Além de investir nas melhores e mais modernas técnicas e tecnologias no cultivo e criação em suas propriedades, mais de 90% dos produtores rurais brasileiros estão em conformidade nas áreas ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês). É o que garantem as análises da Serasa Experian, especializada em serviços de informação. A empresa cruzou informações de diversos bancos de dados e avaliou produtores rurais de todo o país.
As ações ESG abarcam conformidade e cumprimento de leis, regulamentos e normas socioambientais, sob uma gestão pautada em integridade e ética. A sigla pressupõe um conjunto de indicadores com o intuito de dar valor financeiro a riscos nas esferas ambiental, social e de governança de qualquer setor de atividade econômica, porte ou maturidade empresarial, incluindo o agronegócio.
No mercado globalizado, esses fatores determinam até o poder de competição e longevidade das empresas. Quanto mais eficientes as práticas ESG, maiores as possibilidades de aceitação de suas marcas, produtos e serviços pela sociedade, menores os riscos associados ao negócio e maiores as chances de atrair investimentos.
“A definição de critérios sociais, ambientais e de governança servem para avaliar o desempenho das empresas, pois é desse jeito que o mercado de capitais entende sustentabilidade. O investidor entende números, critérios de ranking, e esse foi o meio encontrado para entender as ações que as empresas estão fazendo”, explica Sabrina Della Santa Navarrete, professora da FIA Bussiness School, especialista na área.
O debate a respeito de temas que envolvem desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas ganhou reforço a partir de 2020, quando a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, definiu para o mercado de capitais que risco ESG é risco de negócio. Ou seja, problemas em qualquer dessas áreas têm especial relevância à saúde da empresa.
Compromisso público
A conscientização sobre o tema tem levado a sociedade a buscar cada vez mais um consumo consciente, valorizar produtos e serviços oriundos de empresas éticas e socioambientalmente corretas. Quando uma empresa declara compromisso ESG, entende-se que a cadeia produtiva inteira da qual ela participa cumpre parâmetros éticos, legais e socioambientais. Está-se afirmando que não há infrações como desmatamento, trabalho escravo, corrupção etc..
“Compromissos ESG são públicos e estão atrelados a metas, prazos e o mercado interno e externo espera que sejam respeitados, porque a cadeia é vista como um todo”, explica Sabrina. Desse modo, empresas do setor agro que cumprem ações ESG representam para o mercado reduzidos riscos financeiros e de imagem e reputação e podem atrair mais negócios.
A instituições do mercado financeiro, também tem se estabelecido normas com o intuito de evitar o financiamento de organizações que descumpram preceitos socioambientais. Essas instituições são responsáveis pela análise e acompanhamento do uso do recurso financeiro concedido até o fim do contrato, e caso se configure alguma forma de contribuição à promoção de ações, produtos ou serviços em descumprimento aos preceitos ESG, além da possibilidade de prejuízos à sua imagem e reputação, elas podem até ser penalizadas financeiramente, com multas. Desse modo, para crédito rural, por exemplo, o risco ESG também é levado em consideração na avaliação do investidor. “Em geral, aqueles produtores que têm acesso a crédito são os que mais cumprem legislação socioambiental”, ressalta Marcelo Pimenta, head de Agronegócio da Serasa Experian.
“A avaliação ESG é algo cada vez mais presente, e cooperativas têm um papel-chave em fornecer essas informações para seus cooperados para que eles possam buscar regularização e continuarem produzindo” – Marcelo Pimenta, head de Agronegócios da Serasa Experian
Ferramentas auxiliam a identificação de produtores
Para metrificar as ações ESG no agro, a Serasa Experian criou uma pontuação (score). A instituição levou em conta desde o produtor familiar até o grande exportador e utilizou uma plataforma que faz uso de inteligência artificial para cruzar dados relacionados aos aspectos ESG (legislação, normas, regulamentações) e informações do produtor rural (pessoa física) e da terra relacionada a ele (própria ou arrendada). O resultado é uma classificação que apresenta menor ou maior risco ESG, segundo pontuação que vai de zero a 1000.
Quanto mais alta, melhor é a atuação em ESG e, portanto, menor o risco do negócio. “Acima de 600, não há problema [em se fazer negócios]; entre 400 e 600 é preciso uma análise mais detalhada, pois há apontamentos de desconformidades; e abaixo de 400 há problemas que podem ser totalmente impeditivos de fazer negócios”, explica Pimenta.
Para análise mais completa de riscos e oportunidades, recomenda o executivo, é preciso se levar em consideração tanto a pontuação ESG quanto a de crédito, já que não basta o baixo risco de inadimplência, ele precisa vir associado a boas métricas ESG. Segundo Pimenta, as análises apontam que boa parte dos produtores tem tanto alta pontuação ESG quanto capacidade de pagamento. Mas, há os que apresentam boa pontuação ESG e baixa capacidade de pagamento, e identificá-los nas carteiras das cooperativas financeiras abre oportunidade de orientá-los para que melhorem suas práticas e sejam incluídos no mercado de crédito com melhores taxas de juros, “porque o mais difícil, que é ESG, ele já é conforme”, defende o executivo.
“Quando analisamos o mercado dos produtores que tomaram crédito nos últimos três anos, apenas 1% deles tem problemas socioambientais, porque para o crédito, bancos e cooperativas têm tomado bastante cuidado e feito essas pesquisas. É muito alto o número de produtores que estão em conformidade. Hoje quem está fora da legislação é minoria.”, enfatiza Pimenta.
Ferramentas para a análise ESG no agro, além de apoiar a avaliação de riscos à tomada de decisão de instituições financeiras, contribuem para que os produtores em conformidade possam ser reconhecidos de forma adequada pelo mercado e ainda permitem identificar os que precisam de ciência para adequação de suas práticas. “Temos observado que, muitas vezes, o produtor legitimamente não sabe que está com problema socioambiental”, revela Pimenta. “O que falta, na maioria das vezes, a quem tem problema ESG é orientação”.
Produtor precisa clareza sobre quais são as práticas ESG
A falta informação, por vezes, impede o produtor rural de ter clareza sobre quais práticas são, de fato, ESG e podem agregar ao seu negócio. “Quando orientamos sobre essas questões, muitos produtores até se surpreendem ao compreender que já realizam diversas práticas que são ESG”, revela Sabrina Navarrete.
Pelo fato de ferramentas como Score ESG Agro (avaliação de conformidade socioambiental) e Agro Score (voltadas a análises financeiras), da Serasa Experian, estarem disponíveis para empresas, a exemplo de instituições financeiras, revendas de insumos, indústrias relacionadas ao agronegócio e cooperativas, ao acessar essas informações, essas empresas, por seu relacionamento próximo ao produtor, têm a oportunidade de apoiá-lo, ajudando-o a entender se há alguma desconformidade em relação a questões ESG, e orientá-lo onde e como é possível melhorar para seguir no mercado e manter acesso a financiamentos compatíveis. “Aqui, a cooperativa tem papel-chave, tanto em divulgar esse tipo de informação quanto de conscientizar e orientar caminhos para o produtor regularizar pendências, especialmente do produtor médio ou pequeno, que são os que têm mais dificuldade de acesso a nesse tipo de avaliação”, diz Pimenta.
Essa comunicação pode chegar a quem precisa de diversos modos, “desde visita pessoal às propriedades a eventos e workshops, que podem ser realizados em cooperativas, por exemplo, para desmistificar o termo e esclarecer dúvidas”, sugere Sabrina. Depois de compreender o que são de fato práticas ESG, é importante que se mostre para os públicos de relacionamento o que vem sendo feito. “Se você está fazendo tudo certo, precisa comunicar, até para diferenciar de quem não faz, e para que casos isolados de violações, em qualquer dos pontos do tripé, não sejam vistos como uma prática de todo o setor”, adverte a professora. “Ao ampliar essa conscientização, a tendência é de que outras empresas sejam influenciadas a adotarem critérios de sustentabilidade em suas operações e conformidade regulatória, para atenderem as crescentes expectativas do mercado”, projeta.
“ESG é processo, que é adoção de boas práticas; e o intuito das boas práticas é ter sustentabilidade para a perenidade do negócio” – Sabrina Della Santa Navarrete, professora da FIA Bussiness School
Fatores para empresa rural, de qualquer porte, implantar práticas ESG:
- Eficiência operacional – otimização no uso de recursos naturais, de suprimentos e redução do desperdício
- Economia de custos – vantagem financeira pelos ganhos em eficiência operacional
- Conservação ambiental – práticas que não prejudicam a biodiversidade e do meio ambiente
- Abertura de novos mercados – negócios baseados em parâmetros sustentáveis são mais atraentes ao mercado
- Gestão das mudanças climáticas – promove emprego de técnicas e tecnologias socioambientalmente sustentáveis
- Engajamento por propósito – maior satisfação e envolvimento de trabalhadores, clientes e parceiros conscientes engajados à sustentabilidade
- Reputação empresarial – valorização do mercado de empresas e marcas que realizam uma gestão socioambientalmente correta
- Crédito e investimentos – boas práticas em governança corporativa geram diminuição dos riscos associados ao negócio
- Conformidade legal – cumprimento de leis e regulamentações socioambientais
- Sucessão – colabora para a longevidade do negócio e transição às próximas gerações de produtores
Por Nara Chiquetti – Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop Edição 113
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