O 8 de março não é só mais um dia no calendário: é um lembrete poderoso da luta das mulheres por direitos iguais e por seu espaço na sociedade. Esse dia foi escolhido pela ONU como Dia Internacional da Mulher para reconhecer os avanços que conquistados e para reforçar a importância de seguir batalhando por uma realidade onde as elas tenham autonomia e possam ocupar todos os espaços, sem barreiras.
A data tem raízes em acontecimentos marcantes do passado, como a greve das operárias de uma fábrica têxtil em Nova York, em 1908, e o trágico incêndio que aconteceu no mesmo local, matando 146 pessoas, a maioria mulheres imigrantes. Esses eventos expuseram as condições desumanas de trabalho e deram início a um movimento que buscava reconhecer a força e os direitos das mulheres. A data foi oficializada formalmente pela ONU em 1975.
Contudo, a data foi oficialmente reconhecida pela ONU em 1975, com o intuito de reforçar a importância dos direitos femininos e da igualdade de gênero.
No Brasil, a luta das mulheres passou por marcos significativos e segue em constante evolução. Desde a conquista do direito ao voto em 1932 até a aprovação da Lei Maria da Penha em 2006, o país tem avançado na criação de políticas públicas direcionadas à proteção e à equidade de gênero. Entretanto, alguns desafios ainda persistem, como a disparidade salarial entre homens e mulheres, a falta de representatividade feminina em cargos de liderança e a violência de gênero, que permanecem presentes no cotidiano das mulheres brasileiras.
Movimentos sociais e iniciativas legislativas são e têm sido fundamentais para assegurar direitos e ampliar a participação feminina na sociedade. O Decreto nº 11.795/2023, que assegura a igualdade salarial, a Lei do Feminicídio e a Lei de Cotas para Mulheres na Política (9.504/97) exemplificam algumas formas de como garantir um espaço seguro e respeitoso às mulheres.
FORÇA NO COOPERATIVISMO
Dados apresentados no Anuário Coop 2024, estudo liderado pela Organização das Cooperativas Brasileiras, expôs uma crescente contínua sobre a participação de mulheres no cooperativismo e, especialmente, em cargos de liderança. A pesquisa apontou que cooperativas lideradas por mulheres estão se tornado uma realidade mais comum, chegando a 23% das organizações do Brasil.
O crescimento da participação feminina no movimento é iminente, devido à as diversas iniciativas de inclusão direcionadas à adesão de mulheres em diversos setores de atuação. Para a MundoCoop, Renata Camargo, gerente de desenvolvimento do Transamérica Expo Center e responsável pela gestão do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA), as perspectivas para a participação feminina nos processos das cooperativas são entusiasmantes, embora haja muitos desafios a serem superados. “Vejo um futuro em que as mulheres ocuparão ainda mais espaço, influenciando não apenas as operações no campo, mas também políticas públicas e estratégias de negócios. No entanto, o cenário exige resiliência e uma postura determinada para superar barreiras e abrir caminhos para outras mulheres”, destaca.
PRESENÇA NOS NEGÓCIOS
A pesquisa recente “Sem atalhos: o caminho para a representatividade da mulher no topo e o valor para as empresas”, realizada pela Bain & Company, investigou a presença feminina no mercado de trabalho e os fatores que impactam a ascensão das mulheres a cargos de liderança.
De acordo com a análise, que abrange as 250 maiores empresas do país, o número de mulheres CEOs cresceu de 3% para 6% entre 2019 e 2024. O número de executivas aumentou de 23% para 34%, e o de conselheiras passou de 5% para 10%. No entanto, as mulheres ainda perdem representatividade à medida que avançam para a média gerência.
Luiza Mattos, sócia da Bain responsável pelo estudo , destaca os avanços nas últimas décadas, mas reforça que, apesar da evolução, a equidade de gênero ainda está longe de ser alcançada. “Precisamos ressaltar que houve uma evolução e a representatividade da mulher em cargos de liderança virtualmente dobrou nos últimos cinco anos, mas ainda está longe da equidade”, afirmou.
IMPORTÂNCIA NA PRÁTICA
Outro dado relevante apontado no estudo é o fato de que as mulheres tendem a ser mais orientadas à ação, com foco na geração de valor e na simplificação de processos dentro das empresas.
Com isso, a implementação de ações concretas voltadas à diversidade favorece a equidade de gênero e, adicionalmente, fortalece a competitividade, demonstrando que a inclusão é um motor essencial para o sucesso organizacional sustentável.
Há também a percepção de que empresas com liderança diversa são mais inovadoras e abertas a novas soluções. Além disso, elas são, em média, 1,8 vezes mais identificadas como companhias mais orientadas a geração de valor, a incorporação da voz do cliente nas decisões e a atração de talentos.
No cooperativismo, esse contexto é uma realidade e atinge diversos setores do país. No agro, mulheres cooperativistas conquistam campo e inauguram novo momento no setor, triplicando seu protagonismo em cooperativas referência em sustentabilidade.
No setor financeiro, a participação das mulheres nos cargos de diretoras, presidentes e conselheiras nas cooperativas tem crescido desde 2016. Hoje, as cooperativas como as de crédito, que sempre tiveram uma presença maior de homens, tem mais de 2500 mulheres nas ocupações de gestoras e conselheiras, chegando a alcançar mais de 25%.
Essa constatação foi observada por Heloisa Helena Lopes, Vice-presidente do Conselho de administração da Sicredi Pioneira em conversa com à MundoCoop. “Apesar do número de mulheres que têm ensino superior ser maior no mercado de trabalho, os cargos de posição executiva de alta gestão e conselhos de administração são ocupados, em sua maioria, por homens. A diversidade é importante para os negócios, visto que uma maior diversidade na força de trabalho aumenta a eficiência organizacional e, consequentemente a produtividade, permitindo que a empresa tenha acesso a novos segmentos de mercado, gerando aumento da lucratividade”, explica Heloísa.
Buscando transformar esse cenário ainda existente, cooperativas se destacam no desenvolvimento de políticas referentes à diversidade e espaço para que elas atuem de forma mais efetiva. Como é o caso do Sicoob Unicentro Br, que possui mais de 50% de sua força de trabalho constituída por mulheres, são 537 em um total de 987 colaboradores. Dentre esses números, ressalta-se a ocupação de 47 cargos de gerência ou de alto escalão executivo liderados pelo gênero feminino.
Ainda, em 2024, a Cresol lançou o Programa Elas Lideram, que oferece desenvolvimento e qualificação nas mais diversas instâncias de atuação. Atualmente, o quadro de colaboradores da Cresol Sicoper, por exemplo, é composto mais de 60% por mulheres, que contribuem para o crescimento sistêmico ao ocuparem cargos de gestão intermediária, alta gestão e também técnicos.
Representando outros ramos cooperativistas, a Unimed Campo Grande apresenta a maior parte de suas vagas ocupadas por mulheres, inclusive as de lideranças. A cooperativa médica possui em seu quadro 71% de mulheres em relação ao total de colaboradores, enquanto o Pacto Global da ONU estabelece 33% até 2025.
E as histórias se multiplicam. Roberta de Souza Caldas, que atua como liderança há 17 anos e Presidente da Cooperativa Transpocred, em conversa exclusiva, fez questão de reforçar o impacto da presença feminina no cooperativismo e, em especial, no dia a dia das cooperativas. “Acredito que o reflexo das mulheres na liderança, é resultado da quantidade de cooperadas que existe dentro do nosso modelo. Se pegarmos a base de cooperados, a predominância ainda é de homens, mas quando pensamos nas equipes, elas estão sendo formadas e é cada vez maior o número de mulheres nelas, uma fortalece a outra. Elas estão fazendo parte, não só da liderança, do corpo de trabalho, mas também apoiando, sendo cooperadas e divulgando mais o nosso modelo de negócio”, finaliza.
Por Redação MundoCoop