O South by Southwest 2025 (SXSW25), evento texano e principal termômetro global de inovação do mercado, revelou que o futuro das instituições será moldado por uma transformação profunda na forma de gerir organizações. A edição deste ano, realizada em março, destacou que diversidade, equidade e inclusão (DEI) evoluíram de iniciativas pontuais para se tornarem práticas indispensáveis para o sucesso das empresas.
Diante desse cenário de mudança apontado pelo SXSW25, o cooperativismo tem se apresentado não como alternativa, mas como modelo que já opera isso na prática. As pautas debatidas durantes os painéis do evento trouxeram reflexões sobre o estabelecimento de ações para DEI, a produção de ferramentas com Inteligência Artificial (IA) e iniciativas direcionadas à saúde mental do colaborador e demonstraram o protagonismo das cooperativas brasileiras na produção de novas maneiras de garantir uma gestão de sucesso. Essa sintonia com as mudanças globais é estratégica e permite às cooperativas amplificar seu diferencial. Enquanto outros negócios iniciam os movimentos de mudança, as instituições cooperativas evoluem e lideram a transformação por meio do ambiente organizacional coletivo, que transforma a essência colaborativa em vantagem competitiva nos novos mercados.
No território brasileiro, cooperativas do ramo agro, saúde e crédito são linha de frente na implementação de soluções práticas que alinham inovação tecnológica e gestão humanizada.
Cooperativismo e inclusão
Essa mesma lógica que aplica IA no campo se repete na esfera social. E o potencial do setor vai além da geração de renda, atua também como uma ferramenta estratégica para a redefinição de oportunidades.
Um exemplo expressivo é o trabalho da Cooperativa Social de Trabalho Artesanal e Familiar (COOSTAFE), que adota o cooperativismo como mecanismo de gestão para capacitar detentas e egressas do sistema prisional. A cooperativa idealizada pelo juiz Deomar Barroso, da Vara de Execução Penal de Belém, demonstra como a inclusão produtiva pode reduzir a reincidência criminal e fortalecer o setor local. “É fundamental reinserir essas mulheres na sociedade, mostrando que a transformação é possível por meio de ações estruturadas”, destaca Barroso em entrevista ao Portal O Liberal.
Do ponto de vista da gestão organizacional, a palestrante Renata Rivetti, especialista em felicidade corporativa e liderança positiva, reforça que a Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) são pilares essenciais para o crescimento institucional. Em análise publicada no UOL, ela alerta que a ausência dessas políticas pode comprometer engajamento, inovação e resultados financeiros. “Empresas que abandonam iniciativas de DEI perdem competitividade e capacidade de adaptação”, afirma em reflexão ao painel sobre o papel das lideranças nas ações de DEI no SXSW.
Dados do Ministério da Justiça mostram que apenas 30% dos egressos conseguem emprego formal no primeiro ano após a liberdade. A partir dessa perspectiva, o COOSTAFE gerou uma solução de gestão para esse desafio e transformou a vulnerabilidade em produtividade ao integrar populações em situação de risco e otimizar os recursos humanos, reduzindo custos com reincidência e ampliando a mão de obra qualificada.
Desafios para adesão consciente da Inteligência Artificial
Enquanto o cooperativismo avança como modelo de inclusão e desenvolvimento social, a aceleração tecnológica impõe novas demandas e reflexões ao setor. O crescimento das atribuições realizadas pela Inteligência Artificial surge como uma ferramenta capaz de otimizar processos, mas a implementação dos softwares exige atenção para que as cooperativas não se distanciem dos princípios do movimento.
Um dos painéis da SXSW, liderado por Angela Guzman, do Zoom, e Silvia Oviedo Lopez, do Canva, destacou que as ferramentas devem ser compreendidas como aliadas do colaborador e utilizadas como instrumentos para garantir a autonomia dos profissionais. Esse tipo de ferramenta tem se tornado cada vez mais comum em cooperativas de saúde e do agronegócio
Nesse entendimento, a gestão da Unimed Vale dos Sinos (RS) implantou o sistema da plataforma Voa Health, que transforma a experiência médica e a documentação clínica. Por meio de uma tecnologia avançada de reconhecimento de voz. O serviço fornecido pelo software capta as conversas entre médico e paciente e gera resumos automáticos do atendimento, para, assim, garantir que os profissionais da saúde dediquem mais atenção e cuidado aos pacientes.
No campo, a Cooperativa Agroindustrial Cocamar (PR) tem se destacado ao incorporar IA e visão computacional para classificação automatizada de grãos. Em sistema desenvolvido em parceria com o SENAI-PR, utiliza inteligência artificial para analisar imagens de grãos de soja e identificar impurezas e defeitos com precisão superior a 95%.
Ao Globo Rural, Guilherme Bulla Zago, especialista de projetos da Cocamar, destacou como a IA está transformando toda a cadeia produtiva, desde o campo até a comercialização. “O processo de classificação dos grãos é crucial na negociação da produção agrícola. É por meio dele que os grãos são avaliados para compor o preço de compra que a Cocamar oferecerá ao produtor”, explica.
Cases como o da Cocamar e da COOSTAFE mostram que o modelo cooperativista já opera no futuro desejado pelo mercado. Esses exemplos comprovam que a inovação em gestão passa, essencialmente, pela capacidade de conciliar eficiência operacional com impacto social. Enquanto empresas tradicionais se reinventam para adotar práticas colaborativas, as cooperativas lideram o movimento de inovação pelo fato de já operarem com essa lógica.
Por João Victor, Redação MundoCoop