As mudanças climáticas e a agricultura estão intimamente ligadas, podemos dizer que elas andam de mãos dadas. A alteração de clima como por exemplo: aumento de graus-dia, excesso ou falta de chuva, além da seca, ventos, granizo, El Niño — fenômeno climático natural responsável pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico —, são fatores que podem causar prejuízos severos quando se fala da produção agrícola, o que coloca em risco a segurança alimentar e o bom desempenho das safras.
Sem dúvida, o mais afetado com isso tudo é produtor rural que está na linha de frente e sente os impactos diretamente no seu bolso. Conforme publicação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), neste ano, a safra 2024 será 3,8% menor que a de 2023 por conta da instabilidade climática, ou seja, redução de 12 milhões de toneladas, conforme previsão do instituto.
SEGURO RURAL E PROAGRO
Uma das alternativas oferecidas para o produtor se precaver e não ter dor de cabeça é o seguro rural, o mesmo visa proteger o homem do campo contra os riscos inerentes a qualquer atividade agrícola — a contratação deve ser feita logo no início da safra para que a lavoura fique protegida de qualquer emergência até a colheita —.
Segundo dados do Atlas do Seguro Rural (2022) — órgão ligado ao Ministério da Agricultura e Pecuária que divulga dados do setor — entre as contratações, 33,4% são destinadas ao cultivo da soja, 22,7% para o milho 2ª safra e 11,1% para trigo. Já a uva e café completam as culturas mais contratadas por este público, com 7,9% e 6,1%, respectivamente.
Para o head comercial de Seguro Agro da MAPFRE, Afonso Arinos, “o perfil do produtor rural que investe em seguro é diversificado, abrangendo desde pequenos agricultores familiares até grandes produtores. No entanto, os pequenos e médios agricultores muitas vezes enfrentam maior vulnerabilidade diante dos riscos agrícolas, devido à sua menor capacidade de absorver perdas financeiras”, diz.
Arinos observa também a importância das cooperativas agropecuárias e corretores especializados na disseminação do seguro rural, já que “atuam como pontes entre os produtores e as seguradoras, facilitando o acesso ao seguro, oferecendo orientação e suporte na contratação e administração das apólices”.
Segundo ele, além de todo o apoio e acompanhamento do processo de compra, manejo e venda, a cooperada conhece o histórico de produção dos associados e os riscos aos quais estão expostos, facilitando na hora da negociação com o mercado segurador, dando mais segurança ao contratante do serviço.
Vale lembrar que atualmente, existem várias formas de pagamento disponíveis no mercado se tratando de seguro rural, desde parcelamento em boletos ou débito em conta, conforme a cultura. Além do Programa de Subvenção do Seguro Rural (PSR) ou Proagro — iniciativa do governo federal, com custo reduzido, responsável pelo pagamento de até 40% do prêmio —.
“O mercado de seguro vem crescendo ano a ano em volume de prêmios e apólices emitidas, mas ainda é muito sensível aos incentivos das políticas de subvenção aos seguros”, observa Afonso.
REFLEXO NAS COOPERATIVAS
Responsável por produzir carne de frango e de tilápias (parte delas congeladas) entre outros, Alfredo Lang está à frente da Agroindustrial C Vale. Questionado sobre como o clima afeta diretamente a produção de alimentos, Lang explica “o clima afeta a oferta de grãos, principalmente milho e soja, que são a base para a produção de rações”.
Alfredo conta que de 2020 até agora, “três estiagens reduziram a produção desses grãos, encarecendo o custo das rações, com resposta no preço final da carne e do leite”.
Para o empresário, “os problemas climáticos encarecem os produtos, causam desequilíbrio entre custos e receitas, já que o consumidor passa a pagar mais caro pelos alimentos”. Em consequência, cai o consumo e todas as cadeias produtivas de alimentos enfrentam mais dificuldades de comercialização.
Por outro lado, o diretor acredita que uns dos desafios do Brasil “é ampliar o subsídio ao seguro agrícola, como existe nos Estados Unidos, por exemplo — dados divulgados pela consultoria Agroícone mostram que a área coberta saiu de 160,89 milhões de hectares em 2020, para mais de 210 milhões em 2023 —.
“Temos que viabilizar um seguro para a renda de produtor, para garantir que ele continue operando, pagando suas contas em dia e mantendo-se na atividade”. Por fim, Alfredo relembra a quebra consecutiva de safra do Rio Grande do Sul por conta da estiagem e pergunta “como é que um produtor vai se manter na atividade numa condição dessas?”.
CLIMA E PRODUTIVIDADE
Uma lavoura de sucesso, depende de vários fatores, entre eles a previsão do tempo possibilita saber quando irá chover, quais os dias e meses menos ou mais propensos para o plantio, manejo, irrigação do solo, além de definir o calendário das atividades nas lavouras.
Por causa dos avanços tecnológicos, o hoje e dia o agricultor possui diversas ferramentas que podem ser utilizadas para prever o comportamento do clima em sua região, seja através do noticiário, internet ou pela tela do celular.
“O produtor deve estar atento as informações climáticas mês a mês para ir adequando sua estratégia no campo, já que nenhuma safra é igual a outra”, fala Angela Ruiz, responsável pela produção de conteúdo do Agroclima, subeditoria da Climatempo, consultoria especializada em meteorologia.
Dentro da porteira, uma das preocupações se tratando de clima é o El Niño — o fenômeno climático altera o regime pluviométrico e faz com que a falta de chuva (seca) impacte diretamente no campo —, impactando na produção agrícola e economia do país, com preços mais altos para o consumidor final.
“O verão de 2024, por exemplo, começou com El Niño forte, em seu pico de intensidade e várias regiões produtoras sentiram o efeito das condições climáticas adversas. Ao longo de janeiro 2024, seguiu com forte intensidade, mas seu decaimento começou em fevereiro e segue perdendo intensidade desde o mês de março”, avalia Angela.
“A expectativa, é de que o término do El Niño ocorra em abril passando para uma fase de neutralidade do oceano Pacífico Equatorial na costa do Peru até o final da estação. “Mesmo assim, algum efeito do El Niño ainda será sentido até o fim do outono”, alerta.
Para julho “espera-se o início do desenvolvimento de um novo La Niña — fenômeno natural que consiste no resfriamento das águas do Pacífico, ocasionando chuvas fortes no Norte e Nordeste do Brasil e secas na região Sul — que deve prosseguir durante todo o inverno de 2024, e esta seguiria sendo a condição até o próximo verão, entre 2024 e 2025”, termina Ruiz.
É sabido, que prevenir os efeitos climáticos não é uma tarefa fácil, pois não está no controle humano prever o futuro, mas algumas estratégias podem e devem ser adotadas para reduzir ou mitigar os efeitos indesejados das temperaturas. Medidas simples, entre elas a de não atrasar as pulverizações fitossanitárias a fim de evitar pragas e doenças, investimento em técnicas de irrigação, plantio direto, rotação de cultura e práticas agrícolas sustentáveis são aliadas na hora do cultivo.
Por Iara Siqueira – Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop Edição 117
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