Empresas brasileiras já negociam as primeiras exportações de milho para a China, mercado que foi aberto neste ano, afirma o diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira. Ainda não há confirmação de embarques do cereal já programados. No entanto, com o mercado chinês aberto, basta as empresas fecharem negócio, diz ele.
“O mercado está aberto e quando o mercado se abre, já é permitido iniciar a exportação. Nessa primeira leva, temos uma lista de mais de 150 empresas no Brasil aprovadas para negociar”, afirma Silveira, referindo-se à lista divulgada pela alfândega chinesa, que inclui desde cooperativas a grandes multinacionais do setor.
Confirmada neste ano, a liberação de compras de milho brasileiro pela China vem movimentando empresas e cooperativas, que vem se estruturando para esse novo mercado. A C. Vale, com sede em Palotina, no Oeste do Paraná, é uma delas. A cooperativa está organizando a documentação necessária para se credenciar no Ministério da Agricultura e poder exportar para o país.
“Não temos nenhum compromisso futuro firmado, porém, a cooperativa toma, neste momento, as medidas necessárias para que esteja habilitada para a realização dessas exportações. Isso tende a acontecer numa sequência próxima”, afirma Alexandre Tormen, gerente do Departamento de Operações e Mercado da C.Vale.
Oferta e demanda
O analista Matheus Pereira, diretor da Pátria AgroNegócios, diz acreditar que os prinmeiros embarques devem começar ainda neste ano, em dezembro. E o mercado já deve perceber um efeito sobre os números das exportações totais de milho do Brasil.
“Hoje, a estimativa é que o país exporte algo em torno de 44 milhões, 45 milhões de toneladas – é o recorde de exportações de milho no Brasil”, afirma. Esses número consideram o grão já compromissado e vendido para os próximos 45 dias – com 35 milhões de toneladas de superávit.
Nas projeções do Ministério da Agricultura, a China deve importar, no total, em torno de 18 milhões de toneladas de milho no ano-safra 2022/2023. As exportações totais do Brasil relativas ao mesmo ciclo são projetadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 45 miilhões de toneladas.
“Se a China confirmar as importações – o que é muito provável -, daremos um salto de 5% nessa projeção, com 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas a mais neste ano”, analisa Pereira. “Depois vai aumentando. Aos poucos, é um mercado que se abre”, acrescenta Silveira, da Abramilho.
No mercado interno, pelo menos por enquanto, o início das exportações de milho para a China não é visto com grande preocupação por compradores do grão brasileiro. No início deste mês, em telefonferência para detalhar o balanço do terceiro trimestre, executivos da BRF avaliaram que os embarques não devem ter influência.
“A gente entende que isso (a importação de milho brasileiro pelos chineses) não deve ter influência nos preços, porque em termos relativos isso não exercerá uma mudança em relação ao que é a exportação de milho do Brasil, em relação à safra total”, disse, na ocasião, o vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores, Fábio Mariano.
Exigências fitossanitárias
Glauber Silveira explica que o protocolo de exportações de milho para a China prevê o cumprimento de normas desde o plantio da safra. No entanto, para viabilizar os embarques ainda neste ano, a China abriu mão de requisitos fitossanitários para a exportação do milho brasileiro, tendo em vista que muitas das exigências não poderiam mais ser cumpridas com a safra em andamento.
Mas a lista de exportadores e armazéns portuários aprovados para negociar o grão com a China pelo Ministério da Agricultura considera o atendimento às condições e aos padrões de qualidade chineses. Silveira ressalta que o produtor do Brasil aplica medidas de controle e vem recebendo constantemente orientações, tendo em vista que já exporta milho para outros países como Japão, Egito e Grécia.
Alexandre Tormen, gerente da C. Vale, destaca que um ponto importante nessa nova relação comercial com a China é que a produção chinesa do grão cresce num ritmo inferior ao consumo doméstico. “Isso abre uma perspectiva muito positiva para os próximos anos”, analisa.
Matheus Pereira, da Pátria AgroNegócios, destaca ainda que o Brasil tem um milho mais competitivo que concorrentes internacionais. “Ganhamos espaço puramente por preço, o milho daqui é muito mais barato do que o dos concorrentes”, observa. “Estamos na reta final do ano comercial. Então, agora será só aperitivo do que virá para 2023, quando a China deve se mostrar mais agressiva, tendo em vista a produção interna do país para a cadeia de ração para suínos, que é uma demanda muito aquecida. Há muito espaço para interação comercial com o Brasil”, acrescenta.
Fonte: Globo Rural
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