Sadia, Perdigão e Seara eram as marcas mais conhecidas do mercado.
O tempo passou e atualmente aquele produtor de suínos nascido no distrito de Arvoredo, no município de Seara, localizado no Meio-Oeste catarinense, reconhece que os sistemas cooperativista e de integração sustentam a cadeia da produção de suínos em Santa Catarina, e que o trabalho coletivo, em qualquer atividade é a base para a geração de riquezas, seja no campo, seja na cidade.
Arvoredo agora é um município com pouco mais de 2 mil habitantes, e o ex-presidente da ACCS entendeu que o trabalho desenvolvido ao longo dos mais de 60 anos pela entidade foi vital para a manutenção da atividade, seja ela independente, mesmo entre altos e baixos, cooperada ou integrada.
Tanto que, após um período de aprendizado, de dificuldades e de superação, criou em 2014, com apoio do Sebrae e em conjunto com 15 pequenas agroindústrias a Central de Negócios, ligada a recém-criada Associação das Agroindústrias Alimentícias de Santa Catarina (ASASC).
Uma entidade sem fins lucrativos que tinha o propósito de realizar compras em conjunto para obter melhores preços, e com isso reduzir os custos de produção e melhorar os rendimentos de cada empresa associada. “O grande aprendizado está no coletivo”, ensina Wolmir de Souza.
Com a economia veio estabilidade, renda e muito aprendizado. Os associados entenderam que, se realizavam compras conjuntas, poderiam também vender juntos. Paralelo ao surgimento da ASASC, foi criada a marca Saborense. Até então, um nome fantasia, mas que em 2019 se consolidou por meio da Cooperativa de Produção e Consumo Saborense.
A cooperativa agora reúne 50 empresas associadas em todas as regiões de Santa Catarina. Produzem alimentos industrializados utilizando matérias-primas desde suínos, bovinos, caprinos, ovinos, lácteos, até pescados. As certificações sanitárias são imperativas.
A ideia é lançar esses produtos no mercado sob a marca Saborense. Wolmir explica que a cooperativa é a ferramenta para que as pequenas agroindústrias associadas possam vender seus produtos sob uma única razão social e uma mesma marca.
“Queremos que o consumidor saiba que nosso modelo de cooperação embala mais do que o produto, traz a história, a vocação, a identidade e a tradição do produtor e empreendedor de Santa Catarina”, afirma.
Uma das justificativas para esse novo empreendimento é o conceito de que o mercado quer ser abastecido forma linear, e quando o assunto é a pequena indústria de alimentos, não há segurança de comercialização em escala.
Certamente esse é o início de uma nova história que vai integrar o agronegócio catarinense. Outra certeza é que dona Lídia de Souza, hoje com 82 anos, que continua morando em Arvoredo, já sabia que o desafio lançado há 12 anos teria um resultado positivo.
Fonte: Portal Nd+
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