COLUNA ECONOMIA & COOPERATIVISMO
Nas últimas semanas, o mercado financeiro global vem sofrendo fortes turbulências devido a fatores que não estavam no radar dos investidores. Um deles foi o crescimento da tensão no Oriente Médio. Outro envolve a inflação nos Estados Unidos e seu respectivo impacto na expectativa de queda de juros pelo Federal Reserve, o Banco Central americano. Já no âmbito interno, a mudança das metas fiscais ajudou a derrubar a bolsa e a alavancar o dólar.
A tensão entre Israel e Irã, que promoveu recentemente um ataque com centenas de drones, gerou um alerta internacional. Um conflito mais amplo no Oriente Médio certamente pressionaria a cotação do petróleo a exemplo do que aconteceu na guerra da Rússia na Ucrânia. Com petróleo mais caro, a inflação saltaria no mundo inteiro, obrigando os bancos centrais a subirem os juros. Na prática, um conflito no Oriente Médio resultaria no esfriamento da atividade global ou até mesmo numa recessão econômica.
A propósito, o tema inflação vem atormentando as autoridades monetárias internacionais desde o fim da pandemia do coronavírus. O mundo inteiro subiu juros para combater a alta dos preços. Nos Estados Unidos, a inflação anual ultrapassou alarmantes 9% em meados de 2022. Isso significa que a moeda mais poderosa do mundo, o dólar, perdeu 9% do seu poder de compra num período de apenas 12 meses.
Em reação a tal fenômeno, o Federal Reserve elevou os juros 11 vezes consecutivas ao maior patamar em 22 anos: entre 5,25% e 5,5% ao ano. Mesmo assim, a inflação ao consumidor segue elevada para os padrões americanos, num patamar de 3,5%, e ainda distante da meta oficial de 2%. Na Europa, o processo pós-Covid foi semelhante e igualmente turbinado pela alta do petróleo após a invasão russa na Ucrânia. A inflação na zona do euro chegou a 11,5% e o Banco Central Europeu (BCE) também elevou os juros.
Por aqui, a trajetória dos preços e dos juros seguiu a tendência dos países desenvolvidos. A diferença é que o Banco Central do Brasil se antecipou ao fenômeno inflacionário e liderou a alta dos juros. A inflação, que chegou a um pico de 12% em abril de 2022, está atualmente um pouco abaixo dos 4%. Desde agosto do ano passado, diante de um cenário mais benigno, o Banco Central vem reduzindo os juros básicos (Selic), que caíram de 13,75% para 10,75% ao ano. Nas próximas semanas, ainda deve promover mais um ou dois cortes. A grande dúvida é se haverá espaço para a Selic voltar a um patamar inferior a 10% como previam os analistas no começo do ano.
O atual cenário internacional com guerras e juros altos certamente não ajuda o nosso Banco Central. Para dificultar ainda mais o trabalho da autoridade monetária, o governo federal decidiu afrouxar as metas fiscais dos próximos anos. A falta de empenho para cortar gastos e o foco único na elevação das receitas azedaram o humor dos investidores nas últimas semanas. O dólar ultrapassou a marca de R$ 5, a bolsa caiu e os juros futuros subiram. Se a inflação der sinais de recrudescimento pelos fatores internos e externos aqui descritos, o Banco Central – que felizmente é autônomo – terá de antecipar o fim do ciclo de queda dos juros e, no pior dos cenários, terá de voltar a elevar a Selic.
*Por Luís Artur Nogueira, economista, jornalista e palestrante. Atualmente é colunista da revista ISTOÉ Dinheiro e da MundoCoop
Coluna exclusiva publicada na Revista MundoCoop, edição 117
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