Apoiando pessoas, impulsionando negócios e transformando comunidades. Foi com esse tema, que a Câmara Temática de Comunicação e Marketing do CECO/OCB, chamou as cooperativas brasileiras a celebrarem o 75º Dia Internacional do Cooperativismo de Crédito (DICC), comemorado nesta terceira quinta-feira de outubro.
A data, criada pelo Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (WOCCU) em 1948, homenageia o papel essencial do cooperativismo de crédito no desenvolvimento socioeconômico do mundo. Um movimento que, no Brasil, já agrega mais de 15,5 milhões de associados. O Ramo de Crédito se destaca em todo o país e desempenha um papel crucial na inclusão financeira de áreas remotas que possuem a necessidades de crédito para seus associados, sejam pessoas físicas ou jurídicas. O compromisso se mantém firme, durante todos esses anos, com o crescimento, a prosperidade e o desenvolvimento econômico.
E para celebrar essa importante data, a MundoCoop realizou a 4ª edição do CoopTalks Crédito, o maior congresso digital do cooperativismo de crédito. Dividido em duas etapas neste ano, o evento aconteceu nos dias 19 e 16 de outubro e reuniu mais uma vez representantes do setor para falarem sobre o impacto das cooperativas e como maximizá-los.
Para começar a manhã, o Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou o papel das cooperativas no desenvolvimento da sociedade e na inclusão financeira. “O cooperativismo de crédito tem sido um pilar fundamental para a democratização dos serviços financeiros e para o desenvolvimento econômico do Brasil. O tema escolhido para essa edição da celebração, reflete os exatos valores do cooperativismo. Apoiar pessoas, impulsionar negócios e transformar comunidades são ações que as cooperativas realizam todos os dias, e devemos continuar trabalhando para encontrar novas oportunidades para avançar em prol do país”, afirmou. Além disso, Neto reforçou o alcance das cooperativas, que já totalizam mais de 9 mil postos de atendimento e sendo a única instituição financeira em 322 municípios.
PAINEL DAS ENTIDADES
Destacando os principais avanços e desafios do setor, o Painel Especial das Entidades recebeu Moacir Krambeck, do Conselho Consultivo Nacional do Ramo Crédito da OCB (Ceco); Ivo Lara, Presidente na FNCC – Federação Nacional da Cooperativas de Crédito e Adriano Ricci, Diretor Executivo do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop).
Entre os temas em destaque, a comunicação intersistêmica esteve na pauta dos convidados. Para Ivo, olhar com mais atenção para o tema é fundamental, principalmente se o setor quiser criar ações conjuntas que tenham resultados de fato. “Ainda não conseguimos fazer um trabalho profundo de intercooperação, e as ações ainda não são suficientes. O desafio é como avançar sem perder a essência. As cooperativas não devem se preocupar em serem financeiras e sociais, mas sim, encontrar o social dentro da atividade financeira”, destacou. Além disso, Ivo também alertou para que as cooperativas olhem para seu modelo de negócio e se perguntem se ele conversa com a nova geração. “Será que o modelo de experiencia oferecido pelas cooperativas é jovem? Na prática, é possivel vivenciar a juventude dentro do ecossistema cooperativista?”, questionou.
Krambeck, por sua vez, destacou que a essência cooperativista deve ser sempre levada em conta em todos os processos, de forma que os avanços impulsionados pelo mundo externo, não resultem em uma perda de identidade do movimento. “O cooperativismo é uma instituição local, e seu objetivo é melhorar as condições da região em que ela atua. Se esse objetivo for atingido, as cooperativas estarão cumprindo o seu papel”, afirmou. Somado a isso, ele instigou que as lideranças do setor tenham coragem para buscar o novo e lembrou que para atrair novos cooperados, é preciso falar a linguagem deles. “Precisamos conversar na linguagem da sociedade. Os dirigentes precisam sair do casulo, do contexto da cooperativa, para falar com todas as pessoas, cooperados ou não.”
Do ponto de vista institucional, Adriano lembrou o importante papel das entidades do setor, que buscam fortalecer o diálogo sobre o movimento, levando-o a impactar e atrair mais pessoas. Para Ricci, a grande vantagem como instituição cooperativista, é poder ser uma via de comunicação que transmita esse impacto para toda a sociedade, mostrando com ações e resultados, a magnitude do movimento. “Uma das nossas missões é poder falar do nosso modelo de negócio, falar sobre minimização de riscos e os conceitos e potencial impacto do cooperativismo”, completou.
DIÁLOGOS DE INTERCOOPERAÇÃO
Já tradicional para quem acompanha o CoopTalks Crédito, a nova edição do Diálogos de Intercooperação chamou representantes das principais cooperativas de crédito do país, para falarem sobre temáticas que estão enraizadas no sistema de crédito cooperativo nacional. Com mediação do consultor em cooperativismo, Silvio Giusti, o painel contou com a presença de Tiago Schmidt, Presidente da Sicredi Pioneira; Walmir Segatto, CEO do Sicoob Credicitrus; Vanildo Leoni, Diretor Executivo da Viacredi.
Para começar, o tema foi a consolidação do modelo cooperativo. Para Leoni, não apenas as lideranças possuem papel na disseminação do movimento como também os colabores, a primeira via de contato com novos associados. “A partir do momento em que preparamos o colaborador, nós temos o primeiro passo para disseminar a entrega do propósito e valor cooperativista”, lembrou. Neste contexto, ele destacou como as cooperativas devem se voltar para a tecnologia e a inovação, sempre utilizando tais ferramentas como um meio, e não apenas como um fim; e no processo, a busca por novas oportunidades de inovar e desenvolver novos negócios.
Em seguida, a expansão da presença física do cooperativismo de crédito entrou em pauta, uma vez que o movimento abre uma média de 88 novos postos mensamente e já possui mais de 9 mil agências em todo o país. Para Schmidt, esse movimento – que vai contra a tendência do sistema financeiro geral – é o ponto que destaca o cooperativismo, sendo essencial para o seu modelo de negócio. “A expansão é necessária para o cooperativismo; o regulador entende no cooperativismo de crédito um caminho para atingir os objetivos do movimento, trazendo mais impactos social e econômico”, lembrou. Neste contexto, Giusti provocou sobre o perigo da perda da conexão com o cooperado no processo de expansão do movimento, questionando como seguir com tal movimento, sem perder os valores do setor.
Neste momento, Tiago lembrou sobre como a expansão pode, em alguns casos, representar um perigo para o próprio setor, principalmente quando uma cooperativa adentra um mercado onde outro sistema cooperativo já possui grande presença e share. Para ele, estar atento se existe uma relação de coopetição ou COMPETIÇÃO, é a chave para tomar decisões estratégicas, que fortaleçam o movimento de modo geral.
Para completar, outro tema em destaque foi o resgate da essência e da conexão com o cooperado. “Levar em consideração a cultura da comunidade é o fator que ditará como será a conexão da cooperativa com os seus cooperados. A cooperativa tem a missão de ser uma via que fomente a economia local, através da economia da cooperação”, reforçou Vanildo, ao lembrar que as cooperativas nunca devem perder o olhar próximo e humano para com o cooperado. Para ele, a cooperativa tem que demonstrar na prática, seus valores e filosofia cooperativista. “O cooperado tem que sentir que existe o compromisso com a comunidade. E as lideranças devem garantir que a cooperativa estará do lado do associado, ouvindo suas necessidades”, completou. Tiago finalizou ressaltando que as pessoas, o cerne do movimento cooperativo, devem sempre ser o foco das estratégias e o motivo pelo qual, a cooperativa existe. “Não basta conhecer as cooperativas, temos que conhecer os rostos que estão presente nessas cooperativas. A partir disso, iremos cooperar de forma mais genuína.”
NOVAS TENDÊNCIAS PARA O COOPERATIVISMO DE CRÉDITO
Desde sua criação, as cooperativas de crédito têm desempenhado um papel essencial na busca por avanços sociais e mercadológicos. E em um momento em que o mercado precisa reaprender todos os dias, o cooperativismo tem sido protagonista em diversas pautas, algumas delas em destaque no segundo dia do CoopTalks Crédito.
Dando sequência a um primeiro dia cheio de trocas, a 4ª edição do CoopTalks Crédito retornou para uma maratona de conteúdo e de conhecimento. Com painéis e palestras reunindo 13 especialistas e nomes do mercado, o encontro virtual buscou destacar os temas que formam os pilares do novo mercado, trazendo luz sobre trilhas que as cooperativas devem ficar atentas para serem relevantes e competitivas. Com apresentação do sócio-fundador e diretor da MundoCoop, Douglas Ferreira, a jornada de conteúdo que durou 5 horas e reuniu mais de 3 mil inscrições e 1200 pessoas simultaneamente, iniciou seus trabalhos com o objetivo de ser o ponto inicial de uma longa conversa para o setor.
Trazendo o “Mercado Financeiro e o Cooperativismo”, o economista e colunista da MundoCoop, Luis Artur Nogueira, falou sobre o atual cenário da economia mundial. Segundo ele, o contexto de guerra que se estende na Europa e Oriente Médio deve elevar a inflação e impactar diretamente no crescimento mundial. No Brasil, “O agronegócio continuará como grande impulsionador da economia, apoiado pelo mercado como um todo e principalmente pelas cooperativas”, e o setor tem a capacidade de continuar sendo um importante player da economia brasileira, não somente em resultados efetivos, mas também na busca por uma agenda econômica mais equilibrada.
Continuando os trabalhos, o painel “Tendência: sistema financeiro cooperativo no Real Digital” buscou explicar melhor o papel das cooperativas de crédito na implementação do Real Digital, o Drex. Em fase de testes, a moeda digital brasileira tem chamado atenção mercado e as cooperativas – através do consórcio SFCoop, que reúne Sicoob, Sicredi, Ailos, Cresol e Unicred – já se mostraram fundamentais para a aplicação da ferramenta.
No painel, que contou com a participação de Marco Aurelio Fernandes, Analista de arquitetura de TI do Sicoob; Solange Parisoto, consultora digital do Sicredi e Marcio André Falcão, diretor de tecnologia da Cresol Confederação, os representantes explicaram como o Drex tem sido desenvolvido e suas reais aplicações. “O Drex é muito mais do que uma moeda ou meio de pagamento, é uma plataforma para contratos inteligentes e seguros”, reforçou Solange, destacando que a moeda digital deve trazer mais segurança e legitimidade para as transações. Marco Aurelio, do Sicoob, reforçou que o formato digital do Real não será a única opção dentro do Drex, com a inserção de outros ativos financeiros. “Hoje o Drex é a moeda digital usada no varejo e outros processos, mas também será uma plataforma que adicionará outros ativos financeiros essenciais para o brasileiro”. Para Marcio Falcão, é importante se atentar ao fato de que as cooperativas desempenham, mais uma vez, um papel importante na agenda de inovação financeira. “O cooperativismo será mais uma vez inovador e disruptivo, ao colocar no mercado uma novidade que irá inaugurar um novo momento na agenda da inclusão financeira, que é o principal papel das cooperativas de crédito”, concluiu, destacando que o setor será o canal para que a usabilidade do Drex seja de fato, mostrado para a sociedade.
Destacando “O papel da liderança na era da inovação”, a palestra de Volmar Machado, Mentor Executivo e Professor, buscou consolidar a importância de olhar para a inovação como um processo estratégico, capaz de alavancar negócios e impactar positivamente as pessoas. Para Volmar, no contexto cooperativista, o maior desafio é a criação de um ecossistema que realmente desempenhe tarefas que coloquem a inovação em prática, observando-a como um pilar vital para a longevidade da cooperativa. Neste processo, incentivar lideranças e colaboradores a buscar pela inovação deve ser uma tarefa constante, sem ser negligenciada.
“A Inteligência Artificial para Decisões de Crédito” foi o foco do segundo painel do dia, mediado pelo consultor e especialista Sergio Constantini, e que recebeu o Consultor Senior de Soluções para América Latina na Provenir, Ricardo Wodianer; e Rafael Soares, Diretor de Risco (CRO) da Jeitto. Com foco no papel da IA no cooperativismo e como essa ferramenta pode alavancar o setor, Ricardo começou lembrando que “É preciso ter ferramentas que permitam que o processo de inovação ocorra. Ter essas ferramentas aproximam usuários não-tech de um ambiente tecnológico mais abrangente”. No ecossistema cooperativo, a aplicação da IA possui diversas frentes, principalmente na construção de uma maior proximidade com o cooperado, esse que é – segundo Constantini – o principal ativo das cooperativas. Para Rafael, a IA desempenhará um importante papel na personalização dos produtos, tornando todo o processo mais próximo do cooperado. “A IA pode ajudar a detectar e ajudar na jornada do usuário dentro do ecossistema da cooperativa, criando soluções mais personalizadas”, destacou. Ricardo por sua vez salientou que “É no ponto da personalização e jornada do cliente que a utilização da Inteligência Artificial pode agregar ainda mais para o ecossistema cooperativo”.
Com o tema “Experiência do cliente: relacionamento com os cooperados”, o Sócio da consultoria Zxperience e Professor de Transformação Digital da FIA, Rafael Caetano, trouxe luz para o atual mercado onde as cooperativas estão inseridas, lembrando que há uma maior competitividade, com players que não faziam parte do ambiente de crédito e que agora, criam soluções voltadas para esse ecossistema. Para ele, é necessário que as cooperativas entendam o perfil do novo consumidor, acostumado com hábitos criados pela própria configuração de mercado vista na atualidade. “O consumidor determina por onde quer ser atendido, e ele não tolera precisar repetir para múltiplas empresas quais as suas demandas e vontades. Quem conseguir transformar valor em oportunidades, conseguirá avançar e abraçar esse novo consumidor, já alinhado com um ambiente de negócios mais sofisticado e com acesso a mais informações”, afirmou. Para Caetano, as cooperativas precisam repensar processos, criando uma gestão mais dinâmica e integrada, que acompanhe a jornada do cliente do ponto A ao B.
Caminhando para a hora final do CoopTalks Crédito, o painel “Os negócios estão mudando, as cooperativas estão preparadas?” recebeu Elisa Simão, Sócia da PWC Brasil e Líder do Centro de Excelência para Cooperativas de Crédito; e Ademar Schardong, Conselheiro de administração e Consultor empresarial. Destacando como a gestão cooperativa deve se comportar, Elisa lembrou que um dos maiores desafios da atualidade é o crescimento, que desafia o propósito da cooperativa. “Entre os principais desafios está a manutenção sustentável do crescimento e o acompanhamento das tendências de mercado”, ressaltou. Mesmo em meio à crescimento constante e frutífero, o setor não pode deixar de lado aquilo que é sua característica original, sempre alinhando práticas novas do mercado com a expertise cooperativista. “O propósito da cooperativa, que é a agregação de renda e do empreendedorismo, está no cerne da cooperativa. Quando o objetivo e o propósito não estão em sintonia, estamos negligenciando o associado”, alertou Schardong, lembrando que para garantir a longevidade do setor, é vital que se criem programas e práticas que formem as próximas lideranças do setor.
Olhando para o futuro, o painel “2024, cenários e impactos do cooperativismo” buscou desvendar o que as cooperativas podem esperar para o próximo ano. Com participação do Economista Comportamental, Marcio Nami; e Diogo Angioleti, especialista em finanças e comportamento do Sistema Ailos, o bate papo lembrou que as instituições financeiras cooperativas devem sempre estar atentas às tendências de mercado. Para Diogo, o cooperativismo seguirá firme enquanto haja pessoas engajadas com sua filosofia. “O cooperativismo acontece quando acreditamos que o sistema pode mudar realidades e impactar ainda mais pessoas”, pontuou. Para Nami, é importante que o setor busque aquilo que o destacará diante do mercado. “O cooperativismo gasta tempo e energia se preocupando com a sua diferenciação de bancos tradicionais, quando deveria buscar aplicar tecnologia para criar tendências que definirão o futuro do mercado”, reforçou. Para completar, os painelistas lembraram que o movimento deve investir mais em comunicação e intercooperação, apoiando seu crescimento naquilo que sempre definiu o setor: sua identidade.
Para finalizar a programação, o sócio fundador da Yassaka Educação Comercial, Kasuo Yassaka, deu uma aula de vendas falando sobre “Como vender serviços financeiros”. Kasuo lembrou que a estratégia de vendas deve envolver todos os níveis da liderança que estejam diretamente ligados com o processo de penetração do negócio, e que velhas práticas de formação de colaboradores devem ser repensadas. Para ele, no momento do negócio é necessário criar condições para que sejam despertadas sensações no possível cliente, de forma que ele transmita quais são suas demandas e objetivos. O gestor é um tutor do processo de vendas da empresa, e ter sua participação é fundamental para o sucesso nos negócios. Para bons negócios é necessário entender o produto não apenas como um simples serviço, mas como uma ferramenta de tranquilidade e prosperidade para o cliente e cooperado.
Por Redação MundoCoop
Cobertura exclusiva publicada na Revista MundoCoop, edição 144
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