Hoje são 4.880 cooperativas distribuídas pelo país e atuantes nos mais diversos ramos. Esse movimento alcançou a marca de R$784,3 bilhões, uma parcela 20% maior do que no ano anterior. Do total, 2535 estão há mais de 20 anos no mercado, apenas 1938 tem entre 21 a 40 anos e 597 com mais de 40 anos.
A Cooperativa Castrolanda, que fez 71 anos, conta com unidades de negócios divididas em operações agrícola, carnes, leite, batata, administração e Industrial. A cooperativa figurou por mais de um ano, entre as maiores companhias do país, segundo um levantamento realizado pelo `Valor 1000`, do Valor Econômico.
Em conversa com a MundoCoop, Willem Berend Bouwman, Diretor Presidente da Castrolanda, relata a história da cooperativa, os desafios e os segredos para as sete décadas de sucesso.
O que é determinante para o sucesso de uma cooperativa?
Toda cooperativa tem uma base de valores e princípios que norteiam os trabalhos de cooperados, colaboradores e parceiros. No nosso caso, um dos valores que mais chama a atenção neste processo de desenvolvimento é a união. Quando os problemas são discutidos em grupo e as decisões são tomadas em conjunto, as chances de erro são menores. É assim que construímos ideias para que a Castrolanda se desenvolva ano após ano.
A cooperativa é um negócio como qualquer outro?
Depende de como olhamos para o cenário. Vendo do ponto de vista mercadológico, a cooperativa precisa se posicionar como uma grande companhia, assim como qualquer outra. No entanto, o que nos diferencia é o modo como nos portamos nas atividades e os seus processos internos, em que a filosofia cooperativa está muito bem aflorada. Ao longo dos anos, a imensa maioria das pessoas envolvidas com nosso trabalho entenderam que é necessário olhar para o coletivo, em detrimento das conquistas individuais. Isso é o que nos faz uma companhia forte e bem-sucedida no agronegócio.
Por que algumas cooperativas se tornam centenárias e outras não?
É difícil elencar um ou outro fator específico que venha a ser determinante para a insolvência de uma cooperativa. Acredito que seja necessária uma boa gestão profissional no dia a dia, com foco na eficiência operacional e na produtividade. Claro que, a falta de união entre os cooperados pode ser um grande problema para qualquer uma delas, desencadeando uma série de outros agravantes na sequência. A Castrolanda construiu uma belíssima história de mais de 70 anos graças ao trabalho de cooperados e colaboradores que sempre estiveram unidos e focados em manter a cooperativa no rumo do desenvolvimento.
Por que muitas cooperativas morrem?
Cooperativas são feitas por pessoas, e quando elas não estão unidas as chances de quebra são muito maiores.
Quais são as maiores dificuldades para a sobrevivência de uma cooperativa?
Uma cooperativa atua pensando no longo prazo, dando segurança aos seus cooperados e garantindo um crescimento sustentável. Em uma visão inicial, um produtor pode se sentir tentado a deixar o modelo cooperativista e partir para outro segmento por entender que os lucros são maiores. No entanto, os riscos também aumentam. A cooperativa funciona como um porto-seguro de cooperados em momentos de insegurança e, sendo assim, tem custos maiores em curto prazo. O grande desafio é mostrar ao produtor, que o trabalho não se desenvolve de uma hora para a outra dentro de uma cooperativa, mas que em longo prazo ele será muito mais vantajoso.
Em termos de inovações, quais são os maiores desafios para as cooperativas?
O agronegócio cooperativista sempre seguiu tendências tecnológicas no campo, mas acabava pecando nas questões administrativas. Nos últimos anos, as grandes cooperativas do agro entenderam a importância de investir em tecnologia para a gestão das suas atividades. No entanto, esse ainda é um processo desafiador.
Além disso, acredito também na inovação das relações entre cooperados e cooperativas por meio das ferramentas tecnológicas. Aqui na cooperativa, por exemplo, criamos o Ágil Castrolanda, recentemente premiado na categoria Inovação do Prêmio SomosCoop. Nele o nosso produtor consegue, por meio de dispositivos móveis, como celulares e tablets, ter acesso a serviços de todas as nossas unidades de negócio. O projeto foi implementado com base em três premissas: aproximar o cooperado sem a necessidade de ele estar presente fisicamente na Cooperativa; acompanhar as necessidades de prestação de serviços de forma ágil e segura; e gerar uma onda de transformação digital com benefício direto para o associado.
Por que esses negócios prosperam tanto em sua opinião?
O modelo cooperativista foi fundado com base na união e entendeu que este é o caminho do crescimento. Tendo isso em mente, notou que a concorrência é prejudicial para todos aqueles que a praticam. Com isso, passamos a integrar ações, realizar grandes investimentos em conjunto e nos tornamos ainda mais relevantes no mercado. Acredito que este é um pouco que muitas empresas tradicionais ainda não entenderam: o trabalho em conjunto é muito mais vantajoso que a concorrência.
Por que o mercado precisa abrir os olhos [e espaço] para esse modelo?
Grandes companhias ainda não entenderam que a concorrência é prejudicial, enquanto as cooperativas já perceberam os benefícios do trabalho em conjunto e estão se desenvolvendo em belos exemplos de intercooperação. Um grande exemplo é a Unium, marca que integra o trabalho da Castrolanda junto à Frísia e a Capal. São cooperativas que atuam em regiões muito semelhantes e, caso trabalhassem como concorrentes, teriam muito mais dificuldades do que o atual modelo de atuação.
O que eu enxergo também para a cooperativa é que ela possa ser uma facilitadora, principalmente de desenvolvimento de pessoas. Em primeiro lugar, do seu associado, para que ele tenha a oportunidade de permanecer no campo e consiga trazer sustentabilidade para a sua família.
Do lado do nosso colaborador, como cooperativa, também queremos deixar um legado. Queremos nossos colaboradores treinados e desenvolvidos, que eles enxerguem na Cooperativa uma oportunidade de crescimento profissional e pessoal.
Nas nossas regiões de atuação, esperamos que a Castrolanda de fato seja um diferencial. Que possamos trazer desenvolvimento para a sociedade conectada diretamente com a cooperativa e para quem está mais distante também, que seja uma alavanca de desenvolvimento em toda a região de atuação.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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