O que de fato significa ter uma atitude transformadora? É do ser humano buscar sempre o novo, experimentar possibilidades e caminhos. Mas para muitos, o desafio está em ultrapassar a barreira invisível que existe entre a vontade de mudar e a efetiva iniciativa de dar o primeiro passo. Para transformar o seu “eu” e o todo à sua volta, é necessário ter acima de tudo, vontade de mudar.
Rafael Cortez conhece bem o processo de se reinventar. Apresentador, humorista, cantor e palestrante, Cortez atravessou diversos desafios profissionais até se encontrar de forma plena. Na palestra “Atitude Transformadora”, apresentada em todo o país, ele busca provocar as pessoas a darem o primeiro passo em busca daquilo que realmente desejam, compartilhando vivências pessoais e de outros próximos a ele.
Para compreender como essa mudança pessoal se materializa na prática, a MundoCoop conversou com Cortez sobre temas intrínsecos ao ser humano. Ele fala sobre como mudanças pequenas no dia a dia podem revolucionar a vida pessoal e profissional, e ainda, mostra como as atitudes individuais têm grande impacto na vida coletiva, algo que está profundamente conectado com o viver cooperativista.
Confira!
1 – O mundo caminha a passos ainda mais rápidos a cada dia, e estar atento para se adaptar a essa dinâmica é uma competência não apenas para a vida profissional, mas também pessoal. Por que é indispensável que o indivíduo hoje esteja preparado para essa realidade? Como desenvolver competências que ajudem a nos guiar por tantos caminhos incertos?
Começo dizendo que a melhor coisa que eu aprendi, e isso quem mais me ensinou foi a comédia, é que a gente tem que parar de brigar com o mundo que a gente vive. Eu falo que a comédia me ensinou isso mais do que outras artes, porque nela vejo muitos comediantes brigando com a inclinação social de se comportar de uma maneira mais polida com o que alguns chamam de “mimimi”. O mundo mudou, as diretrizes são outras e empoderamentos aconteceram.
Eu, como comediante, me reinventei e continuei ativo, inclusive porque parei de brigar com esse mundo. Eu nunca bati de frente. Eu não faço parte da turma dos que lutam pela manutenção daquele tipo de comédia que se fazia lá atrás. Não acho que eles estão errados, os admiro e inclusive acho que são muito corajosos de brigar por isso. Mas não consigo me desgastar e brigar junto com eles. Em suma, a primeira coisa a gente deve é aceitar o mundo em que a gente vive. Entender o contexto em que estamos e jogar junto.
“Estamos em um mundo de se criar oportunidades e não esperar que elas aconteçam. Esse é o mundo de se reinventar constantemente e ter atitudes e iniciativas para continuar”
Estamos em um mundo de se criar oportunidades e não esperar que elas aconteçam. Esse é o mundo de se reinventar constantemente e ter atitudes e iniciativas para continuar. Não é mais o mundo do mercado formal de trabalho como conhecíamos na figura dos nossos pais e avós. Entender o contexto em que estamos inseridos, é uma sabedoria.
2 – O que de fato significa ter uma Atitude Transformadora? Esta habilidade é algo que se aprende ou que é inerente ao ser humano?
Eu digo nas minhas palestras que a atitude é algo que toda e qualquer pessoa pode exercitar e usufruir. Potencializar a capacidade de se ter atitudes é algo inato a meu ver; mora dentro da gente. Temos um princípio de atitude que vem conosco. Algumas pessoas podem passar a vida inteira sem utilizar isso e outras pessoas podem entender que, uma vez bem utilizada, ela é catalisadora das nossas ações, e nos ajuda a chegar mais rápido naquilo que queremos.
Eu ilustro isso na minha palestra e dou exemplos de outras pessoas. Também me coloco na palestra, mas falo de outras pessoas que, se não tivessem tido a iniciativa, não fossem empreendedoras assumidas, não corressem atrás daquilo que elas acreditavam; não teriam imaginado aonde elas podiam chegar. Atitude é, como eu brinco, o que faz com que um Celta possa correr com o motor de uma Ferrari.
3 – Muitas vezes a incerteza causa um sentimento de medo que pode impedir que o indivíduo se desenvolva por completo. Como ultrapassar esta e outras barreiras em busca de novos desafios? Que atitudes transformadoras e mudanças de olhar podem ajudar a trazer um novo caminho pessoal e profissional?
Todos temos incertezas e inseguranças, e precisamos parar de se nos crucificar por conta disso. “Sou insegura, tenho certezas, tenho dúvidas”. Isso é e muito da gente. A gente é ser humano, entendeu? E quem disser que nunca teve dúvidas, está mentindo. Então a primeira coisa que precisamos aceitar é que podemos ter certeza de segurança. Mas acho que a gente tem que ser estratégico.
Diante de um contexto em que nós somos frágeis como seres humanos, temos que ser cirúrgicos. Desenvolver segurança é uma coisa fundamental para que incertezas não atrapalhem as nossas experimentações. Eu sou a favor de uma carreira com muitas experimentações, desde que, os riscos caminhem por direções de êxito. É nisso em que acredito.
Na minha palestra “Atitude Transformadora”, falo sobre caminhos para se chegar à segurança. Um dos caminhos é fazer teatro. Eu recomendo que todas as pessoas façam teatro. Se a pessoa é cronicamente tímida, patologicamente insegura, ela deveria fazer um curso de palhaço, que é uma terapia de choque para quebrar a timidez de qualquer pessoa. Inclusive, tem vários grandes artistas “palhaços” como Márcio Ballas, que em suas turmas de clown só tem diretor de multinacional, CEO, gente que é incrível como executivo, mas trava na hora de falar em público. Não é algo tão complexo, mas uma vez que você desenvolve a segurança através de várias ferramentas, como a que citei, se materializa uma mudança de postura, um pouco mais de peito aberto e energia na fala. Cumprimento com olho no olho, é visto como autoestima, se vê com luz, com potência. Quando a segurança fica forte, naturalmente muitas coisas se resolvem a partir dela.
“O melhor que podemos fazer por qualquer coletivo em que a gente está inserido, é evoluir como ser humano. Se eu sou um indivíduo melhor, a sociedade vai se beneficiar do meu caráter”
4 – O cooperativismo nasceu da ideia de unir pessoas em busca de um objetivo comum. De que forma ter uma atitude transformadora individualmente pode impactar positivamente no coletivo? Como levar isso para a comunidade onde se está inserido?
O melhor que a gente pode fazer por qualquer coletivo em que a gente está inserido, seja no âmbito profissional ou social, é evoluir como ser humano. É fato…quanto melhor a gente é, mais positivamente nós vamos impactar as pessoas que estão ao nosso redor. Se eu sou um indivíduo melhor, a sociedade em que eu estou inserido vai se beneficiar do meu caráter. Do mesmo modo, se eu sou um profissional mais capacitado, com maior qualidade, qualquer contratante meu e qualquer equipe em que estiver envolvido vai se beneficiar do poder do meu trabalho. Até porque se eu tiver os melhores valores, com as melhores capacidades técnicas e pessoais, certamente serei um ser humano melhor, que deseja que outras pessoas evoluam comigo.
Existe uma compreensão de que é preciso disseminar um conteúdo que vai ajudar as pessoas a melhorarem. Muitos palestrantes se veem apaixonados pelo ideal de modificar positivamente a vida das pessoas a nossa volta. Evoluir sempre é uma maneira de colaborar com o coletivo, com as comunidades em que estamos inseridos. Nesse sentido, a atitude transformadora individual impacta positivamente o todo. Um ser humano melhor contagia e de forma irreversível, o meio em que ele se encontra.
5 – Com a proximidade de um novo ano, é natural do ser humano traçar novas metas e objetivos. Mas afinal, como ter uma atitude que as tire do papel? Como – de fato – desbloquear um novo “eu” a partir de novas práticas, aprendizados e atitudes?
Eu poderia teorizar muito sobre de que maneira iniciar esse processo de construção do novo eu, ainda mais a partir de um novo ciclo que se inicia. Poderia conjecturar muito sobre isso, mas serei honesto. Só há uma maneira de fazer isso acontecer: arregaçando as mangas e “indo para as cabeças”. Por mais doloroso e cansativo que possa ser. Recentemente ouvi de um palestrante famoso que “se você está em uma má situação, a culpa é sua; se está numa boa, o mérito também é seu”. Mas as vezes estamos em uma situação ruim onde não temos qualquer tipo de culpa. Como ser humanos, somos vítimas de adversidades, especialmente no mercado de trabalho. Existem intempéries – inflação, crise política, mudança de governo e muitas outras. Às vezes estamos fazendo tudo que há de melhor, mas o contexto nos prejudica.
Sou completamente contrário a essa ideia de que a gente tem que ser vitimizado por tudo. Do mesmo modo que também não acho que a gente tem um mérito absoluto de todas as coisas boas que acontecem. Senão, isso desqualificaria o trabalho justamente dos cooperados. O trabalho coletivo. Essa é uma conquista que passa por muita gente. A gente colhe, claro, com nosso talento, com nosso saber e poder. Mas em uma coisa eu concordo com esses palestrantes ou com os demais que que dizem que a gente tem que ser responsabilizado: a gente tem que se mexer. E ainda que a gente ouça muita coisa que não gostamos de ouvir e estejamos reféns de situações que não gostaríamos de estar, não há outro jeito. É como fazer academia. Eu conheço pouca gente que gosta de fazer academia, mas sei de muita gente que está tendo resultado porque vai à academia. É exatamente sobre isso. A única maneira de fazer e acontecer é se organizar e dar o primeiro passo. E você, se já fez por merecer…vá colher. E se ainda não fez, ter um pouco de atitude não vai custar nada, muito pelo contrário.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
Entrevista exclusiva publicada na edição 116 da Revista MundoCoop
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