53% dos líderes da América Latina dizem compreender o impacto da inteligência artificial (IA) nos negócios, e relatam aumentos de receita entre 6% e 10% ao ano, segundo pesquisa realizada pelo Google Cloud. Apesar disso, um estudo da Data-Makers mostra que 69% dos executivos apontam a resistência cultural interna como desafio para o uso da tecnologia. Especialistas ouvidos por PEGN acreditam que incluir os colaboradores na etapa de inserção da ferramenta na empresa é importante para construir e fortalecer o engajamento.
Antes de definir tecnologias e adotar o uso em toda a empresa, é interessante entender qual problema a IA precisa resolver — reduzir custos, aumentar vendas, melhorar o atendimento ou automatizar tarefas. “Toda a equipe deve estar alinhada desde a definição dos objetivos que pretendem atingir com o uso de IA”, afirma Maurício Piasentin Salvador, analista de negócios no Sebrae-SP.
Entre erros comuns estão a ausência de treinamento adequado e a falta de alinhamento sobre como usar a tecnologia no dia a dia. “Um colaborador usa de um jeito, outro usa de outro jeito, e nem sempre ocorre troca com a equipe. É possível aprimorar esse processo”, acrescenta Salvador.
Confira o passo a passo e dicas para preparar a equipe para o uso de IA e alcançar melhores resultados:
1. Inclua os colaboradores no processo de decisão
Comece a implementação identificando processos repetitivos, analíticos ou que exigem tomada de decisão. Para Salvador, esses são bons candidatos para automação ou apoio com IA.
Incluir a equipe nessa definição é importante para começar a construir engajamento e diminuir a resistência em relação ao uso. Os funcionários ainda podem trazer ideias relevantes nessa escolha.
“O líder deve receber as sugestões que estão chegando dentro daqueles objetivos que foram inicialmente alinhados. Isso gera conforto para a equipe na hora de trabalhar essa implementação”, opina o consultor do Sebrae-SP.
2. Crie um espaço para trocar experiências
Coloque os colaboradores em contato com a tecnologia. “Desenvolva um programa para aproximar os colaboradores da inteligência artificial e incentive as pessoas a baixarem o primeiro aplicativo de IA”, sugere Kenneth Corrêa, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Nesse momento, a ideia é que quem já tem o costume de usar a tecnologia compartilhe como tem feito isso. “Ouvir de colegas de trabalho ajuda a criar interesse”, afirma Corrêa. Ele acredita que ouvir uma pessoa próxima contando a sua experiência é a melhor forma de incentivo e confiança.
3. Mostre os benefícios
“Para convencer a equipe a fazer algo, é importante mostrar as vantagens para o funcionário”, aponta Salvador. Mostre que ele vai economizar tempo. No trabalho de montar uma proposta para um cliente, por exemplo, a empresa pode deixar um modelo de prompt pronto, que será adaptado a cada demanda e reduzirá o tempo normalmente gasto nessa tarefa.
4. Faça treinamentos
Antes de tudo, é importante implementar a cultura digital. Mostre os fluxos de processos e como eles podem ser levados para a ferramenta. Ensine como construir um prompt.
“A maioria das pessoas faz pedidos de forma simples e acaba percebendo vários problemas. Quando você oferece mais contexto, explica os pontos e adiciona referências, a resposta tende a ser mais completa”, explica Corrêa.
Para facilitar, dê exemplos de pedidos efetivos e daqueles que resultam em respostas pouco produtivas. Mostre também quais ferramentas fazem sentido e podem ser utilizadas para cada tipo de trabalho. “Um erro é achar que existe apenas o ChatGPT”, aponta o professor.
Chats (GPT ou similares) podem ser usados para tarefas como criação de conteúdo para posts e artigos, estruturação de documentos e relatórios, análise e resumo de textos e geração de cronogramas. Veja outras sugestões de ferramentas indicadas por Corrêa:
- Perplexity: pesquisa de fontes curadas e atualizadas;
- NotebookLM: análise profunda de textos;
- Midjourney: criação de imagens, avatares, assistentes, logos e wireframes;
- Polymer: análise de dados com conexão a banco de dados ou envio de arquivos CSV;
- Read.ai: grava o conteúdo em vídeo, faz a transcrição e gera resumo e insights da reunião.
Explique também onde o trabalho humano entra. “Em chatbots de atendimento, é importante delimitar quando um atendente humano precisa assumir, para que o cliente não entre em um espiral e não avance”, exemplifica Salvador. “Se existir um processo desenhado de quando a ação humana deve entrar, esse tipo de problema tende a diminuir”, complementa.
É essencial ainda mostrar limites éticos e de segurança de dados. “Se a empresa está usando uma solução gratuita, os dados que você coloca ali são públicos”, alerta o consultor do Sebrae. Oriente que os colaboradores não devem compartilhar dados confidenciais da empresa ou de clientes, nem informações sensíveis, como saldo devedor e contatos.
“O uso deve ser responsável, com orientação sobre o que não deve ser compartilhado com a IA e com a consciência de que as decisões finais são dos humanos, sendo importante revisar e analisar os trabalhos executados pela tecnologia”, acrescenta Corrêa.
5. Monitore resultados e adesão
Além de implementar KPIs para medir o impacto da IA em eficiência, receita, satisfação do cliente e custos operacionais, é importante acompanhar a adesão da equipe e fazer eventuais adaptações.
“O empreendedor implementou, treinou e disponibilizou a plataforma de inteligência artificial. Ele pode descobrir que um processo que deveria ser repetido 80 vezes por mês está sendo usado apenas 30 vezes. Nesse caso, será necessário conversar com a equipe e identificar o problema”, aponta Salvador.
A sugestão é fazer uma avaliação com os colaboradores, identificando se é necessário realizar um novo treinamento, mudar para uma nova ferramenta que se adeque melhor aos objetivos da empresa ou adotar uma ferramenta paga com menos limitações. “Nem sempre é culpa da equipe; muitas vezes, a IA escolhida não se adequa às necessidades do negócio”, diz o consultor do Sebrae-SP.
6. Faça atualizações de ferramenta e novos treinamentos
Os especialistas apontam a rápida evolução da IA. É importante estar atento às atualizações e novidades, seja para trocar de ferramenta, seja para promover novos treinamentos internos. “A pequena empresa tem mais facilidade para mudar de ferramenta de acordo com as atualizações. É interessante testar e identificar qual faz mais sentido para o negócio”, analisa Corrêa.
Fonte: Pequenas Empresa&Grandes Negócios