Apesar dos avanços na representatividade feminina em cargos de liderança nos últimos anos, o caminho para a equidade de gênero nas organizações ainda é longo. Segundo o relatório “Women in the Workplace 2024″1, elaborado pela McKinsey & Company em parceria com a LeanIn.Org, no ritmo atual, serão necessários 22 anos para que mulheres brancas alcancem paridade nos cargos de liderança corporativa nos Estados Unidos — e mais do que o dobro desse tempo para mulheres negras e latinas.
No Brasil, um dado que chama atenção é a persistente desigualdade salarial entre homens e mulheres, especialmente nos cargos de liderança. Segundo o 1.º Relatório de Transparência Salarial, publicado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, as mulheres brasileiras recebiam, em média, 19,4% a menos que os homens. Essa diferença se amplia nos cargos de direção, onde os salários pagos a mulheres chegam a ser até 25,2% inferiores aos dos colegas homens – evidenciando o quanto a equidade de gênero ainda está distante da realidade corporativa no país2.
Um dos principais obstáculos identificados é o chamado “degrau quebrado” (broken rung), que se refere à dificuldade das mulheres em obter a primeira promoção para cargos de gerência. Em 2024, para cada 100 homens promovidos a gerente, apenas 81 mulheres receberam a mesma promoção, número que permanece praticamente estagnado desde 20181. Esse gargalo inicial compromete toda a cadeia de progressão profissional feminina, resultando em menor representatividade nos níveis mais altos das organizações.
Nesse contexto, programas de mentoria estruturada têm se mostrado ferramentas eficazes para impulsionar a carreira de mulheres e promover ambientes corporativos mais inclusivos. Ao conectar profissionais em diferentes estágios da carreira com líderes experientes, a mentoria oferece orientação estratégica, desenvolvimento de habilidades e ampliação de redes de relacionamento, elementos essenciais para o avanço profissional.
Um exemplo bem-sucedido dessa abordagem é o programa WIN (Women’s Impact Network), da Biogen, que atua globalmente com o objetivo de ampliar a presença feminina em posições de liderança e fortalecer uma cultura mais equitativa em toda a organização. Desde sua criação, o WIN tem promovido mentorias, eventos de conscientização e ações de apoio ao desenvolvimento profissional de mulheres em diferentes países onde a Biogen está presente.
No Brasil, o programa impactou, logo em seu primeiro ano, mais de 60% das colaboradoras da empresa, com 14 mulheres selecionadas para o ciclo de mentoria — o que representa cerca de um terço do quadro feminino com potencial de liderança. Foram mais de 100 horas dedicadas ao desenvolvimento dessas profissionais, por meio de mentorias individuais, trocas em grupo e encontros inspiracionais com executivas da empresa. Como resultado, 20% das mentoradas foram promovidas a posições de liderança em menos de um ano, em áreas como acesso, operações e recursos humanos.
Além do impacto direto na carreira, o WIN também promoveu eventos internos sobre equidade de gênero e estimulou a criação de uma rede de apoio entre mulheres da Biogen, fortalecendo a cultura de inclusão e diversidade em todos os níveis da companhia.
Para que iniciativas como o WIN sejam eficazes, é fundamental que estejam alinhadas aos objetivos estratégicos da empresa e contem com o apoio da alta liderança. Além disso, é importante estabelecer métricas claras para avaliar o impacto dos programas, como taxas de promoção, retenção de talentos e níveis de engajamento das colaboradoras.
Investir em programas de mentoria não apenas contribui para o desenvolvimento individual das profissionais, mas também fortalece a cultura organizacional, promove a inovação e melhora os resultados de negócios. Em um mercado cada vez mais competitivo e diverso, empresas que priorizam a equidade de gênero e o desenvolvimento de lideranças femininas estão mais bem posicionadas para enfrentar os desafios do futuro.
Priscila Damiani – Diretora de Recursos Humano da Biogen Brasil