Estamos vivendo novos tempos. Impulsionados pelo boom tecnológico dos últimos dois anos, hoje processos antigos ganharam novas configurações, de forma a atender a uma sociedade mais conectada e ávida por soluções mais simples e assertivas. Diante disso, ser líder tem sido um desafio. E mais do que nunca, liderar deixar de ser uma tarefa individual, para se tornar uma experiência coletiva.
Nesta nova fase, ouvir diferentes pontos de vista e análises são a chave para a tomada de decisão. Dar atenção ao feedback da equipe é essencial para que as melhores iniciativas sejam criadas, de forma a beneficiar todos.
Para entender melhor sobre o papel do feedback no desenvolvimento das lideranças, a MundoCoop conversou com exclusividade com a Sócia fundadora da Moving Forward, Regina Campilongo.
Confira a entrevista na íntegra!
MundoCoop: Qual a importância do processo de feedback para as lideranças? Na prática, como ele acontece?
Em um mundo complexo e o ambíguo, a melhor forma de sabermos se estamos indo pelo caminho certo, é por meio de fatos e não de nossas percepções. Muitas vezes, somos severamente críticos e a autoavaliação nos direciona para a desvalorização e a falta de reconhecimento. Em outras vezes, temos um olhar somente para o que fizemos bem e temos a certeza de sermos os melhores e perdemos a oportunidade de aprender algo novo. A disruptura acontece, pois nem sempre, aquilo em que acreditamos é realmente fato ou a única verdade e para transformarmos a nossa percepção em fato, há somente um caminho, o caminho da validação. E como podemos validar a nossa percepção? Fazendo perguntas: “Como estou indo? O que fiz bem feito? O que posso melhorar?”. Essas perguntas nos ajudam a ajustar a rota ou reforçar o que fizemos bem feito e tornar real, o que julgamos, achamos ou percebemos.
No dia a dia das organizações encontramos culturas baseadas em feedback e outras, onde o feedback é uma formalidade. Nas culturas baseadas no feedback, o feedback ocorre informalmente e está vinculado a um evento: a realização de uma tarefa, a condução de uma reunião, ao não cumprimento de uma meta e assim por diante. Já nas culturas onde o feedback não faz parte, não é incentivado, o que percebemos é a prática de um processo formal, que ocorre com data e horário marcados e normalmente em uma periodicidade trimestral ou semestral.
MundoCoop: De que forma o processo de feedback colabora com o desenvolvimento do profissional e da empresa onde ele está inserido? Quais os principais impactos observados a partir da inserção deste processo?
O processo de feedback contribui com o autodesenvolvimento, com o desenvolvimento das equipes, com o engajamento, com o comprometimento e principalmente contribui com o ingrediente primordial, a confiança compartilhada. É um processo que se retroalimenta, ou seja, quanto mais feedback ofereço, mais confiança sinto para recebe-lo e oferece-lo e quanto mais confiança sinto, mais feedback peço e doo. Uma boa dica para transformarmos as nossas organizações, em organizações conectadas, inovadoras, sustentáveis e com foco em resultado, é fomentarmos a cultura do feedback. É por meio dela, que eu posso construir a segurança psicológica de uma equipe e convidar os colaboradores a aceitarem correr riscos, comunicarem-se de forma aberta, fugir de falhas evitáveis e estipular altos padrões para a condução das tarefas diárias.
MundoCoop: Vivemos um momento onde a diversidade geracional tem se mostrado cada vez mais presente. Como introduzir a cultura do feedback nos diferentes perfis de liderança, sobretudo entre os líderes mais “tradicionais”?
Como diz Amy C. Edmondson em seu livro Organizações sem medo”: A neurociência tem demonstrado amplamente que o medo inibe o aprendizado e a cooperação, então, independente da geração a qual o líder pertence, sempre devemos oferecer um feedback que conecte o interlocutor, não gerando ameaça, tampouco insegurança. Uma boa forma de começar um feedback que conecta é se perguntando” Ë se fosse comigo?” e então utilizar a CNV (comunicação não violenta), para estrutura-lo.
Primeira dica: fale sobre o que observou e escutou e não sobre aquilo que ouviu falar ou julgou.
Segunda dica: utilize a primeira pessoa. Exemplo: Eu observei durante a reunião …..
Terceira dica: Valide como é isso para o interlocutor. Exemplo: Isso é um fato? Ou Como é isso do seu ponto de vista?
Quarta dica: Deixe claro o que espera e peça uma solução. Exemplo: Na próxima oportunidade, gostaria que desse oportunidade para todos falarem. Qual o plano para colocar as ações corretivas em prática?
MundoCoop: Estamos em uma fase de profunda transformação do mercado, impulsionados pela ascensão de diferentes tecnologias e pelos impactos da pandemia ainda presentes na sociedade. Neste “novo mundo” o feedback pode ser considerado uma ferramenta indispensável para os processos corporativos? Ignorar este tópico pode custar caro para as organizações?
As únicas características que diferenciam a máquina do humano são as nossas habilidades comportamentais que envolvem: o nosso pensamento, o nosso sentimento, o nosso desejo, as nossas ações e reações. Como as habilidades comportamentais são difíceis de medir por meio de números e registros, a forma mais sólida de sabermos se estamos indo por um caminho certo, é por meio do feedback. O feedback nos ajuda a gerar a agilidade emocional que segundo Susan David, significa ter uma grande quantidade de pensamento ou emoções preocupantes e ainda assim conseguir agir de uma forma que favoreça a maneira como você mais deseja viver.
Para lidarmos com este “novo mundo” e nos mantermos equilibrados e orientados à oportunidades, é importante lidarmos positivamente com os nossos pensamentos e emoções e sabermos quando eles são realmente fato e nos convidam a uma ação ou quando são gerados por nossa mente e não nos solicitam ajustes de rotas ou preocupações desgastantes.
MundoCoop: Como o feedback contribui para o fortalecimento da relação entre liderança e colaborador? A quais pontos devemos nos atentar ao desenvolver essa nova dinâmica?
O feedback, quando genuinamente sincero e respeitoso, alimenta a confiança e a confiança é a base das equipes de alta performance. É por meio da confiança que conseguimos compartilhar quando precisamos de ajuda, quando o outro não está cumprindo o papel dele e é por meio da confiança que o outro se conecta a mim, para oferecer aquilo que não estou vendo: agressividade ou passividade, gestão negativa do conflito, negociação baseada no conceito ganha-perde, todos processos de comunicação interpessoal, que muitas vezes passam despercebidos. Em vários processos de coaching, o coachee (que participa e define o objetivo do processo), verbaliza que só se conscientizou que deveria aprimorar uma habilidade comportamental, após ter recebido 2 ou 3 feedbacks similares.
MundoCoop: Como criar um ambiente favorável à adoção do feedback no dia a dia? Qual o papel da liderança nesta readaptação das relações profissionais?
Primeiramente o líder deve servir de exemplo e começar oferendo feedbacks, na sequencia, ele pode criar o hábito de pedir feedback em uma visão ampla, ou seja, inserido na cultura do nós: O que fizemos bem feito? O que podemos melhorar? Para então, solicitar feedback pessoal: Quais são as 3 coisas que devo continuar fazendo? Quais são as 3 coisas que devo começar a fazer? Quais são as 3 coisas que devo parar de fazer?
O líder é o exemplo, é a referência e ocupa o lugar onde vários colaboradores desejam chegar, então a parceria entre líder e equipe e a prática de times auto-organizáveis. com responsabilidades compartilhadas e autonomia, criam as atuais relações profissionais.
MundoCoop: Quais as perspectivas para esse tema no longo prazo? Por que as cooperativas devem se atentar a este tópico no presente?
Em 1965, Gordon Moore fez uma previsão que determinaria o ritmo da revolução digital moderna. A partir da observação cuidadosa de uma nova tendência, Moore concluiu que o poder da computação aumentaria tremendamente e que seu custo relativo cairia a um ritmo vertiginoso.”(Intel). Hoje sabemos que a mudança que já acontece em uma velocidade vertiginosa, amanhã acontecerá ainda mais rápida, isso, graças a invenção do microchip e do avanço tecnológico. Mais e mais empregos estão sendo substituídos por máquinas e os trabalhos mecânicos serão integralmente automatizados. O convite é para nos conectarmos com quem realmente somos e é aqui que o feedback se torna relevante. Se confiança e feedback caminham juntos e as equipes de alta performance são o caminho para as organizações do futuro, de qual forma podemos incluir em nossas organizações uma cultura baseada na transparência, na colaboração e no resultado sustentável?
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