A participação das mulheres nas cooperativas do Rio de Janeiro vem crescendo aos poucos. Segundo um relatório realizado pelo Sistema OCB/RJ de 2022, são 1300 cooperadas em todo o estado, atuando nos diferentes segmentos.
Quando o assunto é a liderança feminina nas cooperativas, elas vêm enfrentando os obstáculos e desafios que a posição apresenta.Uma das lideranças no movimento cooperativista do Rio de Janeiro é Esther Araújo, presidente da Cooperativa Educacional Escola Fribourg Ltda, e que atualmente também atua na diretoria do Sistema OCB/RJ. Quando assumiu a presidência tinha apenas 28 anos.
Em conversa com a MundoCoop, Araújo fala sobre os desafios da carreira e como o cooperativismo se conectou com a sua trajetória.
Como as mulheres estão em termos de lideranças nas cooperativas do Rio de Janeiro? E como foi para você chegar à liderança?
Acredito que as mulheres ainda possuem muitos espaços de liderança para ocupar em suas cooperativas. Nosso número ainda reflete o macro do nosso país. São inúmeros os motivos que nos levam a estes dados. A minha trajetória de liderança não difere muito das demais mulheres que conseguiram chegar aos cargos de liderança. Foram muitos “nãos” ao longo do meu caminho, desde a minha família, sócios cooperados até os clientes, que por vezes duvidavam da minha competência. Lembro-me do caso de uma cooperada que ao ver a movimentação para a eleição de uma chapa com meu nome indicado à presidência, nos procurou oferecendo os serviços do irmão, administrator, homem, com certa experiência. Também foram inúmeros os casos de clientes que tentavam me intimidar nas conversas durante as reuniões. Mas todos esses eventos se tornaram aprendizado e me fortaleceram.
Por que existem menos mulheres nas lideranças das cooperativas, e como isso ocorre nas cooperativas do Rio de Janeiro?
De forma geral, ainda há uma série de preconceitos ligados às mulheres em posição de liderança. Pensemos por exemplo em uma chapa formada apenas de homens, ela será facilmente aceita. Por outro lado, se apresentarmos uma chapa formada apenas de mulheres é muito provável, que esta informação cause estranheza. Volto a dizer, que o núcleo cooperativista reflete o macro. Ainda há poucas mulheres na política, nas lideranças das grandes empresas dos mais diversos setores. Aqui no Rio estamos buscando melhorar estes dados por meio das ações do Comitê de Gênero Dona Terezita, que promove, entre outras coisas, a discussão do tema. Penso que o fato de estarmos conversando sobre o assunto já demostra uma grande mudança. Precisamos motivar outras mulheres a aceitarem e buscarem a liderança.
Quais são os desafios das mulheres nas lideranças das cooperativas do RJ? Temos mais mulheres? O número tem crescido? Ao que se deve esse crescimento?
Ainda enfrentamos desafios, como a dupla ou tripla jornada que nos coloca sempre em uma situação de desvantagem. Apesar disso, nossas mulheres são resilientes, não desistem fácil. Ser mulher, mãe, esposa e ainda liderar uma cooperativa é desafiador, mas não é impossível. Precisamos romper as barreiras do autojulgamento e do preconceito. E isso acontece através da informação. Estamos avançando.
Quais histórias têm de superação e da melhora da autoestima das mulheres que alcançam as lideranças nas COOPs do RJ? De que maneira a liderança pode auxiliar na superação pessoal, profissional e na melhora da autoestima?
É gratificante ver como inspiramos outras mulheres, no início eu não tinha ideia. Hoje percebo que conhecer histórias de outras mulheres líderes me inspira e que eu também ocupo este lugar. Acredito que sou uma pessoa melhor depois da experiencia como líder, servir ao outro, pensar que nossas ações podem melhorar e influenciar a todo um time é transformador, nos torna mais empáticos.
Posso trazer como exemplo a história de fundação de nossa cooperativa, que como tantas outras nasceu da falência de uma empresa. A presidente que assumiu a cooperativa na época (Maria Alice Nicoliello) o fez por garra e coragem e conseguiu, mesmo sem saber sobre cooperativismo, gestão ou finanças. Ela liderou os primeiros 10 anos da cooperativa com brilhantismo. Mesmo já falecida, sua história e ensinamentos perduram e motivam muitos dentro e fora de nossa cooperativa, é sobre isso, sobre vencer rótulos e obstáculos, sobre acreditar.
Existe nas mulheres a síndrome do impostor que pode atrapalhar as suas lideranças nas coops do RJ? Percebeu isso em alguma das histórias? De que maneira isso pode mudar?
A síndrome do impostor existe, não só nas mulheres. Mas trazendo para o nosso caso específico acredito que, o fato de não termos muitas referências de mulheres líderes podem ajudar a desenvolver esse sentimento de incapacidade e de não pertencimento. Trazendo para o concreto, nos grandes eventos das cooperativas, as mulheres ainda são minoria e isso pode nos trazer a dúvida “o que eu estou fazendo aqui?” Essa situação já está em mudança, pois estamos conversando sobre isso.
O que seria o alto desempenho das mulheres nas lideranças das cooperativas e de que maneira ele desafia as mulheres? Conte um pouco da sua experiência também.
Alto desempenho é conseguir entregar os melhores resultados para a cooperativa sem comprometer a saúde e a vida pessoal. Saber se colocar na própria agenda, sem culpa, é o caminho para alcançar os melhores resultados. Não há sucesso profissional sem sucesso pessoal. Há uma cobrança e uma autocobrança muito grande entre nós.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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