Com quase 50% dos produtores com nível superior de ensino e mais de 50% com idade abaixo dos 40 anos, conforme dados da Kynetec, a nova geração do agro tem se mostrado cada vez mais relevante para o setor.
A nova geração do agronegócio é apaixonada e analítica. Apaixonada pelas possibilidades que o setor oferece e a força econômica, social e ambiental que ele é para o Brasil. Por isso, o defende e se preocupa com a construção da sua imagem. E é analítica para tomar as decisões. Na Era da Informação na qual vivemos, dados importam – e muito. Ela abandona os paradigmas das outras gerações, se preciso for, e se os números mostrarem que é a melhor opção.
A nova geração do agronegócio é determinada. Ela tem consciência de que o caminho para conquistar a credibilidade e a sua posição perante as outras gerações é desafiador e tem se preparado para trilhá-lo. Para isso, estão cada vez mais escolarizados, tecnificados e atentos às novidades do setor. Se antes falava-se que os jovens que não queriam estudar iam para o campo, hoje, eles têm que estudar para ir para o campo.
A nova geração é generalista e especialista. Eles têm e buscam adquirir conhecimento técnico sobre as culturas ou atividades produtivas que desempenham, mas sabem que é preciso mais do que isso para que o agro seja realmente um negócio. Investem e procuram desenvolver habilidades de gerenciamento, relacionamento e liderança, por exemplo. Muitos têm, inclusive, formações em diferentes áreas que não relacionadas a agronomia, veterinária entre outras.
A nova geração do agronegócio segue caminhos lineares e não lineares. Com grande parte vinda da sucessão familiar, eles são a continuação de um legado, a esperança da perpetuação de uma história. Eles seguem os caminhos dos pais, mas com passos diferentes. Mais firmes. Rápidos. Menos receosos quando é necessário fazer ajustes na rota. Porque essa também é uma característica da nova geração: eles não só não têm medo da mudança como a abraçam.
“Esses jovens estão no campo para buscar mudanças e inovações. Isso tem vindo muito forte. As gerações atuais tem se atualizado e evoluído muito mais rápido do que acontecia há alguns anos atrás, o que é um ponto muito positivo, porque o agro precisa se desenvolver rapidamente”, pontua Amanda Ardenghi de Oliveira, 21 anos, parte dessa nova geração.
Preocupados em fazer a diferença
Amanda mora em Lajeado do Bugre, Rio Grande do Sul, cursa agronomia na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI/FW e, atualmente, trabalha na Sicredi Raízes. Vinda de família de produtores, para Amanda, foi fácil escolher a graduação a seguir. A caminhada que tem trilhado, desde então, nos trabalhos e estágios que realiza, abriu seus olhos para enxergar a dedicação dessa nova geração em promover o crescimento do setor.
“Tenho visto a inclusão do jovem no agro de uma forma muito natural, jovens que defendem a bandeira do setor pelo sentimento de pertencimento. Vemos um movimento grande, nesse sentido, através das redes sociais, mídias em geral, músicas e outras formas de conteúdo onde esses jovens trazem um pouco da realidade do agro com as vivências do dia-a-dia. Mesmo que, de certa forma, também existam movimentos contra o agronegócio, existem pessoas aqui que estão defendendo esse setor e a rotina do produtor rural”, comenta.
Esse engajamento, complementa Amanda, vem acompanhado de muito estudo para ajudar no desenvolvimento da produção, no crescimento do setor, no investimento em novas tecnologias e em fazer a diferença para as famílias dentro dessa área.
Em um dos estágios que fez como monitora de uma turma que cursa Tecnologia em Agropecuária, a estudante e produtora rural observou o interesse que essa nova geração também tem em equilibrar o conhecimento técnico adquirido nas universidades e cursos com a vivência do mercado de trabalho.
“Eles procuram o curso noturno visando adquirir conhecimento técnico para seguir nas áreas em que eles já atuam e para que tenham, também, mais capacidade de auxiliar nas decisões das propriedades rurais ou das empresas em que estão. De certa forma, para poderem ter mais voz, e voz com conhecimento para participar dessas questões com embasamento. Tenho visto um crescimento muito grande de jovens atuando e fazendo o agro acontecer com inovação, tecnologia e conhecimento realmente técnico”, destaca.
Determinados em conquistar
A realidade da Alana Silva de Souza, de 23 anos, é diferente da Amanda, a não ser pelo gosto pelo agronegócio, que também vem do berço. A engenheira agrônoma e produtora rural tem desbravado territórios. Alana, que é diretora financeira de uma cooperativa de café em Mâncio Lima, no Acre, onde mora, é a mais jovem e a primeira mulher a ocupar o cargo de Secretária de Produção do município. Mas, se para a Amanda a inserção do jovem dentro do agro tem sido um processo natural e recorrente, para Alana, a situação ainda engatinha.
“Não sei se é falta de incentivo ou de interesse dos jovens, mas, infelizmente, ainda temos poucos jovens assumindo os cargos de responsabilidade e, também, envolvidos nesse meio do agro. Aqui no meu município, ainda vejo muitas pessoas já mais velhas se interessando por essa área”, explica.
Outro desafio encontrado pela Alana surge quando falamos na confiança entre as gerações. Ela sente que ainda existe certo receio de outras gerações em confiar no trabalho que as novas vêm fazendo no campo. Mas o caminho contrário também tem crescido.
“Não sei se é porque a gente tem aquela força de vontade, porque a gente quer provar que a gente é capaz. Isso acaba se destacando. Eu vejo que, enquanto tem uma parte que fica com receio, tem outra parte que quer, cada vez mais, envolver os jovens, porque gosta dessa determinação, dessa vontade que nós, jovens, temos de mostrar nossa capacidade e serviço”, reflete Alana.
O desafio, com isso, é encontrar e atingir esse meio termo. É conseguir conquistar o espaço e gerar a confiança com o produtor, sem que a idade seja um empecilho. Nesse contexto, acredita Alana, o incentivo familiar e o processo de sucessão podem ser a chave para inserir o jovem não apenas no setor, mas em todo o mercado que ele engloba.
“A gente precisa de movimento, de curso, de alguma coisa para colocar o jovem dentro, porque as futuras gerações são a nossa esperança, são quem vão dar continuidade. Às vezes, eu me preocupo muito com isso porque eu vejo que nós estamos em um patamar em que as novas gerações precisam estar envolvidas, aprendendo junto. Hoje já tem muitos programas de jovem aprendiz para tentar colocar esse jovem dentro do mercado de trabalho. Eu acredito, então, que o que a gente pode é, cada vez mais, implementar esses cursos e essas oportunidades”, conclui.
Via de mão dupla
Francieli Zanelatto, 28 anos, mora no Paraguai, é filha de produtores, engenheira agrônoma e, atualmente, cursa uma especialização em Gestão e Relações Públicas. Quando o assunto é conciliar as diferentes gerações que tem adentrado o agronegócio, ela se concentra na comunicação como a chave para o sucesso.
“Às vezes, o jovem não consegue se expressar da forma como ele quer ou a pessoa que está do outro lado não consegue compreender, ou vice e versa. Tem essa falha. Ou, às vezes, o jovem até quer apresentar e fazer as coisas, mas não tem o reconhecimento então acaba deixando de lado. E isso também acontece ao contrário. A pessoa da geração antiga quer passar para o jovem alguma coisa importante e ele não tem essa mentalidade de aceitar que poderia ser uma informação bem-vinda”, comenta.
Quando pensa na relação entre as gerações, Francieli enxerga uma via de mão dupla: “um vai com alguma coisa e o outro traz alguma coisa”. Para ela, é uma relação de troca de informações, principalmente quando falamos sobre o desenvolvimento tecnológico atual e a facilidade dos jovens em aproveitá-lo e a capacidade de incluir as outras gerações nesse contexto.
Por outro lado, esse mesmo ambiente de desenvolvimento tecnológico, de agilidade e transformação é o que contribui para outro traço importante desta nova geração: o imediatismo. Para a agrônoma, os jovens tendem a querer tomar as decisões de forma mais rápida e, em alguns momentos, esperam um reconhecimento das suas ações, deixando de lado a assistência técnica das empresas.
“O tempo de querer conversar com algum consultor, a gente vai na internet, pesquisa e tira a informação. Ou pegamos a informação que escutamos de outra coisa para parecer que temos algum conhecimento. Não sei se é por medo do jovem ir até alguém mais experiente e perguntar, mas, assim, não é errado, porque a pessoa que está mais há tempo no campo, trabalhando, obviamente vai ter mais experiência”, explica.
Visão de mercado
Eduardo Knoll Farah, 31 anos, é natural de Cuiabá, no Mato Grosso, e vem de família de pecuaristas. Mesmo tendo a fazenda como cenário de toda a infância, Eduardo seguiu caminhos diferentes na formação profissional: foi para a Alemanha, onde estudou Administração e, de volta ao Brasil, realizou um MBA em Agronegócio. Foi nesse mesmo período que ele assumiu a fazenda da família, junto do irmão, que é formado em Engenharia de Produção com pós-graduação em Gestão Ambiental.
“Meu pai adquiriu a fazenda junto com a minha mãe e, claro, começou a cuidar desse negócio, mas nunca foi um negócio principal dele. Meu pai trabalhava com comércio de arroz, então sempre tivemos mais essa visão de gestão da fazenda, a parte business mesmo, do que a parte técnica. Sempre enxergamos a fazenda como um negócio, então, pareceu fazer mais sentido uma formação em Administração ou Engenharia de Produção, no caso. Não adianta você ser eficiente na parte produtiva, tem que ser na parte comercial e na parte de gestão como um todo”, comenta.
Além da fazenda, Eduardo e o irmão também administram a Gado Certo, agtech criada pelos dois em 2016, quando seu irmão voltou de um mestrado na Califórnia, para comercializar gado através de um aplicativo: “a compra e venda de gado vem sendo feita da mesma maneira há mais de 40 anos, o que não tem problema nenhum. Mas, na hora que a gente olha uma Amazon da vida, o Mercado Livre, porque o comércio de gado não pode ser mais seguro, ágil e transparente?”
Para o administrador e produtor, o mercado de tecnologia, ainda que esteja em crescimento dentro do agronegócio, tem espaço para ser ainda maior e movimentar a economia do setor. É nesse contexto de buscar o que existe de novo no mundo e implementar nas propriedades, segundo Eduardo, que a nova geração deve se destacar.
“Acho que é uma boa combinação fazendas que conseguem ter experiência de quem está mais tempo lá, que toma decisões mais no feeling, com um choque de sangue novo, com novas ferramentas, novos planos. Tende a ser um bom equilíbrio”.
Inteligência Emocional
O interesse do Gabriel Cavalcante de Paiva, 33 anos, pelo agronegócio começou por um caminho diferente do da Alana, Amanda, Francieli e Eduardo. Isso porque Gabriel não tem família que vem do agro. Natural de Uberlândia, Minas Gerais, ele escolheu cursar agronomia em Lavras motivado pelas amizades e familiares de amigos inseridos no setor e as perspectivas que ele oferece.
Especialista de Marketing (acesso ao mercado) na Corteva há cerca de dois anos, Gabriel percebe o processo de sucessão como uma tendência que vem acontecendo com cada vez mais frequência: “esse processo é natural. Os jovens vão assumir os negócios das famílias e é um ponto que a gente tem que estar sempre atento à maneira de se comunicar, como esse público vê valor nas coisas, como eles realmente tem mais acesso a informação, que tipo de ação ou que tipo de serviço poderíamos levar para poder agregar valor ao negócio com esse público”.
Mais bem informados, escolarizados e conectados, uma das grandes revoluções que essa nova geração pode fazer é quanto a própria presença dentro do campo e dos escritórios. Para Gabriel, as tomadas de decisões devem começar a acontecer com mais frequência fora do campo, já que eles têm cada vez mais acesso a tecnologias, inteligência artificial, robôs entre outras máquinas que conversam com as atividades que ocorrem no campo, mas podem ser acessadas/geridas à distância.
“Enxergo que o que talvez possa ser a oportunidade aqui é que essa é uma geração que tem um pouco mais de dificuldade com a inteligência emocional. É uma geração que foi criada, às vezes, com muitos sim’s e, quando passam por algum problema, alguma crise, têm algum tipo de dificuldade maior do que a geração mais antiga. Eu acredito que aqui é um pouco da questão comportamental, mas eles são mais ágeis e não são tão relacionais igual à geração antiga”, destaca Gabriel.
A nova geração é o futuro e o agro é a saída
Alana, Amanda, Francieli, Gabriel e Eduardo são apenas uma parcela dessa nova geração. Geração essa que tem a desafiadora missão de perpetuar a força do agro com responsabilidade e sustentabilidade, além de comunicar essa força e combater as desinformações. Afinal, como diz a Alana, “o agronegócio é a saída para tudo. Para gerar emprego, renda, movimentar a economia do país, estado e município. É a saída para mudar a vida dos pequenos produtores, gerar alimento e tirar as pessoas da pobreza”.
Fonte: ZMP Consultoria
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