No Brasil, mais de 3 mil cooperativas de catadores de resíduos reúnem cerca de 70 mil trabalhadores, conforme aponta o Anuário da Reciclagem de 2024. Essas organizações são fundamentais para a gestão dos resíduos sólidos, especialmente em um país que produz, por ano, cerca 81 milhões de toneladas de resíduos, segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos de 2024, da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema). Apesar desse volume, apenas 8% desses materiais são reciclados, sendo que 70% desse percentual é coletado por catadores informais.
Diante desse cenário, as cooperativas desempenham um papel essencial na organização e profissionalização do setor, garantindo melhores condições de trabalho e promovendo a inclusão social e econômica de milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade. Através dessas organizações, a eficiência da coleta e triagem de materiais recicláveis aumenta, reduzindo a quantidade de lixo enviada para aterros sanitários e lixões.
Além de combater a poluição e incentivar a sustentabilidade, as cooperativas de catadores ajudam a movimentar a economia e a gerar novas oportunidades de trabalho. Segundo Tereza Campello, diretora socioambiental do BNDES, “as cooperativas de catadores estão no centro da questão da economia circular, sendo essenciais para completar o ciclo de vida dos produtos com sustentabilidade”. Ela destaca ainda o potencial dos créditos de logística reversa (CLR), que permitem que as cooperativas gerem receitas adicionais ao venderem certificados de logística reversa para empresas poluidoras, conforme previsto no Decreto 11.413/2023.
O que tem sido feito?
Exemplos práticos já mostram o impacto positivo das cooperativas. O programa Benevides Recicla, criado pela Natura em parceria com a Prefeitura de Benevides (PA), a cooperativa ReciclaBen e a ONG Espaço Urbano, é um exemplo disso e reciclou 58,3 toneladas de resíduos sólidos em menos de um ano, evitando a emissão de 98,7 toneladas de carbono. Além disso, mais de 12 mil pessoas foram impactadas pelo programa, que promove a coleta seletiva e a geração de renda para os catadores.
Sergio Talocchi, gerente sênior de Cadeias Sustentáveis da Natura América Latina, explica que o programa surgiu da necessidade de promover a economia circular e a inclusão social. “A Natura tem um compromisso histórico com a sustentabilidade, e o Benevides Recicla é um exemplo de como unir empresas, sociedade civil e governos para gerar impactos positivos”, afirma.
“Um dos principais benefícios desse programa é a sua capacidade de influenciar a política pública relacionada aos resíduos”, acrescenta Roseli Barbosa, gestora de projetos e diretora da ONG Espaço Urbano.
Outro projeto de destaque é o Edital Novo Cataforte, lançado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Fundação Banco do Brasil (FBB), que destinou R$ 50 milhões em recursos não reembolsáveis para fortalecer redes de cooperativas e associações de catadores. O edital selecionou 21 projetos prioritários, voltados à modernização da infraestrutura, aprimoramento da gestão e aumento da produtividade das cooperativas.
Tereza complementa: “O objetivo do Novo Cataforte é selecionar projetos que visam a promoção da inclusão socioeconômica de catadoras e catadores de materiais recicláveis por intermédio do fortalecimento e estruturação de redes de cooperativas e/ou associações de catadoras e catadores de materiais recicláveis”.
Desafios e oportunidades
Mesmo com os avanços das iniciativas, desafios persistem. Roseli aponta que a falta de políticas públicas municipais eficazes e o desconhecimento da população sobre a importância da coleta seletiva ainda são obstáculos significativos. “A gamificação e o reforço positivo são ferramentas poderosas para engajar a sociedade, mas é preciso que as políticas públicas acompanhem esse movimento”, ressalta.
Ela também destaca a importância do protagonismo das cooperativas nos projetos de reciclagem. “Ao colocar as cooperativas no centro das ações, garantimos que as decisões reflitam as necessidades dos catadores, promovendo a autonomia e a sustentabilidade dessas organizações”, explica.
Talocchi enxerga a conscientização da população como um desafio, mas de suma importância que seja feita. “Um dos maiores obstáculos que enfrentamos para conscientizar a população sobre a coleta seletiva é o pouco conhecimento sobre a importância e os benefícios desta ação. Muitas pessoas ainda não compreendem como a destinação adequada dos resíduos pode impactar positivamente o meio ambiente e a sociedade, além de não identificar os prejuízos causados pela destinação incorreta”, explica.
Para onde vamos?
Até 2032, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) traçaram como meta o aumento da recuperação dos resíduos produzidos no país para 50% e preveem a quadruplicação do volume de materiais reciclados pós-consumo.
“O faturamento das cooperativas de catadores tende a crescer nos próximos anos. Com as políticas públicas e metas de reciclagem que estão sendo implementadas e serão reforçadas nos próximos anos, espera-se, conforme meta do Planares, quadruplicar o volume de materiais reciclados pós-consumo processados nas cooperativas”, avalia a diretora socioambiental do BNDES.
O caminho para 2025 e além passa, necessariamente, pelo fortalecimento dessas organizações e pela valorização do trabalho dos catadores, que são verdadeiros agentes de transformação no Brasil. “O reforço às cooperativas de catadores de materiais reciclados na circularidade dos materiais combinada com a transição energética é um vetor para uma transição ecológica com justiça social”, conclui Campello.
O Impacto das Cooperativas de Catadores no Brasil
- Mais de 3 mil cooperativas de catadores no Brasil.
- 70 mil trabalhadores organizados em cooperativas.
- 800 mil catadores atuando no país (formais e informais).
- 58,3 toneladas de resíduos reciclados pelo programa Benevides Recicla em menos de1 ano.
- 98,7 toneladas de carbono evitadas com a reciclagem.
- Apenas 8% dos resíduos são reciclados no Brasil, sendo 70% coletados por catadores informais.
Por Andrezza Hernandes

Matéria exclusiva publicada na edição 122 da Revista MundoCoop