Celma Grace de Oliveira, idealizadora e Co-Fundadora do Instituto Ana Carol e da Cooperativa de Bordadeiras Bordana, é filha de Orcino Silvério de Oliveira, lavrador e Maria José, artesão e bordadeira. Ela se inspirou na mãe para criar a cooperativa Bordana, há 13 anos.
Goiana de nascimento e tocantinense de coração, sonhou em ser professora e diretora de escola. Mas, a vida a levou para outros caminhos. Ela conta que criou a Bordana, entre outras coisas para dar oportunidades, capacitação, qualificação para as mulheres da comunidade. A cooperativa tem ajudado a melhorar a autoestima, agregar valores e ampliar o mercado de venda dos bordados.
Em conversa com a MundoCoop, Celma compartilha as histórias e desafios na liderança da cooperativa Bordana.
Confira!
Quando começou a cooperativa?
Em 2008 no Conjunto Caiçara, Goiânia-GO, começou uma nova história através de linhas, agulhas, superação, amor e solidariedade. As primeiras reuniões deste núcleo pretendiam oferecer às mulheres da região, condições para construírem oportunidades de aprimoramento das suas habilidades, autonomia e emancipação, por meio de um trabalho solidário e cooperativo. A partir de março deste mesmo ano, começaram a se reunir, independente de possuírem experiências com o bordado. A orientação técnica para a organização do núcleo em cooperativa aconteceu posteriormente com o apoio da Universidade Federal de Goiás, através do programa Incubadora Social.
A Cooperativa de Bordadeiras BORDANA, teve início com a participação de 10 mulheres da comunidade e foi efetivamente constituída em agosto de 2011, quando também começamos a contar com o apoio do Sistema OCB/GO. Ao longo desse tempo de funcionamento, outras mulheres foram sendo incluídas no grupo e hoje somos 29 cooperadas e 1 cooperado.
A Bordana nasceu como um projeto social do Instituto Ana Carol, uma instituição idealizada por mim em homenagem à Ana Carolina Oliveira Campos, que faleceu em dezembro de 2007, aos 10 anos de idade, vítima de um tipo raro de leucemia. Ela sonhava em ser Designer de Moda.
Quais foram os desafios iniciais?
O principal obstáculo foi iniciarmos um negócio sem recurso, capital de giro, experiência de gestão e com pouco conhecimento sobre o modelo cooperativista. Atualmente ainda temos o desafio da sustentabilidade econômica da cooperativa, porém sendo superado a cada ano. Há também a dificuldade de formarmos novas bordadeiras.
Por se tratar de uma cooperativa formada quase 100% por mulheres a dupla e até a tripla jornada ainda é um desafio. A dupla jornada é uma realidade entre as mulheres e é importante falarmos sobre isso para que pouco a pouco essa carga de responsabilidade esteja em equilíbrio na estrutura familiar.
Desejamos, que as cooperativas de modo geral também possam pensar a condição das mulheres neste cenário e proporcione condições para amenizar as desigualdades de gênero.
Qual é o segredo do sucesso para uma mulher se manter na liderança de uma cooperativa?
Acredito que seja a união de diversos fatores, como determinação, habilidades de comunicação, capacidade de resolução de problemas, visão estratégica e principalmente o apoio e a parceria das cooperadas, de familiares e da rede de contato.
Já pensei em desistir, mas novamente me agarrei ao fio mais importante a vida, o amor, e fui buscar força na rede de contatos, tanto dentro quanto fora da cooperativa. Busco conversar com pessoas mais experientes, gosto muito de estudar e de novos desafios. Além disso, é fundamental manter o foco nos objetivos, valores que motivam o meu trabalho e lembrar do impacto positivo do meu papel como líder.
Como é ser líder de uma cooperativa? Quais as lições e como essa experiência a impactou?
Como líder na cooperativa, descobri em mim um talento que não sabia: a capacidade de engajar e de fazer as pessoas sonharem. Sempre acreditei muito no poder e na potência das mulheres e de suas redes de apoio. Quero continuar oferecendo oportunidades para as mulheres, mães que não tem onde deixar seus filhos, chefes de família, aposentadas e desempregadas.
Buscamos trabalhar não só com a produção do bordado, mas também com um conjunto de outras ações e atividades, como: encontros semanais, palestras, treinamentos, cursos, oficinas e rodas de conversa. Todas, colaboram com os três processos da cooperativa, criação, produção e comercialização, colocando em pratica a autogestão, como processo de empoderamento e autonomia.
Em termos de inovações, o que fez na cooperativa e que representou um diferencial?
Inovar em todos os sentidos é sempre um desafio, mas acreditamos e estimulamos sempre a sua necessidade. Mesmo trabalhando com o artesanato tradicional, compreendemos, que o mundo está em constante atualização, e desta forma também temos buscado nos reinventar.
Ano passado participamos do projeto da Rede Artesol em seu quinto ano. Ele trouxe como novidade o Laboratório de Inovação Artesanal. Fomos um dos cinco grupos de artesãos de diferentes partes do país, selecionados para o desenvolvimento de uma coleção. Além de proporcionar o repasse de ferramentas metodológicas para que os artesãos criem coleções de forma autônoma, o Laboratório tem também o objetivo de ampliar os negócios, por meio da diversificação qualificada dos produtos.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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