O presidente da Aliança Cooperativa Internacional para a região das Américas (ACI Americas), José Alves de Souza Neto, também vice-presidente da ACI Global, foi o convidado de honra para a abertura do 5º Fórum Integrativo Confebras, realizado em outubro em João Pessoa. A abordagem de sua palestra magna foi “Cooperativas Constroem um Mundo Melhor”, tema escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para nortear as comemorações de 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas. Este também foi o tema que norteou os debates do Fórum.
O presidente da Confebras, Luiz Lesse Moura Santos, destacou a participação de Neto na abertura e comemorou os resultados do evento: “A palestra magna foi muito elogiada pelos participantes. Abriu nossas mentes para novas oportunidades e para expandir as experiências do cooperativismo financeiro pelo mundo. Durante o Fórum, reunimos mais de mil lideranças, gestores e colaboradores, principalmente do Nordeste, para debater o cooperativismo de crédito na região. Em breve, a Confebras irá divulgar a Carta do Cooperativismo de Crédito do Futuro, construída coletivamente durante o evento, e que aponta estratégias de desenvolvimento para o segmento”.
O evento, realizado pela Confebras e correalizado pelo Sistema OCB/PB – Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado da Paraíba, contou com patrocínio master do Sistema OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); além de apoio institucional do Sicoob Central NE, Central Sicredi Nordeste e Banco Central do Brasil.
O vice-presidente da Confebras, Donizetti José, destacou que a escolha do Nordeste como sede desta edição do Fórum Integrativo foi resultado da forte mobilização das lideranças regionais, empenhadas em construir um ambiente propício ao diálogo, à convivência e à troca de experiências. Segundo ele, esse movimento coletivo permitiu o alinhamento de estratégias e visões, fundamentais para definir os próximos passos do cooperativismo de crédito na região. “O Nordeste tem se revelado uma região de enorme potencial e vigor. A realização do Fórum reforçou essa percepção e proporcionou reflexões valiosas que, certamente, servirão de impulso para novas iniciativas e avanços no fortalecimento do cooperativismo regional”, afirmou Donizetti.
PERFIL
José Alves de Souza Neto é cirurgião dentista formado pela Faculdade Integrada de Marília, São Paulo. Fundador da Uniodonto Athenas Paulista, presidiu a Federação das Uniodontos do Estado de São Paulo de 2004 a 2007 e preside a Uniodonto do Brasil desde 2007. Ele especializou-se em Gestão da Saúde pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e em Gestão Negocial pela Universidade da Califórnia – Irvine.
Conselheiro fiscal da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (OCESP) e coordenador do Ramo Saúde junto à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), foi eleito presidente da ACI Américas para mandato até 2026. A ACI Américas, oficialmente chamada Cooperativas das Américas, é a representação regional da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) para o continente americano. Seu principal papel é promover e defender o modelo cooperativo na região, auxiliando as organizações associadas a se reposicionarem no cenário econômico, social e comercial.
Nesta entrevista exclusiva à MundoCoop, mídia oficial do 5º Fórum Integrativo Confebras, o presidente da ACI Américas fala sobre o papel do cooperativismo de crédito e seu potencial no Nordeste – região que sediou a quinta edição do Fórum Integrativo; sobre a importância da intercooperação e os desafios do segmento para o futuro.
Como avalia o segmento de cooperativismo de crédito na América como um todo e no Brasil em particular?
O cooperativismo de crédito nas Américas é um dos ramos mais estruturados e com maior capacidade de transformação social. Em vários países, ele é a porta de entrada para que as pessoas e comunidades tenham acesso ao sistema financeiro de forma justa, democrática e sustentável. No Brasil, o avanço é notável: as cooperativas de crédito estão presentes em praticamente todos os nossos munícipios; oferecem produtos modernos; concorrem de igual para igual com o sistema financeiro tradicional; e, ao mesmo tempo, mantém o foco no desenvolvimento das pessoas e dos territórios.
Esse crescimento é fruto da confiança da sociedade nesse modelo, que combina a eficiência econômica com impacto social. Olhando para o futuro, acredito que o papel das cooperativas de crédito será ainda mais estratégico, não apenas para o próprio segmento, mas, também, para o fortalecimento dos demais ramos do cooperativismo. São as cooperativas financeiras que podem financiar a produção, apoiar a inovação, investir em saúde, educação e consumo responsável, tornando-se um elo fundamental na construção de uma economia cooperativa integrada e sustentável.
Intercooperação cada vez mais estruturada
Como as experiências de outros segmentos cooperativistas pode contribuir para maior desenvolvimento do cooperativismo financeiro? Quais pontos destacaria como referência?
A maior força do cooperativismo está justamente na diversidade dos seus ramos. O setor agro nos ensina sobre a importância da união e da intercooperação em cadeia. As cooperativas de saúde mostram o valor do cuidado e da proximidade com as pessoas. As cooperativas de consumo se especializam em entender e atender às necessidades reais da comunidade. E as cooperativas de crédito são instrumentos que viabilizam o desenvolvimento de outros ramos, financiam novos projetos, estimulam a inovação e criam condições para que o cooperativismo avance em conjunto.
É o ramo crédito que transforma boas ideias em realizações concretas e fortalece a base econômica do nosso movimento. Por isso, o cooperativismo financeiro pode e deve servir de referência e sustentação para o crescimento e a consolidação dos demais ramos, inspirando-se nas suas experiências e, ao mesmo tempo, colocando-se a serviço do desenvolvimento coletivo. O futuro do movimento cooperativista passa, com certeza, por uma intercooperação cada vez mais estruturada, em que cada ramo contribui com sua especialidade e se apoia mutuamente. É assim que o cooperativismo se manterá vivo, atual e transformador; crescendo com propósito e sempre junto das pessoas.

Valores essenciais: convivência, escuta e confiança
O que sua experiência na Uniodonto contribuiu para sua atuação como liderança cooperativista internacional?
Minha trajetória na Uniodonto foi uma verdadeira escola de cooperativismo. Trabalhar com milhares de cirurgiões dentistas e dirigentes de todos os estados do Brasil, cada um com sua cultura, autonomia e visão profissional, foi, para mim, um aprendizado sobre os valores da convivência, da escuta e da confiança.
Na prática, aprendi que liderar uma cooperativa é equilibrar as diferenças, buscar consensos e manter o foco no propósito comum. Essa vivência diária mostrou que o cooperativismo só se sustenta quando há transparência, participação e compromisso real com o coletivo. Também aprendi que o cooperativismo de saúde é um espelho de tudo o que o nosso movimento representa: ele cuida de pessoas, gera trabalho digno, distribui resultados e transforma comunidades.
Foi por meio desses aprendizados da base, da realidade do cooperado e da gestão participativa, que pude ampliar meu olhar e me adaptar com mais consistência a um novo cenário, mais amplo, como é o cenário Internacional. No fundo, a Uniodonto me ensinou que o cooperativismo não é apenas um modelo de negócio; é uma forma de organizar a sociedade, com responsabilidade, solidariedade e visão de futuro.
Conexão, aprendizado e troca de experiências
Qual sua visão sobre eventos como o Fórum Integrativo Confebras e o Concred – Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito para o movimento?
Eventos como o Fórum Integrativo e o Concred têm um papel essencial no fortalecimento do cooperativismo. Eles são muito mais do que espaços de debate: são momentos de conexão, aprendizado e renovação do nosso propósito. É nesses encontros que nossos líderes, gestores e cooperados compartilhem experiências, trocam visões de futuro e percebem que, apesar das diferenças de ramos ou de regiões, todos fazemos parte do mesmo movimento.
Estes fóruns nos lembram que o cooperativismo é vivo, dinâmico e está sempre se reinventando para responder aos desafios do seu tempo. Além disso, tem uma função inspiradora: reacende sentimentos de pertencimento, fortalece alianças e ajuda a formar novas lideranças. E quando somamos conhecimento técnico, propósito e cooperação, o resultado é um movimento mais preparado, mais unido e mais influente socialmente. Por isso, eventos como o Fórum Integrativo e o Concred são fundamentais, porque alimentam aquilo que mantém o cooperativismo em movimento: a troca, o aprendizado e a vontade de construir juntos.
Parcerias estratégicas internacionais
Qual o papel da ACI Américas e como as cooperativas de crédito brasileiras podem interagir com a Associação?
A ACI Américas é um organismo que representa o cooperativismo do nosso continente dentro da Aliança Cooperativa Internacional. Nosso papel é articular, integrar e dar visibilidade ao movimento cooperativo das Américas, fortalecendo sua presença, sua política institucional e técnica diante dos governos e dos organismos multilaterais. Trabalhamos para conectar as cooperativas entre si, para promover intercâmbios, estimular a formação de novas lideranças e criar um ambiente de cooperação regional.
Atualmente, conduzimos projetos em parceria com organismos como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e ONU Mulheres (da Organização das Nações Unidas), entre outros. Todos são voltados para mostrar que o cooperativismo é parte da solução dos grandes desafios globais.
Dentro da estrutura da ACI Américas, temos o Comitê Regional de Cooperativas Financeiras e Bancos Cooperativos (COFIA), que tem um papel estratégico nesse processo: aproxima as cooperativas de crédito e de poupança de toda a região, promovendo a integração técnica, o compartilhamento de boas práticas e fortalecendo a representação deste importante ramo no continente. Um avanço recente do ramo dentro da ACI Américas se deu em evento regional realizado no México no final do mês de agosto: avançou a constituição de um fundo de impacto cooperativo para as Américas, um instrumento que vai permitir mobilizar investimentos com foco social, territorial e sustentável para as cooperativas da nossa região.
As cooperativas de crédito brasileiras podem e devem se conectar com a ACI Américas e com o COFIA, participando de programas, capacitações e eventos internacionais, seja por meio de suas centrais, confederações ou de forma direta. O Brasil é referência em governança, inovação e resultados. E essa experiência precisa ecoar no cenário global, influenciando políticas, inspirando outras nações e mostrando que o cooperativismo financeiro brasileiro é um exemplo de eficiência e compromisso com o desenvolvimento sustentável.
O futuro do cooperativismo financeiro no Nordeste
A partir da sua palestra magna no 5º Fórum Integrativo Confebras, em realizado em João Pessoa, que recomendação poderia sugerir aos cooperativistas do segmento de crédito do Nordeste?
A principal recomendação é continuar acreditando na força transformadora do cooperativismo. O Nordeste tem uma energia única; um território de gente criativa, solidária e resiliente, que faz muito com muito pouco e transforma desafios em oportunidades.
O cooperativismo de crédito tem papel fundamental nesse contexto: não é apenas um instrumento financeiro; é um agente de desenvolvimento. Cada nova cooperativa, cada agência aberta e cada crédito concedido com propósito são sementes plantadas para o crescimento local, para o fortalecimento da economia regional e para a melhoria da vida das pessoas.
Assim, sigam com essa coragem de inovar sem perder a essência; ampliem a intercooperação com outros ramos; invistam na educação cooperativa; e mantenham sempre viva a conexão com suas comunidades. O futuro pertence a quem acredita que crescer junto é melhor do que crescer sozinho. E o Nordeste tem todas as condições para mostrar ao Brasil e às Américas que o cooperativismo é um caminho mais humano, mais justo e mais sustentável para o desenvolvimento da nossa sociedade.

“O cooperativismo de crédito tem papel fundamental: não é apenas um instrumento financeiro; é um agente de desenvolvimento. Cada nova cooperativa, cada agência aberta e cada crédito concedido com propósito são sementes plantadas para o crescimento local, para o fortalecimento da economia regional e para a melhoria da vida das pessoas”.
José Alves de Souza Neto, presidente da ACI Américas
COBERTURA COMPLETA
O 5º Fórum Integrativo Confebras reafirma e fortalece a importância do cooperativismo de crédito para o Brasil. Enquanto setor que mobiliza milhões de pessoas e centenas de bilhões de reais em ativos, ele surge como agente de desenvolvimento regional, inclusão financeira e inovação social.
E para que ninguém perca nenhum detalhe dessa jornada transformadora, a MundoCoop, Mídia Oficial, divulgará em breve um e-book especial, com cobertura completa do Fórum.
Fique atento: será uma publicação que reunirá aprendizados, depoimentos, fotos e os principais desdobramentos para o setor.
Por Redação MundoCoop












