O diálogo entre o cooperativismo e a imprensa tem se mostrado, cada vez mais, essencial para fortalecer a compreensão sobre o papel das cooperativas no desenvolvimento do país. E, foi com essa proposta, que o 10º Encontro de Jornalistas e Formadores de Opinião do Sicredi reuniu profissionais de todo o Brasil, entre os dias 7 e 9 de outubro, nas cidades de Porto Alegre, Nova Petrópolis e Gramado (RS).
Realizado desde 2015, o evento se consolidou como um espaço de troca entre o cooperativismo e a imprensa, a fim de reunir comunicadores interessados em compreender as transformações e o impacto socioeconômico do modelo no Brasil.
O encontro buscou mais do que apresentar cases de sucesso e fortaleceu o diálogo entre o cooperativismo e o jornalismo, para promover reflexões sobre como a comunicação pode potencializar a presença das cooperativas na sociedade. Além do cunho estratégico, o evento também reforçou o papel da informação de qualidade como aliada estratégica na difusão de práticas sustentáveis, democráticas e comunitárias.
A abertura da programação aconteceu no Centro Administrativo Sicredi (CAS), em Porto Alegre, e contou com a presença do diretor-presidente da instituição, César Bochi, que destacou a relevância de aproximar a imprensa dos princípios que sustentam o movimento. “O poder do cooperativismo está nas conexões”, afirmou.
Propósito e desenvolvimento
Em sua apresentação, César Bochi apresentou o panorama atual do Sistema Sicredi e ressaltou o crescimento e a presença das cooperativas de crédito em todo o país. Hoje, são 102 cooperativas filiadas, 5 centrais e mais de 9,5 milhões de associados, com uma estrutura que soma R$ 435 bilhões em ativos totais e R$ 299 bilhões em depósitos. O dirigente destacou ainda a importância da atuação local, lembrando que o Sicredi é a única instituição financeira presente em mais de 200 municípios brasileiros.
Segundo Bochi, o cooperativismo de crédito carrega uma lógica de inclusão produtiva e desenvolvimento sustentável. Um estudo da Fipe apontou que, nos municípios onde há cooperativas de crédito, o PIB per capita cresce 10%, os empregos formais aumentam 15,1% e os empreendimentos locais 15,6%. Para ele, esses números traduzem o impacto concreto da presença cooperativa. “As cooperativas nasceram do agro, mas hoje estão em todos os segmentos da economia, fortalecendo pessoas e comunidades”, destacou.


Panorama nacional
A segunda apresentação do dia foi conduzida por Clara Maffia, gerente de Relações Institucionais da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que apresentou um panorama atualizado do setor e suas perspectivas diante do Ano Internacional das Cooperativas, proclamado pela ONU para 2025.
Com base em dados da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Clara destacou que, se as 300 maiores cooperativas do mundo formassem um país, ele seria a 9ª maior economia do planeta, com mais de 1 bilhão de cooperados e 280 milhões de empregos diretos. O dado justifica a dimensão e reflete a amplitude e o dinamismo de um modelo de negócios que alia competitividade e impacto social do modelo de negócio.
Ainda, a executiva reforçou o papel do cooperativismo brasileiro, presente em 90% dos municípios e responsável por R$ 757,9 bilhões de faturamento, além de 578 mil empregos diretos. Ela também lembrou que o setor será um dos protagonistas na COP30, com participação em painéis sobre segurança alimentar, valorização de comunidades, transição energética, bioeconomia e mitigação de riscos climáticos. Para ela, a participação das cooperativas é de extrema necessidade haja vista a capacidade do setor de traduzir compromissos globais em ações locais tangíveis, conectando discussões climáticas à realidade produtiva nacional.

“O Ano Internacional é uma oportunidade estratégica para ampliar a conscientização e consolidar as cooperativas como protagonistas no cenário global” – CLARA MAFFIA
Durante a sessão de perguntas, Clara comentou os desafios para ampliar a presença das cooperativas em regiões distantes dos grandes centros. Segundo ela, o fortalecimento do movimento passa pela criação de políticas públicas e parcerias com diferentes setores, bem como pela inserção da educação cooperativista na formação escolar. “O cooperativismo é um movimento que precisa nascer da base”, ressaltou.
Educação que transforma
O primeiro dia de imersão terminou com a visita ao Espaço de Educação Financeira do CAS, desenvolvido pela Fundação Sicredi em parceria com a Mauricio de Sousa Produções. Inaugurado em 2023, o local é o único espaço gratuito no Brasil dedicado exclusivamente à educação financeira infantil e já recebeu mais de 10 mil visitantes. A iniciativa busca incentivar o protagonismo das crianças, ensinando conceitos como poupança, cooperação e consumo consciente de forma lúdica e interativa.
O ambiente temático conta com seis estações de aprendizado, entre elas “De onde vem o dinheiro?”, “Vila da Mônica”, “Mercado do Limoeiro” e “Árvore dos Sonhos”. Nessas atividades, as crianças podem simular o pagamento de contas, montar listas de compras e compreender o valor das escolhas financeiras cotidianas. A proposta, segundo a Fundação, é aproximar as novas gerações do propósito cooperativista desde cedo, construindo uma cultura de responsabilidade e autonomia.


Além dessa iniciativa, Bochi também destacou o compromisso do Sicredi com o desenvolvimento humano e o bem-estar financeiro, que inclui investimentos de R$ 435 milhões em ações sociais e programas de educação financeira conduzidos pela Fundação. “Mais do que resultados, buscamos coerência entre discurso e prática. O reconhecimento que recebemos é a prova de que nossas ações estão alinhadas ao propósito de gerar prosperidade compartilhada”, defendeu.
Para Cristiane Amaral, gerente de Educação Financeira e Liderança Cooperativista da Fundação Sicredi, a transformação começa pela conscientização. “A educação financeira é o primeiro passo para transformar realidades e construir uma sociedade mais próspera”, disse.
Inovação com raízes e sustentabilidade
O segundo dia de atividades teve início com a visita à fazenda Dü Organics, em Nova Petrópolis, onde o cooperado Lucas Kehl Bauer, de 25 anos, apresentou o modelo de produção sustentável que transformou a serragem da antiga fábrica de móveis da família em insumo para o cultivo de cogumelos orgânicos. A iniciativa surgiu da necessidade de dar novo destino à madeira da uva japonesa, espécie invasora que, ao ser reutilizada, passou a gerar valor ambiental e econômico.
Com produção diária de cerca de 20 quilos de cogumelos, entre eles shiitake, shimeji e juba de leão, a Dü Organics fornece produtos para restaurantes da Serra Gaúcha e de Porto Alegre, além de comercializar uma linha própria de risotos desidratados.



O projeto reflete o potencial do cooperativismo em estimular a economia circular e o empreendedorismo sustentável. “Nosso objetivo é crescer sem agredir o ambiente, mostrando que é possível transformar resíduos em oportunidades”, afirmou Lucas Kehl.
História viva do cooperativismo
Ainda em Nova Petrópolis, o encontro levou o grupo a Praça Padre Theodor Amstad, a Casa Cooperativa e a Igreja São Lourenço Mártir, locais que preservam e contam a história do cooperativismo no Brasil. O roteiro, localizado na comunidade de Linha Imperial, marca o ponto de fundação da primeira cooperativa de crédito da América Latina, criada por Padre Theodor Amstad em 1902. Ao lado da igreja, encontra-se o túmulo do padre suíço, símbolo da fé e da solidariedade que inspiraram o modelo cooperativo.
Além de ter fundado a Sicredi Pioneira RS, Amstad foi responsável por estimular a criação de outras 36 cooperativas de crédito no Rio Grande do Sul e uma em Santa Catarina, atuando também na fundação de escolas, hospitais e obras sociais. O ciclo de visitas reforçou o elo entre história e futuro, mostrando como o legado do padre ainda ecoa na expansão das cooperativas no país. “O cooperativismo é, acima de tudo, um projeto de comunidade”, destacou um dos mediadores da visita.



Prosperidade compartilhada
O último dia do encontro foi marcado pela visita à Sicredi Pioneira, a cooperativa mais antiga do país. Com 300 mil associados, R$ 10 bilhões em depósitos e R$ 5,9 bilhões em crédito, a instituição mantém uma vocação para o desenvolvimento regional e para o fortalecimento das pequenas propriedades rurais. O presidente, Thiago Schmidt, destacou, durante sua plestra, a importância de preparar novas gerações para a sucessão no campo e de manter o ciclo de prosperidade entre cooperativa e comunidade. “Quanto mais prósperas forem as pessoas de uma determinada região, mais próspera será a cooperativa. Esse pensamento deveria valer também para o serviço público: não existe uma prefeitura rica se o município é pobre”, afirmou Schmidt.
Ao fim da imersão, o sentimento compartilhado foi o de que o cooperativismo ultrapassa o aspecto econômico e destaca como um modo de construir prosperidade a partir do vínculo comunitário.
Por João Victor, Redação MundoCoop
*O jornalista viajou a convite do Sicredi
 
			 
                                 
			






 
							





