PALAVRA DO TEJON
Ao lado de Adélia Franceschini, renomada pesquisadora social e de marketing no Brasil, nos reunimos para escrever este artigo, provocados por uma informação sobre a gigantesca importância e dimensão do cooperativismo na economia chinesa. Pedi a OCB dados a respeito e recebi da Tânia Zanella, sua superintendente, uma apresentação que reunia diversas informações e mensurações, como as abaixo:
- 191 276 cooperativas de todos as formas
- 24 564 entidades de negócios, sem cooperativas do setor primário
- 767 000 canais de comércio, outlets de bens de consumo
- 464 000 centros de multisserviços nas cidades menores
- 64 651 hospitais capilares
Muito interessante também, além da grandiosidade desses números, foi a observação de uma forte presença da expressão “marketing“. O documento inicia assim: “Suply and Marketing Co-operatives (SMCs) foram iniciadas em 1950 e retratam os “anos difíceis“ onde líderes, membros desse sistema, cruzavam montanhas e rios, longas distâncias com sacolas e mochilas nas costas levando bens aos agricultores, numa luta pela sobrevivência.
O início foi totalmente dedicado aos agricultores. Ao passar dos anos, incluíram a inovação, serviços, logística e marketing de tudo o que envolvia a produção agropecuária e os produtores chineses.
E o texto dessa central das cooperativas, conclui : “SMCs na China agora promovem o maior complexo funcional de marketing, com logística, um sistema de serviços cooperativos em todo país.”
China Coop, all China Federation of Supply and Marketing Cooperatives, pode ser visitada no site: www.chinacoop.gov.cn
Nós brasileiros somos muito centrados no ocidente. E vale lembrar que, na própria China no início de 1900, o conceito cooperativista foi introduzido por pioneiros que viam esse desenvolvimento na Europa e nos Estados Unidos. Mas, se tratando de cooperativismo, temos números grandiosos no Oriente e realidades que ensejam arranjos econômicos muito produtivos e grandiosos.
No Brasil, estamos na casa de cerca de 7 000 cooperativas no Sistema OCB, nos Estados Unidos quase 30 mil, 1 milhão de coops na Índia (sua legislação permite que a partir de 3 pessoas possa se formar uma cooperativa agro), e com outras fontes de informação obtemos dados da presença de 1 milhão de cooperativas totais chinesas.
As cooperativas chinesas são nominadas como: “Dragão chinês desta década“. Significam a grande força do país, já que 63% da população é da área rural e estão integradas ao cooperativismo agrícola.
O processo acelerado de cooperativismo na China vem desde 1950 com a saída para a alimentação da, até então, maior população do mundo, só ultrapassada recentemente pela Índia.
Para resumir tantas iniciativas chinesas, podemos identificar vários organismos na China que se associaram e se complementaram de maneira flexível nos últimos 20 anos para aumentar cada vez mais a produção, pois a meta é superar em mais de 10% até 2030, aquela que é hoje a maior agricultura em volume do mundo. Várias cooperativas realizam o que chamamos no Brasil de “intercooperação“, se unem para formar uma companhia ou um grupo agroindustrial e comercial.
Essa união de organizações cooperativadas tem como missão crescer a oferta de alimentos, mas sem a possibilidade de aumentar a área cultivada.
Cooperativas de abastecimento e comercialização negociam e chegam até os consumidores finais, são 35 mil coops com essa missão, e dentro do escopo de marketing, precisam fazer pesquisas junto aos clientes, identificar lacunas entre a produção e o consumo e promover e vender seus produtos tanto para o mercado interno, quanto externo. Uma visão sistêmica de cadeia produtiva. Agribusiness.
Surpreendente também constatar a existência de 58 mil cooperativas de crédito, que na grande transformação agrícola da China, em 1992, já tinham 330 mil sucursais e 490 mil funcionários. Conseguimos observar no Brasil, hoje, como o cooperativismo de crédito cresce e reinveste na própria região, o que dá chances a todo crescimento econômico e social.
Enfim, fica aqui uma provocação para o Brasil que tem na China o seu parceiro comercial número 1 hoje: o quanto poderíamos e deveríamos nos aproximar para uma potencial intercooperacao Brasil China Cooperando para o futuro?
E dentro dos dois primeiros ODS (Objetivos Desenvolvimento Sustentável da ONU), eliminar a pobreza e a fome, se não seria através da multiplicação das competentes cooperativas que, de verdade, poderíamos de fato realizar a “multiplicação dos pães“. Para todos. Para o mundo todo.
Por José Luiz Tejon, palestrante especialista em agronegócio e membro editorial da Revista MundoCoop
Por Adélia Franceschini, pesquisadora social e de marketing no Brasil
Coluna exclusiva publicada na Revista MundoCoop edição 117
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