A Resolução Conjunta nº 8 do Banco Central, publicada no ano passado em parceria com o Conselho Monetário Nacional (CMN), entrou em vigor no segundo semestre de 2024. A regulamentação estabelece que os bancos devem implementar medidas para a organização e o planejamento do orçamento pessoal e familiar dos consumidores, com o objetivo de prevenir a inadimplência e o superendividamento. Além disso, as instituições financeiras são obrigadas a oferecer ferramentas que incentivem a formação de poupança e promovam a resiliência financeira.
Diversos bancos e cooperativas já iniciaram programas de educação financeira, que incluem plataformas digitais, cursos online, aplicativos e políticas específicas para diferentes perfis de clientes. A medida é vista como uma forma de melhorar a imagem dos bancos e democratizar o acesso à educação financeira.
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em junho de 2023, 78,5% das famílias brasileiras estavam endividadas, o maior índice desde 2010. Esse dado evidencia a gravidade do problema, que não é apenas econômico, mas também social, impactando diretamente a saúde mental e o bem-estar das famílias brasileiras.
Outro foco da resolução é o desenvolvimento de ferramentas que ajudem os clientes a formar poupança e a construir resiliência financeira, ou seja, a capacidade de se recuperar de dificuldades financeiras temporárias. Essas medidas buscam prevenir não apenas a inadimplência, mas também o superendividamento — uma situação mais crítica, em que a pessoa não consegue suprir necessidades básicas, como alimentação e moradia, por falta de recursos.
Para Marlon Freitas, CMO da Agilize Contabilidade, que atende empresas em todos os estados do Brasil, a decisão do Banco Central é acertada, pois a educação é fundamental para transformar a realidade tanto do indivíduo quanto da sociedade. “A educação não só transforma o ser humano do ponto de vista profissional e material, mas também no aspecto do autoconhecimento, que está intimamente ligado à educação. A origem da palavra ‘educação’ vem do latim ‘educere’, que significa ‘tirar de dentro’. A verdadeira educação é aquela que extrai o potencial de cada ser humano”, explica Marlon.
Em relação aos principais tópicos que os bancos devem abordar na educação financeira de seus clientes, Marlon Freitas destaca a importância de entender o fluxo de caixa, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. “É essencial ter controle sobre os gastos. No caso de uma empresa, é preciso cuidado com as despesas, os investimentos e a alocação de recursos. Conceitos básicos, como CAPEX e DRE, são ferramentas indispensáveis para avaliar a saúde financeira da empresa. O empreendedor deve saber usar esses documentos como aliados na tomada de decisões”, afirma.
Marlon Freitas também enfatiza a importância da educação sobre a obtenção de crédito. “É necessário considerar toda a matemática financeira e fazer perguntas como: quanto tempo eu tenho para pagar? Existe período de carência? Quais são as taxas de juros? Isso funcionará a longo prazo? Essas questões são fundamentais e devem ser ensinadas e transmitidas”, ressalta.
Para o setor varejista, Marlon alerta sobre a importância de fazer boas compras e controlar o estoque. “Muitas vezes, as pessoas perdem o controle nesses aspectos do dia a dia”, observa. O CMO conclui que, apesar da relevância da iniciativa, trata-se de um processo de longo prazo. “A educação é um investimento que não traz resultados imediatos, mas é o melhor caminho a seguir”, finaliza.
Cooperativas levam educação financeira e impacto social
A educação financeira segue como um dos pilares do cooperativismo de crédito, e o setor tem se empenhado em criar soluções que acompanhem o avanço do comportamento financeiro do brasileiro. De programas especiais em escolas, a ações para os adultos nas comunidades onde as cooperativas estão presentes, as instituições do setor são um dos pilares dessa agenda defendida pelo Banco Central.
Neste ano, o caráter social do setor ficou ainda mais evidente, com as ações de educação financeira sendo direcionadas para o auxílio das vítimas do desastre climático no Rio Grande do Sul. A 11ª Semana Nacional de Educação Financeira (Semana ENEF), realizada de 13 a 19 de maio pelo Fórum Brasileiro de Educação Financeira (FBEF), teve como foco a prevenção a golpes e fraudes. Porém diante da urgência de ações imediatas, o tema inicial foi ampliado e passou a ser “Proteção Financeira e Solidariedade aos Irmãos do Rio Grande do Sul”.
A programação da 11ª Semana ENEF incluiu eventos presenciais e online, organizados por diferentes instituições – com ampla participação das cooperativas de crédito – para informar e alertar os consumidores sobre riscos de segurança em operações financeiras digitais, modalidade amplamente utilizada pelos brasileiros. Levantamento do Banco Central do Brasil divulgado no fim de 2023 mostra, por exemplo, que 91,6% dos brasileiros conhecem o Pix e 64% utilizam esse meio de pagamento.
“As finanças digitais trouxeram muitos benefícios, como praticidade e agilidade nas transações financeiras, maior controle e transparência nas finanças pessoais, mais facilidade para tomar decisões e mais opções de serviços. Porém, com o avanço muito rápido de ferramentas tecnológicas, também surgiram muitas formas de fraudes financeiras, como whatsapp clonado, boletos digitais falsos, roubo de dados cibernéticos, golpes em compras online, dentre outros. Por isso, a Semana ENEF em 2024 teve foco em como o cidadão pode e deve se prevenir contra fraudes”, explica a presidente do FBEF, Nathalie Vidual.
Dentro desses conceitos e diante da situação de calamidade no Rio Grande do Sul e da onda de solidariedade que se formou pelo país, o Sistema Ailos desenvolveu uma campanha para destacar os cuidados necessários na hora de fazer doações para ajudar a população atingida pelas enchentes.
Ano após ano, as cooperativas financeiras participam ativamente da programação da Semana ENEF, colocando em prática os princípios cooperativistas de fomento à educação e interesse pela comunidade.
Para esta edição, a Cresol desenvolveu iniciativas em duas frentes: uma com palestras presenciais e virtuais, consultorias e ações em escolas, universidades e empreendimentos de cooperados durante a semana; e outra com a divulgação de materiais sobre proteção financeira para dar continuidade à formação sobre o tema mesmo após o fim do evento.
Na página cresol.com.br/seguranca, os cooperados e o público em geral têm acesso a conteúdos sobre segurança de contas digitais, lista dos principais golpes e fraudes e como se proteger de cada um, estratégias de proteção de dados pessoais, entre outros.
O Sicredi também mantém um site de fomento à educação financeira como parte das ações para a Semana ENEF. A página disponibiliza, de forma gratuita, cursos, vídeos, e-books e outros conteúdos educacionais, além de um diagnóstico de saúde financeira para os cooperados.
O Sicoob recorreu a um velho ditado para chamar a atenção sobre os riscos de golpes e fraudes nas finanças digitais: “Quem avisa, amigo é”. Com essa chamada, a campanha da instituição financeira cooperativista alerta para a importância de ser cauteloso e não prosseguir com a compra ou operação financeira em caso de dúvidas sobre a legitimidade de uma oferta ou pedido.
O Sicoob também tem um site completo com informações sobre os golpes e fraudes mais comuns no Brasil – como falsos empréstimos, QR Codes falsos e roubo de dados por mensagens e e-mails – e dicas sobre como se proteger de todos eles.
Apesar de ações do tema ganharem evidência durante a Semana de Educação Financeira, os programas seguem ativos ao longo de todo o ano, e podem ser acessados facilmente.
Fonte: Banco Central e Confebras, com adaptação da MundoCoop