COLUNA ECONOMIA & COOPERATIVISMO
O Brasil viverá nos próximos 12 meses um ciclo de juros altos em sua economia. O remédio utilizado pelo Banco Central (BC) é amargo, mas extremamente necessário para combater uma inflação que superou os 10% ao ano. Aliás, o fato de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter começado a elevar a taxa Selic no começo do ano passado colocou o Brasil numa situação mais confortável do que a de países desenvolvidos como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Sim, o Brasil terá uma inflação menor do que a dessas nações em 2022.
Esse conforto, no entanto, não impede as sequelas do remédio amargo no mercado de crédito. A Selic passou de 2% para 13,75% ao ano, patamar em que deve permanecer até meados de 2023, quando o Copom poderá dar início a um novo ciclo de afrouxamento monetária. A queda dos juros dependerá da postura do governo federal em relação às contas públicas. Se a gastança predominar, a inflação correrá o risco de sair novamente do controle.
Os juros para consumo e investimento já estão mais caros, o que desestimula a tomada de crédito por consumidores, empresários e empreendedores. É aqui que entra o papel do cooperativismo de crédito. Com um modelo de negócio completamente diferente daquele adotado pelos bancos comerciais, as cooperativas financeiras tendem a ganhar protagonismo neste ciclo de aperto monetário, oferecendo crédito a quem mais precisa e com taxas justas.
Conforme escrevi na última coluna, o cooperativismo é inclusivo e tem as pessoas no centro do negócio. Como o cooperado é um sócio, o lucro pelo lucro não é o objetivo final deste relacionamento. Saliento, porém, que bons resultados financeiros nas cooperativas são bem-vindos, pois garantem a sustentabilidade do sistema e a alegria dos associados, que recebem e vibram com esses ganhos.
É justamente em momentos de juros altos que o cooperativismo de crédito consegue oferecer taxas diferenciadas para seus cooperados. Quanto mais os bancos abusam dos seus clientes, mais claras ficam as vantagens das cooperativas. Na ponta do lápis, as taxas disponibilizadas aos associados são menores que as das demais instituições financeiras, o que, inclusive, favorece a baixa inadimplência do sistema cooperativista.
Por mais cruel que possa parecer, é justamente nesses momentos difíceis da economia brasileira, com juros nas alturas, que o cooperativismo de crédito brilha ainda mais. É a grande oportunidade de o marketing pisar no acelerador e mostrar as vantagens de um sistema que é ao mesmo tempo preocupado com o econômico e o social. Quando terminar esse ciclo de aperto monetário, será possível novamente contabilizar um novo ganho de fatia de mercado do cooperativismo em relação aos bancos comerciais. A sociedade, mais uma vez, agradecerá.
*Por Luís Artur Nogueira, economista, jornalista e palestrante. Atualmente, comentarista econômico e apresentador da Jovem Pan News e colunista da ISTOÉ Dinheiro
Coluna publicada originalmente na edição 108 da Revista MundoCoop
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