Após um ano de grandes desafios, o mercado de insumos agrícolas tem observado uma grande melhora em 2023. Segundo pesquisas, neste ano o Brasil deve registrar uma alta entre 2,5% e 10% no volume no consumo de fertilizantes, por exemplo. Com preços mais favoráveis ao produtor, as comercializações cresceram exponencialmente no primeiro semestre, e o cenário é de plena recuperação até o fim do ano, após a grande estagnação vinda do aumento dos preços no ano passado.
Em 2022, as 25 maiores cooperativas do país faturaram R$217 bilhões, 28% a mais do que o registrado em 2021. Os números refletem uma série de ações que têm impulsionado o crescimento delas, como a expansão geográfica, a verticalização da indústria, a profissionalização dos trabalhadores e a implementação de novos negócios para os cooperados. Entre eles, a revenda de insumos. Com tal cenário positivo, as cooperativas – que em 2022 começaram a explorar ainda mais esse mercado – tem ganhado mais espaço nesta modalidade de negócio, abrindo toda uma nova gama de possibilidades para o setor. Dados da Kynetec, indicam que as cooperativas já acessam 27% do mercado total de insumos.
Segundo João Vitor Zampeiri, Sócio-Consultor da ZMP Consultoria, 2023 deve se consolidar como o ano da retomada desse setor, e as perspectivas são as melhores possíveis. “Se o ano de 2022 viu uma alta no valor de insumos agrícolas, a situação em 2023 é inversa. Com o preço de fertilizantes e herbicidas caindo drasticamente, as empresas viram seu faturamento e rentabilidade cair em comparação com o primeiro semestre de 2022, deixando o mercado tenso e ansioso. Quem pode se dar bem nesse cenário é o produtor, que certamente encontrará preços de insumos melhores, se comparados ao ano passado”, afirma.
Neste cenário, as cooperativas rapidamente buscaram abraçar o setor de insumos, colocando-se como grandes aliadas dessa pauta. Para Zampeiri, o contexto para o movimento é de consolidação. “A presença e força das cooperativas no setor de insumos agrícolas está certamente consolidada, principalmente na região sul e sudeste, mas também em outras regiões onde o cooperativismo vem se expandindo, como MT, MS, MG e GO”, explica. Para isso, foi necessário que o setor compreendesse rapidamente este novo mercado, com estudo e ações que logo no primeiro ano, mostraram que as cooperativas possuíam a capacidade para se tornarem grandes players. “Vários fatores podem ser atribuídos a esse crescimento, entre eles, o alto nível de profissionalismo e desenvolvimento de pessoas, o alto nível de investimento em estrutura (novas lojas, pontos de armazenagem e troca de grãos), mas também características mercadológicas. Como ressaltado acima, o alto preço dos insumos puxou o resultado das cooperativas para cima”, completa.
Com tal presença forte no país todo, o setor tem transformado a dinâmica de produção, tornando o acesso a tais insumos ainda mais fácil, principalmente para os pequenos e médios produtores. Para Laura Deus, Líder da Estratégia de Acesso para Cooperativas da Bayer, o setor possui uma importante posição na cadeia de insumos, e fortalecer tal participação é fundamental para que o agronegócio como um todo, siga em pleno funcionamento, e capaz de suprir a demanda crescente por alimentos no mundo todo. “As cooperativas têm um papel fundamental na comercialização de insumos pela sua capilaridade, por estarem presentes de norte a sul do país e por estarem entre as principais responsáveis por fazer com que soluções inovadoras, novas tecnologias e insumos cheguem aos agricultores”, afirma.
Novos mercados, novos desafios
Desempenhando um papel em diversos setores da economia, as cooperativas adentraram o mercado de insumos com a promessa de atuarem como facilitadoras do acesso a esse recurso fundamental para o agronegócio. Um ano após os impactos da pandemia e da Guerra na Europa, o Brasil caminha em direção ao sonho da autossufiência na produção de insumos. Até lá, as cooperativas atuam como grandes canais para que tal produto chegue ao produtor. E até então, os resultados têm sido extraordinários.
Com 41 lojas de insumos agrícolas, a Integrada Cooperativa Agroindustrial vê no mercado de insumos uma oportunidade de estar ainda mais próxima do produtor, auxiliando-o em mais processos para que sua produção cresça e dê resultados ano após ano. Segundo Haroldo Polizel, Superintendente Geral da Integrada, a cooperativa possui um compromisso permanente com o auxílio aos mais de 12.500 produtores presentes no quadro de cooperados. “Acreditamos que a cooperativa tem esse papel fundamental junto aos agricultores, de fazer a conexão entre as empresas de pesquisa e desenvolvimento de produtos e a aplicação desse produto no campo. Nossos profissionais (agrônomos e técnicos agrícolas) levam informações e orientações aos produtores, no dia a dia, trabalhando com eles, para que tenham soluções seguras, de acordo com suas realidades, e êxito nas suas operações comerciais”, explica.
Contudo, nem tudo são flores neste ano. Após uma alta de 200% nos preços em 2022, o mercado de insumos vê um momento de queda e em breve, equilíbrio; com impacto direto nos resultados. Para Polizel, o momento é de cautela para o setor. “2023 é um ano de ajustes de todos os lados, com os agricultores se adaptando aos novos preços. E o produtor é sempre otimista. Produzir é o trabalho dele, é o que ele sabe fazer e irá fazer. Com olhos no futuro, acreditamos que o cenário será de investimentos por parte dos produtores, que vão buscar o aumento da sua produtividade, e as cooperativas terão uma demanda ainda maior”, completa.
Edson Martins de Oliveira, Gerente de Insumos da área de Negócios Agrícola da Castrolanda, tem uma visão alinhada em relação ao atual cenário, e acrescenta que nos próximos, outro fator deve estar no radar das cooperativas: a logística. “O ponto de atenção nesse momento é o fator logístico, principalmente com relação a entrega de fertilizantes, visto as capacidades de carregamento e expedição nas indústrias de fertilizantes, nos quais terão uma grande concentração de expedição em um curto período de tempo (julho a outubro)”, frisa. De forma estratégica e de olho nessa realidade, a Castrolanda optou por regionalizar sua atuação, de forma a manter a qualidade dos serviços prestados. “Nossa prioridade é focar no atendimento de seus cooperados de forma regionalizada, tendo como principal objetivo proporcionar um serviço de excelência e preços competitivos em toda a sua cadeia de insumos”, finaliza.
Como parte de sua estratégia, a Frísia – por sua vez – possui todo um time técnico voltado à área de insumos, mercado que a cooperativa explora desde a sua origem. “Temos um modelo de programações de insumos agrícolas construído pelos nossos cooperados com o nosso departamento técnico, que leva em conta as informações geradas pela nossa instituição de pesquisa – a Fundação ABC. Assim, é definido o manejo que será utilizado na safra e o time de compras de insumos da Frísia busca, através de escala e do momento de compras, os produtos com melhor relação técnica e comercial, visando sempre trazer maior rentabilidade ao nosso cooperado”, explica Ralph Sahd Jobbins, Gerente Executivo Comercial da Frísia Cooperativa Agroindustrial.
Com tal posicionamento, a cooperativa se adequa amplamente ao objetivo de democratizar o acesso aos insumos, utilizando-se de seu posicionamento para garantir que os pequenos também tenham acesso ao que precisam. “Graças ao seu modelo de negócio, as cooperativas apresentam amplo acesso aos novos associados, garantindo os mesmos direitos e deveres para todos. Desta forma, o pequeno e médio produtor encontra nas cooperativas uma parceira na aquisição de insumos competitivos e de qualidade”, destaca Carlos Eduardo Dal Lago, Especialista de Compra Fertilizantes da Frísia.
Sejam quais forem os rumos da economia nos próximos meses, resultados do primeiro semestre já indicam que o cenário brasileiro tende a se recuperar nos próximos, impulsionado pela indústria e pelo agronegócio, que segue como uma força da economia. Com a expansão dessa atividade, os insumos serão ainda mais requisitados pelos produtores, e tal contexto abre oportunidade para que as cooperativas abracem esse novo mercado, tornando-se grandes pilares do setor.
Para isso, será necessário entender os gargalos, e atuar para que os preços sigam equilibrados, assim como os estoques. Segundo Dal Lado, o momento é de entender o mercado, criando a capacidade para que as cooperativas atuem de forma ordenada e sólida, com menos vulnerabilidade a fatores externos. “O setor buscará trabalhar cada vez mais com ferramentas que possibilitem menor exposição ao risco e maior assertividade principalmente na comercialização de sua produção, visando reduzir o impacto das oscilações dos preços no seu negócio”, conclui.
Por Leonardo César – Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop Edição 113
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