O cenário econômico de qualquer país pode ser influenciado por diversos fatores. Alguns são facilmente previsíveis e outros podem ser completamente inesperados. Quando a população de um país elege um governo com propostas populistas, não é difícil imaginar que a tendência das contas públicas será o rombo fiscal. Consequentemente, a inflação subirá, o que levará o Banco Central a elevar os juros. O resultado final será uma desaceleração econômica, piorando o cenário de renda e emprego da população.
No agronegócio, para citar um exemplo setorial, existe uma variável com alto teor de imprevisibilidade. Trata-se dos efeitos climáticos, que influenciam diretamente a produção de alimentos. Por mais que os estudos meteorológicos tenham evoluído nas últimas décadas, “São Pedro” sempre pode surpreender os cientistas. No ano passado, o El Niño foi extremamente rigoroso e gerou quebra de safra no Brasil. O caso mais extremo foi registrado no Rio Grande do Sul, vítima de inundações históricas.
A economia de qualquer nação também pode ser influenciada por decisões geopolíticas. O cenário internacional sempre precisa ser levado em consideração na hora de realizar qualquer projeção econômica dado que as disputas entre países normalmente têm elevado potencial de causar estragos. Em meu artigo última edição da Revista MundoCoop, abordei os efeitos da disputa comercial protagonizada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na presente edição, quero alertar sobre os riscos que uma guerra militar no Oriente Médio pode trazer para a economia global.
Em 2022, quando a Rússia iniciou uma invasão na Ucrânia, a reação imediata dos investidores foi demandar contratos futuros de petróleo com receio de que houvesse algum impacto na produção. Rapidamente, o barril disparou e ultrapassou o patamar dos US$ 100. Como o petróleo ainda é uma das principais fontes de energia do mundo, houve um grande impacto na inflação global, o que obrigou os bancos centrais dos principais países (inclusive do Brasil) a subir juros. Consequência previsível, o mundo inteiro cresceu menos nos meses seguintes.
Atualmente vemos o recrudescimento das tensões entre Irã e Israel, que atacou o rival sob o argumento de possível fabricação de bombas nucleares. Os Estados Unidos apoiaram a decisão do premiê Benjamin Netanyahu e também fizeram um ataque pontual ao Irã, que respondeu com bombardeios a Israel e a uma base americana na região.
Em poucos minutos, o valor do barril do petróleo passou de US$ 70 para US$80 e, a depender da escalada da guerra, poderia repetir o cenário de 2022 com seus respectivos efeitos nefastos para a economia internacional. Felizmente, ao menos num primeiro momento, houve uma sinalização de que será possível promover algum acordo na região. O presidente Donald Trump tem liderado as conversas entre Irã e Israel, e negociou um período de cessar-fogo.
Um dos temores do mercado financeiro é que o Irã possar fechar o Estreito de Ormuz por onde passa cerca de 20% da produção de petróleo do mundo. Se isso ocorrer, certamente o preço do barril ultrapassará a marca dos US$ 100. A percepção, no entanto, é de que o Irã não terá coragem de tomar essa decisão sob o risco de colocar os países vizinhos produtores de petróleo contra si. Sendo assim, o valor do petróleo rapidamente recuou para um patamar inferior a US$ 70, gerando alívio global.
Em todas as minhas palestras econômicas, eu mostro as guerras que estão ocorrendo no mundo e os possíveis conflitos que ainda podem surgir. Eu costumo dizer que normalmente esses conflitos bélicos são comandados por malucos que, por definição, tomam decisões tresloucadas a qualquer momento. Portanto, guerras podem ter desfechos imprevisíveis e efeitos incalculáveis.
Quando nós analisamos o atual mapa geopolítico, podemos perceber claramente que de um lado estão o Ocidente, Israel e o Japão, e de outro, Rússia, China, Irã e seus aliados. No limite, sempre existe o risco de uma guerra pontual acabar arrastando as principais nações para o conflito, gerando uma terceira Guerra Mundial. Eu, assim como a maioria das pessoas vivas, não presenciei as duas grandes guerras anteriores, mas é possível imaginar que um conflito desse tamanho tenha o potencial de paralisar a economia global. Na minha percepção, teria o mesmo efeito que a pandemia da COVID causou em 2020, ou seja, uma grave recessão internacional. Espero sinceramente que isso não ocorra, mas é nosso dever monitorar todos os conflitos militares. Afinal de contas, malucos a gente não controla.
Por Luís Artur Nogueira, economista, jornalista e palestrante. Atualmente é comentarista do programa “Faroeste à Brasileira” no Youtube da Revista Oeste e colunista da MundoCoop