Trezentas mulheres, representando 162 cooperativas mineiras, estiveram reunidas no 17º Encontro Estadual de Mulheres Cooperativistas, realizado entre os dias 23 e 25 de maio, no Grande Hotel Termas, em Araxá. Ao longo dos três dias de evento, a programação enfatizou a equidade de gênero, inovação e a participação feminina estratégica no setor.
Em seu discurso, na abertura do evento, o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato, fez questão de exaltar o papel das mulheres na sociedade, e, especialmente, no coop. Scucato recordou ainda que a posição que ele ocupa hoje é resultado do apoio e ensinamentos de sua mãe e avó, que o impulsionaram a ser resiliente e a não desistir diante das adversidades.
“Vocês vão transformar ainda mais o dia a dia das cooperativas, das comunidades, dos negócios, das famílias que são impactadas pelos trabalhos que vocês realizam. A participação feminina no cooperativismo é essencial para o crescimento do nosso modelo de negócios, além de melhorar a vida da sociedade, que é um princípio cooperativista”, enfatiza o presidente.
De acordo com o Anuário de Informações Econômicas e Sociais do Cooperativismo Mineiro, as mulheres representam 53,6% dos trabalhadores no setor cooperativista de Minas Gerais. No entanto, no que diz respeito à ocupação de cargos de liderança, esse número ainda é tímido, correspondendo a 16,1%.
Mas a tendência desse quadro é melhorar. Em 2022, após o 15º Encontro de Mulheres, foi criado o comitê “Elas Pelo Coop”, envolvendo cooperativistas de todo o Estado. E, após a edição de 2023 do evento, foram criados 15 comitês de cooperativas mineiras, ou seja, as mulheres estão se conscientizando cada vez mais de seu papel e estão se unindo em busca do seu espaço no coop.
Resultados práticos
O superintendente do Sistema Ocemg, Alexandre Gatti Lages, chamou a atenção para o potencial feminino. Ele iniciou sua fala descrevendo o perfil das mulheres que estavam reunidas no encontro: das 300 mulheres que participaram do evento, 46 são presidentes, vice-presidentes, superintendentes e diretoras de cooperativas. Também foram contabilizadas 28 conselheiras, 79 gerentes e 147 analistas.
Em seguida, o superintendente citou uma pesquisa divulgada pela Forbes no ano passado, destacando que a equidade não se limita apenas à representatividade, mas impacta nos resultados. As mulheres líderes são boas para os negócios. O estudo diz que as organizações com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança têm 12 vezes mais chance de estarem entre as 20% melhores em desempenho financeiro.
Já a pesquisa da organização Leadership Circle, com base em análises de mais de 84 mil líderes e 1,5 milhão de avaliadores (incluindo chefe, chefe do chefe, colegas, subordinados diretos e outros), aponta que as lideranças femininas aparecem com mais eficácia do que seus colegas homens em todos os níveis de gerenciamento e faixas etárias.
“Temos ampliado a participação feminina no coop. Por exemplo, de 2013 até 2022, o número de cooperadas em Minas Gerais saltou mais de 300%. Nós fechamos 2023 com mais de 900 mil cooperadas. E no que diz respeito a funcionárias, o aumento foi quase de 90% nesses 10 anos. Nós temos quase 30 mil empregadas nas cooperativas mineiras”, enumera.
Próximos passos
A gerente de Educação e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Ocemg, Andréa Sayar, lembra que os encontros de 2022 e 2023 foram marcados por provocações sobre os desafios das mulheres na atuação dentro das cooperativas. “O objetivo deste ano é discutir a transformação destes desafios em ações estratégicas. Em seguida, o Sistema Ocemg vai reunir o resultado dessa discussão com as diretrizes estratégicas priorizadas no 15º Congresso Brasileiro de Cooperativismo (CBC), realizado na segunda semana de maio, em Brasília. Nossa ideia é fazer essas proposições em nível sistêmico em Minas Gerais e, quem sabe, consigamos influenciar os outros Estados para incorporarmos nas nossas estratégias em todo o país”.
Na avaliação de Andréa Sayar, apesar de existir uma curva ascendente na entrada de mulheres no coop, ainda é necessário avançar muito. “A mulher precisa se posicionar e participar das eleições nas cooperativas, se dispor a fazer parte dos conselhos. Não podemos ficar esperando que alguém abra a porta para nós. Precisamos colocar a chave na porta e virar a maçaneta para nos fazermos mais presente”, encoraja.
Estreia no Encontro
Marinheira de primeira viagem no Encontro de Mulheres e há apenas um ano no cooperativismo, Janaína Santana Souza, gerente de Marketing, Comunicação e Inovação da Coccamig, ficou entusiasmada com tudo o que viu nos três dias de evento. “O encontro confirmou que o cooperativismo é o meu propósito de vida. Estou realmente impactada, pois ultrapassou todas as minhas expectativas de estar lado a lado com tantas mulheres que estão fazendo a diferença no mercado e na vida de muitas pessoas”.
Janaína sabe que tem muitos desafios pela frente, mas não está intimidada. “A força que eu vi nos olhos de cada mulher aqui é muito maior. Não tem como dar errado. Daqui para frente é algo que não tem como parar, pois é uma roda que já pegou uma velocidade monstruosa. São mulheres gigantes que estão multiplicando isso para outras mulheres. Levarei o que aprendi aqui para toda a minha vida”, conta animada.
Histórias de vida
A programação do evento foi recheada de mulheres de diferentes setores, experiências distintas e inspiradoras. A começar pela jornalista Tábata Poline, repórter do Fantástico, especialista em Direitos Humanos e mãe da Lila, uma bebê de 1 ano. Tábata conduziu todo o evento, transmitindo leveza e uma latente identificação com o que estava sendo discutido.
“É o meu primeiro trabalho com o Sistema Ocemg e tive a sorte de ser em um encontro de mulheres. Essa troca que aconteceu será um combustível para elas seguirem no trabalho, se sentirem mais encorajadas para continuarem enfrentando os desafios que elas têm no dia a dia, não só em seus ambientes corporativos, mas da vida, já que elas são atuantes em diversos universos”, conta a jornalista e criadora do programa Rolê das Gerais, cuja atuação diferenciada a levou ao cargo de repórter do Show Vida, em 2022. Vale lembrar que o Rolê das Gerais foi idealizado inicialmente para ser apenas um quadro do jornal local da TV Globo, mas depois de várias negativas e muita insistência de Tábata, o projeto foi aprovado e promovido a um programa.
Sobre as palestrantes, cada uma com suas especificidades trouxeram um fôlego novo para encorajar e convidar as mulheres ao protagonismo dentro do cooperativismo. A primeira foi a jornalista Giuliana Morrone, que falou dos seus 30 anos de carreira, nos quais passou diversos desafios dentre os quais o assédio sexual e moral. Profissional renomada, Giuliana participou da cobertura de todas as campanhas eleitorais no Brasil, desde o fim da ditadura militar. Foi correspondente por cinco anos nos Estados Unidos, onde se deparou e se apaixonou pelo tema ESG (sigla em inglês para meio ambiente, responsabilidade social e governança corporativa). Hoje, a jornalista é especialista no assunto e viaja todo o Brasil como palestrante para falar sobre o assunto, sobretudo em ambientes corporativos. “Trouxe uma mensagem de coragem, integridade e consciência de quem somos e do nosso potencial. Não podemos ficar repetindo o padrão de valorização do masculino e da raça branca. Estamos prontas para ocupar vários espaços, inclusive espaços de liderança”, ressalta.
O céu não é mais o limite
No segundo dia, foi a vez do painel com a participação de duas jovens mulheres que contaram histórias bem antagônicas. A primeira, Lorrane Olivlet, apaixonada pelo espaço desde os três anos de idade, é engenheira biomédica e aluna de Engenharia Mecânica, piloto de avião em formação, autora de livro sobre o sistema solar, astronauta análoga, criadora do grupo InSpace e ativista engajada “por mais mulheres nas áreas de ciências espaciais”.
Ela contou sobre a sua trajetória até ser escolhida pela Agência Espacial Norte-americana (Nasa) para acompanhar o lançamento da missão Psyche, pelo foguete Falcon Heavy, da SpaceX, levando ao espaço uma sonda que vai viajar bilhões de quilômetros até alcançar o asteroide de mesmo nome. Além disso, Lorrane, também conhecida como “caçadora de asteroides”, já encontrou mais de 50 rochas espaciais e foi premiada no ano passado na Competição Internacional de Astronomia e Astrofísica. A mineira foi a única brasileira entre os mais de 14 mil participantes a receber um prêmio de destaque na qualidade de embaixadora.
“Quero animá-las também a incentivarem seus filhos, principalmente as suas filhas, a acreditarem em si mesmas, independentemente de quais sejam seus sonhos. E, através da ciência, nós também poderemos tornar o nosso mundo melhor. A ciência ainda é um ambiente essencialmente masculino. Precisamos de mais mulheres nesse segmento. Quem sabe a gente não chega em uma paridade de gênero na área?”, indaga.
Força intangível
A segunda painelista foi Camila Telles, produtora rural, empresária, comunicadora e defensora do agro brasileiro. Nas redes sociais, seus vídeos chegam a ter mais de 1 milhão de visualizações. Camila é CEO da FarmCom, agência de comunicação direcionada para o Agro, e fundadora da Hortaria, que leva verduras e legumes frescos da fazenda da família direto para a casa de seus consumidores.
“Precisamos entender que nós estamos aqui por um propósito maior e que a união é a palavra-chave. Este auditório está repleto de pontinhos de luz que devem brilhar ainda mais no mundo. O olhar cooperativista é um exemplo para o mundo inteiro e potencializa a competência das mulheres. O coop funciona e coloca o Brasil para frente. Quero lembrar que esse espaço também é das mulheres, que fazem tudo muito bem-feito. Nossa força vai muito mais além do que a gente imagina”, encoraja Camila. Ela contou os desafios enfrentados por ser mulher no interior do seu Estado, o Rio Grande do Sul, e também para se sobressair e vencer no agro, um ambiente ainda com predominância masculina.
Plantar para colher
O segundo dia foi marcado pela participação de Dalila Sousa, consultora, palestrante, coach, professora e proprietária da Consultoria YourRH, empresa especializada em cooperativismo. O ponto alto da sua apresentação foi o projeto denominado Plantio, no qual as cooperativistas discutem em grupos para encontrarem a melhor estratégia de resolução e inovação para alguma ‘dor’ que vivenciam em seu cotidiano. “Para colhermos algo, precisamos passar por um processo”, diz. “Vamos focar na nossa colheita, mas antes de colhermos, iremos pensar nesse ecossistema e como iremos impactar as pessoas dele, as pessoas das nossas cooperativas, através dos projetos inovadores construídos na tarde deste sábado, nesta dinâmica de grupo. São projetos tangíveis nos quais cultivamos a colaboração”, explica. Ainda utilizando o exemplo do plantio, a consultora lembrou da rede de cultivo, atentando para os atores das cooperativas, como colaboradores, clientes, fornecedores e cooperados. “Precisaremos envolver todos para fazer com que esse projeto aconteça”, enfatiza.
Por meio da analogia, as participantes passaram por todas as etapas. E entenderam que, muitas vezes, o processo pode ser desanimador, mas é importante continuar plantando. “A gente quer que o fruto venha pronto. As participantes vão levar para casa um planejamento estratégico, uma proposta tangível para apresentar nas suas cooperativas”.
O poder feminino
O Encontro de Mulheres encerrou no sábado com chave de ouro. Dani de Maria Gun, palestrante, facilitadora de imersões de autoconhecimento, empresária, terapeuta e influenciadora digital, falou sobre a força feminina. “Precisamos ter em mente que a gente não é uma máquina que faz, faz e faz. Nós somos feitas também de emoções, de dores e alegrias. A mulher, que é capaz de gerar uma vida, de cuidar da casa, de criar as futuras gerações, é também capaz de mudar o mundo. E eu estou em frente a várias delas”, disse referindo-se ao público presente. A participação de Dani de Maria Gun foi pontuada de momentos emocionantes, que arrancaram lágrimas das mulheres presentes na plateia. Foi uma oportunidade para olharem para dentro de si mesmas e entenderem a magnitude de suas forças.
Elas pelo Coop
Criado em 2022 para contribuir com o Sistema Ocemg na construção de propostas e projetos que estimulem e disseminem a participação e o protagonismo feminino, o comitê “Elas pelo Coop” vem contribuindo para a ampliação e fortalecimento da participação e da representatividade das mulheres no cooperativismo mineiro. O comitê é um grupo consultivo e de trabalho voltado à construção de diretrizes e ações que subsidiem iniciativas de inclusão e da atuação das mulheres no desenvolvimento das coops. O foco é na atuação das mulheres que fazem parte do quadro social, quadro funcional e na gestão e governança das cooperativas mineiras.
“O Sistema Ocemg preparou esse encontro com muito carinho, nos colocando nesse processo de imersão para refletirmos sobre esses temas tão essenciais para o progresso feminino no cooperativismo. Estamos saindo desse evento com bastante dever de casa para colocar em prática em nossas cooperativas”, afirma Lívia Maria Almeida Duarte, presidente da Coopresa e membro do comitê. “O Encontro de Mulheres é essencial para manter vivo o nosso comitê e para que as cooperativistas também entendam que existe essa referência dentro do sistema cooperativo mineiro. Além de ser um modelo para que elas criem esses núcleos dentro das suas próprias cooperativas”.
Também membro do comitê, Cristiane Souza Silveira, diretora de Negócios do Sicoob Credivag, enfatiza a importância do fortalecimento das mulheres no coop, sobretudo, segundo ela, pelo fato da mulher fazer diferença em todos os espaços e por ter um olhar de inclusão. “Uma colaboradora me disse essa semana que a mulher consegue instigar, cobrar, mas também consegue acolher, muitas vezes mesmo sem ter tempo suficiente. A mulher tem uma sensibilidade extraordinária para enxergar até as palavras que não são ditas em diversos momentos”, conta.
Fonte: Sistema Ocemg
Discussão sobre post