Não se pensa mais em negócios sem se levar em conta a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. Atualmente, as cooperativas carregam em sua essência as preocupações com as mudanças climáticas, energia renovável, agricultura sustentável, entre outros temas. O assunto está presente na filosofia e nos princípios das cooperativas, já que elas têm como uma de suas bases o bem-estar social e ambiental.
A necessidade de as organizações trazerem cada vez mais o tópico sustentabilidade para os seus cotidianos, também vem com o interesse dos consumidores. Eles estão cada vez mais exigentes e consideram a sustentabilidade uma prioridade na hora de fazerem as suas compras. Isso foi o que indicou a pesquisa Global Human Capital Trends desenvolvida pela Deloitte em 2019. Ela apontou que 86% dos entrevistados consideram essencial que as organizações incorporem o assunto em suas ações.
PROJETO, PROGRAMAS E PREMIAÇÕES
No caso das cooperativas o assunto é mais profundo, ele está intrinsecamente ligado as suas origens, já que elas são comprometidas com o desenvolvimento local, a sustentabilidade e o meio ambiente.
O Anuário da Reciclagem de 2021 concluiu que 358 cooperativas respondem pela reciclagem de pelo menos um milhão de toneladas de resíduos sólidos a cada ano. O compromisso ambiental das organizações segue duas trilhas: o desenvolvimento de atividades de preservação ambiental, recuperação de seus danos e as cooperativas estruturadas em torno das atividades ambientais.
As cooperativas agropecuárias estão na vanguarda da recuperação ambiental, um dos casos de sucesso é a Cooperativa Dália de Alimentos, que fica em Encantados, no Rio Grande do Sul. Ela patrocina um projeto de logística reserva de embalagens, que retira toneladas de resíduos do meio ambiente e promove, reuso e aproveita a água de chuva.
Outros exemplos de cooperativas que tem apostado em educação ambiental é o da Aurora, com sede em Santa Catarina. Ela criou o Prêmio Escola Cidadã, que reconhece as melhores iniciativas ambientais de estudantes e professores.
No Paraná, a Cooperativa Agrária Industrial desenvolve o projeto Mata Verde, que tenta recuperar a cobertura vegetal, além da implementação do projeto da Cooperativa dos Técnicos de Preservação Ecológica de Guarapuava (Coap).
No mesmo caminho segue a Coap, a Cooates, de Barreiro, em Pernambuco, que foi contratada pelo poder público para liderar as iniciativas de mitigação dos danos ambientais associados à ampliação do porto de Suape.
Várias cooperativas também têm investido em estratégias que compensem as emissões de carbono. Uma delas, a Ceriluz, que tem dois projetos credenciados pela ONU para negociar os créditos de carbono.
Já a Coprodia, cooperativa agrícola do Mato Grosso nasceu envolvida com as práticas ESG. Ela focou na inovação como fonte de combustível para gerar uma imagem positiva junto à comunidade. A organização tem produzido cerca de 180 milhões de litros de etanol e 2,7 milhões de sacas de açúcar por ano.
Já a CAMTA tem impulsionado a exportação por meio do cooperativismo sustentável. A organização, que foi criada em 1922 tem como foco a produção e colheita de pimentas, cacau, hortaliças e arroz.
Além de investir em um modelo exclusivo de agricultura sustentável, conhecida por Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA).
Em termos de ações, a Centcoop, que surgiu em 2006, no Distrito Federal, unindo 21 cooperativas e associações de catadores de materiais reciclados tem otimizado a sua produção, melhorado a qualidade de vida dos trabalhadores e se esforçado para seguir na luta contra as mudanças climáticas.
Nesse caminho tem ido a Capal, cooperativa agroindustrial de Arapoti, no Paraná. Ela criou o Programa de Monitoramento de Emissões Atmosféricas (PMEA). O processo é feito com base nos padrões definidos pelas Resoluções e Normas do Paraná, por meio de empresas terceirizadas certificadas e aptas a fornecerem relatórios precisos.
A Unimed Londrina criou o Projeto Bosque da Vida, que existe há mais de 11 anos, e tem como objetivo promover a conscientização ambiental, por meio do plantio de mudas de árvores frutíferas no país. Já foram plantadas mais de 10 mil árvores em locais de preservação ambiental de Londrina, além da entrega de mais 16 mil mudas.
O Lar, cooperativa agroindustrial de Medianeira também se preocupa em reduzir os impactos ambientais, por meio da conscientização. Eles criaram o Programa regional Cultivando Água Boa, promovido pela Itaipu. O intuito dele é tratar, proteger, recuperar as nascentes de todas as áreas com o potencial hídrico. Além de desenvolver iniciativas de replantio de espécies de árvores nativas em algumas áreas destinadas à reservas de preservação.
INTERCÂMBIOS E INTERCOOPERAÇÕES
Muito projetos e programas de sustentabilidade fomentam intercâmbios e intercooperações. Um deles é o do Sicredi, que assinou um acordo de intercooperação com a Federação das Cooperativas de Poupança e Crédito da Costa Rica (FEDEAC) no final de fevereiro. O convênio foi firmado durante a visita da comitiva no país ao Centro Administrativo Sicredi em Porto Alegre e intermediado pelo Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito (WOCCU). O objetivo da parceria é compartilhar as melhores práticas ESG com a FEDEAC, que serviram de exemplos para a instituição da Costa Rica.
João Pedro Segabinazzi Stephanou, Gerente de Operações Estruturadas e Finanças Sustentáveis no Banco Cooperativo Sicredi, explica que o cooperativismo já possui um alinhamento natural com as práticas sustentáveis devido ao seu grande envolvimento nas comunidades onde atua.
“Apoiar programas e projetos em prol do meio ambiente é fundamental para gerarmos impacto positivo na sociedade e promovermos o desenvolvimento dos nossos associados e da sociedade, de forma sustentável. Entendo que as cooperativas são um importante participante nesse mercado, visto que o desenvolvimento social e a preservação ambiental das comunidades se refletem nas próprias cooperativas”, lembra Stephanou.
O envolvimento das cooperativas com a sustentabilidade tem lhes rendido prêmios, como o da Sicredi pelos financiamentos de projetos de energias renováveis, eficiência energética e agricultura sustentável. No ano passado, ela foi reconhecida com o Environmetal Finance Impact Awards 2023, na categoria Lender of the year.
Entre alguns fatores que colaboraram para o seu reconhecimento estão os volumes de empréstimos concedidos a sustentabilidade, transparência nas métricas de impacto positivo, planejamento da instituição para melhoria contínua de suas estratégias e resultados de investimentos de impactos positivos.
A carteira relacionada à Economia Verde do Sicredi soma em mais de R$ 35 bilhões. Deste saldo 23% correspondem à agricultura de baixo carbono e 16% à energia renovável.
“Durante o ano de 2023, o Sicredi recebeu três prêmios internacionais referentes aos esforços em Finanças Sustentáveis durante o ano anterior (2022). Por parte da revista britânica Environmental Finance, fomos premiados na categoria de “Empréstimo Social do Ano” devido a uma captação de USD 100 milhões para financiamento de Micro, Pequenas e Médias Empresas lideradas por mulheres e na categoria “Financiador do Ano” devido às muitas linhas sustentáveis que disponibilizamos aos associados. Por parte da organização SME Finance Forum, estabelecida pelo G20 e gerenciada pela Internacional Finance Corporation (IFC), recebemos o prêmio de “Título de Sustentabilidade do Ano” pela emissão inédita de uma Letra Financeira Sustentável no mercado brasileiro. Também obtivemos pela mesma entidade uma Menção Honrosa na categoria de “Financiador de Mulheres Empreendedoras”, finaliza Segabinazzi.
Por Priscila de Paula – Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop Edição 117
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