A presença de produtos brasileiros ao redor do mundo tem se tornado cada vez mais comum. Os mais de US$ 337 bilhões arrecadados com exportações em 2024 expressam a relevância do setor para o mercado internacional.
Neste cenário de ampliação, as cooperativas têm acompanhado o segmento e conquistado protagonismo. Dados apresentados pelo Sistema OCB e Apex Brasil, mostram que, em 2023, as cooperativas arrecadaram mais de US$ 8 bilhões em exportações, o que registrou um aumento de 13% no volume em relação ao ano anterior.
O agro e o comércio internacional
Em 2024, o agro brasileiro respondeu por 48% de todos os produtos enviados ao exterior, com destaque para soja, carnes e café, fortalecendo a relação com países dos 5 continentes. Esse recorte evidencia não só o crescimento do setor nacional, mas também um processo de expansão das cooperativas do ramo.
Nas modalidades de frutas, lácteos e derivados, cooperativas como a Castrolanda e Coopercitrus se destacam pelo diálogo com países como Venezuela e Estados Unidos, aos quais fornecem leite em pó, queijos e sucos.
As perspectivas para o cenário de exportação cooperativista são positivas. Os US$ 8 bilhões arrecadados em 2023 com as exportações de cooperativas representam um crescimento de mais de 8,1%, visto os US$ 7,4 bilhões conquistados no ano anterior.
Na cafeicultura, parte da ascensão do segmento se dá pelo fato do aumento do consumo entre a população mais jovem. Os efeitos dessa popularização podem ser compreendidos pelo crescimento do número de exportações registradas no ano de 2024, que vendeu mais de 50 milhões de sacas de 60 kg pela primeira vez na história.
Em alinhamento ao desenvolvimento desta seção, a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer) também registrou aumentos no volume de produção e de comercialização do material produzido. No último ano, a cooperativa vendeu mais de 550 mil sacas de 60kgs para o mercado externo, alcançando aumento de 41% nas vendas de café.
Além disso, a Expocacer reforçou a sua presença internacional com a inauguração de um novo centro de distribuições na Inglaterra. A instituição, que já havia sido a primeira cooperativa a inaugurar um hub internacional, com uma instalação nos Estados Unidos, ampliou sua presença devido à alta demanda do cenário global.
Novas perspectivas para o cooperativismo brasileiro

O crescimento internacional do cooperativismo brasileiro se deve, majoritariamente, a ações bilaterais responsáveis por conectar produtores a mercados promissores. Missões comerciais e acordos de cooperação técnica têm sido fundamentais para o estabelecimento de relações duradouras.
Um exemplo dessa estratégia de internacionalização é a participação da cooperativa capixaba Cafesul na Biofach 2025, principal feira mundial de alimentos orgânicos, realizada na Alemanha. Essa iniciativa ilustra como as ações bilaterais possuem a habilidade de viabilizar oportunidades concretas para agregar valor e expandir negócios.
A participação da cooperativa cafeeira no evento representou um passo decisivo na internacionalização da Cafesul, como destacou José Claudio de Oliveira Carvalho, diretor e vice-presidente. “Para nós é muito importante participar da feira. A Biofach será uma vitrine para os nossos cafés em nível internacional. Uma oportunidade de mostrar e comercializar o nosso produto com mais compradores da Europa. Se temos mais clientes comprando o café dos nossos cooperados, isso significa cada vez mais recursos para nossa região”, expressou.
Importância da representação legal e do respaldo técnico
Um marco recente dos esforços para representação institucional foi a agenda da OCB/GO na Índia, realizada para ampliar o rol de conhecimento sobre as tecnologias aplicadas em instituições agrícolas e do setor de crédito no país asiático. Essas ações demonstram como a diplomacia econômica e a colaboração entre entidades podem abrir caminho para o cooperativismo em mercados, até então, considerados distantes.

A ampliação da participação brasileira no mercado exterior passa, porém, por desafios burocráticos. Para isso, o envolvimento de entidades representativas nos processos de fortalecimento da relação comercial é indispensável.
A presença da OCB/GO na Missão Índia, em fevereiro deste ano, pode ser destacada por demonstrar como a articulação público-privada possui a habilidade de criar ‘pontes comerciais’. A viagem realizada por meio da comitiva de dirigentes de cooperativas goianas contribuiu para o entendimento de representantes do agronegócio brasileiro sobre biometano e nanofertilizantes, que reduzem o impacto ambiental e aumentam a eficiência na agricultura.
Além disso, a comitiva apresentou ao ministro indiano da Pecuária um pouco do trabalho das cooperativas goianas no agronegócio, especialmente no setor leiteiro.
Para a MundoCoop, Luís Alberto Pereira, presidente da OCB/GO, explicou que iniciativas como essa são positivas para ambos e garantem respaldo perante os representantes internacionais. “Podemos traçar negociações e conversas paralelas com os acordos entre o governo estadual e o país visitado. No caso da Índia, por exemplo, durante a missão, foi assinado pelo Governo de Goiás um memorando de entendimento para a instalação de uma fábrica de biometano no estado – justamente uma das pautas que nos interessam. Por outro lado, quando o governo estadual viaja acompanhado de representantes de empresas e cooperativas, apresenta de forma mais impactante a força do setor produtivo local”, comentou.
Desafios para a internacionalização
Embora o cooperativismo esteja ganhando protagonismo no mercado internacional, o processo de expansão global ainda enfrenta obstáculos complexos. Dentre eles, destacam-se três desafios principais:
- Questões cambiais e tarifárias: As tarifas desproporcionais impostas pelo governo dos Estados Unidos e as exigências fitossanitárias da União Europeia tem gerado certa insegurança em relação à viabilidade das exportações;
- Custos para certificação e logística: O acesso à mercados internacionais demanda a obtenção de certificações internacionais e infraestrutura logística e tecnológica. Desse modo, a participação de pequenos produtores torna-se economicamente inviável sem ferramentas de subsídio para expansão das instituições;
- Competitividade justa: A diferença de poder aquisitivo limita o potencial de muitas cooperativas regionais que, apesar de terem produtos competitivos, carecem de respaldo para alcançar novos clientes.

A Apex Brasil tem aberto caminhos de cooperativas para o comércio exterior por meio do programa Agro.BR, iniciativa responsável pelo treinamento e inserção da Cooperativa de Serviços Sustentáveis da Bahia (Coopessba) no cenário europeu. Por meio da consultoria, assessoria de marketing e serviços de tradução, a cooperativa concretizou o intercâmbio da instituição, possibilitando, assim, a conquista de mercados alemães, espanhóis e portugueses.
Para Carine Assunção, coordenadora da Coopessba, o apoio foi determinante para a abertura de possibilidades para a cooperativa. “O Agro.BR entrou em um momento crucial. Profissionalizando a cooperativa para alcançarmos o mercado internacional”, afirmou.
A nível governamental, dados apresentados pelo BNDES expõem que o banco tem oferecido linhas de crédito específicas e com taxas diferenciadas para cooperativas, financiando até 80% dos custos de adequação às normas internacionais.
Projeções para o cooperativismo brasileiro no mercado internacional
Somadas aos resultados obtidos nos últimos anos, as avaliações sobre a rentabilidade dos produtos brasileiros destacam o potencial do país nas questões de volume de produção e diversidade material.
Além do agronegócio, o cooperativismo brasileiro cresce em áreas ainda de menor expressão, como a produção de economia verde e produtos novos, como os nanofertilizantes produzidos pela cooperativa indiana IFFCO em Campina Grande do Sul, no Paraná.
A preocupação global com a saúde do meio ambiente tem conquistado mais espaços nas discussões presentes no campo e abre portas para a criação de novos setores no cooperativismo. Nesse sentido, a economia criativa emerge como uma alternativa de investimento e como mais uma solução para fortalecimento do modelo de negócio direcionado também para o desenvolvimento econômico regional, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Por João Victor – Redação MundoCoop