“Amélia é que era a mulher de verdade”. Esse trecho da canção “Ai Que Saudades da Amélia”, escrita por Mário Lago e com melodia de Ataulfo Alves – em 1941 -, retratava uma mulher submissa ao marido e, segundo a letra, “não queria vaidade e achava bonito não ter o que comer”. Já se passaram mais de 60 anos desde quando a música foi lançada e virou sucesso, e a realidade daquela Amélia realmente está cada vez mais no passado.
Cuidar da casa, de três filhos, estudar, se qualificar, fazer atendimentos em consultório, gerenciar centenas de pessoas em diversos setores de uma cooperativa de saúde e ainda ter momentos de lazer com a família. Ufa! É muita coisa, mas essas tarefas são desempenhadas com maestria por uma mulher, assim como milhares em todo o Brasil, bem diferente da Amélia, que basicamente cuidava das tarefas da casa.
Sensibilidade, determinação, foco, garra e coragem são algumas das palavras que podem definir uma mulher como a descrita acima, o que, neste caso, é a realidade da médica Grazielle Grillo, cooperada da Unimed Sul Capixaba e diretora de Recursos Próprios da cooperativa. Mas, essa também é a realidade de inúmeras outras mulheres que estão sendo protagonistas das suas próprias histórias numa era cada vez mais dinâmica e exigente.
O portal Montanhas Capixabas foi em busca de mulheres que “viraram a mesa e assumiram o jogo”, como diz trecho da canção “Desconstruindo Amélia”, escrita pela cantora Pitty, e que segundo a autora, “conta a história de uma mulher moderna, sobrecarregada em multitarefas e que um dia resolve assumir o protagonismo da própria vida”.
E no cooperativismo não faltam boas histórias sobre mulheres que assumiram seu papel na sociedade. Não por acaso, segundo mostrou o Anuário do Cooperativismo Brasileiro, elaborado pelo Sistema OCB, em 2022 a quantidade de mulheres empregadas nas cooperativas superou a de homens. As mulheres ocupam 51% dos cargos, enquanto os homens ficaram com 49%.
No Espírito Santo, esse percentual é ainda maior. O recém-lançado Anuário do Cooperativismo Capixaba 2023, produzido pelo Sistema OCB/ES e referentes ao ano de 2022, mostra que as cooperativas empregavam 11.484 pessoas, sendo que 59,4% eram mulheres. Números bem diferentes dos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam a predominância de homens (57%) entre todos os empregados no Brasil.
A participação de mulheres nas cooperativas também cresceu. Entre 2019 e 2022, houve um aumento de 48% no número de cooperadas. Apenas no ano passado, as cooperativas passaram a contar com 25% a mais de mulheres. Nos cargos de gerência, elas ocupam 51,2% dos cargos.
Do Póde Mulheres ao artesanato com palha do café
Não é novidade o destaque que ganhou o café produzido pelas cooperadas da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), que fica no município de Muqui. Póde Mulheres é o nome do núcleo feminino e também da marca do café canéfora feito pelas mãos delas. Agora, as empreendedoras resolveram inovar mais uma vez e estão produzindo artesanato com a palha do café. A ideia surgiu após participarem de cursos promovidos pela Cafesul, em parceria com o Sistema OCB/ES e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
A gerente administrativa da Cafesul, Natércia Bueno Vencioneck Rodrigues, explicou que o artesanato em palha de café contribui para gerar mais renda às mulheres e também contribui para o meio ambiente. “Ficava muita palha de café perdida na cooperativa, que agora está se transformando em lindos artesanatos. Queremos buscar lojas do segmento para vender essas peças de decoração”, revelou.
Artesanato gera mais renda e contribui com o meio ambiente
Além disso, cursos de culinária também abriram portas para as cooperadas. “Elas passaram a produzir deliciosos itens, como pães, bolos, biscoitos, entre outros, que são usados em coffee breaks nos eventos da Cafesul e de outras entidades, da região, que compram os produtos. É um dinheiro extra importante para essas mulheres”, afirmou a gerente, que também coordena o grupo feminino.
Natércia e o presidente da Cooperativa, Carlos Renato Alvarenga Theodoro, reconhecem a importância da participação feminina no quadro de cooperados e também como colaboradoras. Eles explicam que, após a criação do Póde Mulheres, elas passaram a participar mais da Cafesul. Assista as entrevistas no vídeo abaixo.
Na Cafesul, as mulheres estão cada vez mais evolvidas nas decisões. E cada vez mais jovens estão assumindo papeis de liderança, como é o caso de Ralcyara Rodrigues, 28 anos, que é conselheira fiscal da cooperativa. “Somos em três mulheres e três homens no Conselho. Eu sempre participei da cooperativa desde nova com minha irmã e meus pais, e o tratamento é o mesmo para homens e mulheres. Opinamos sobre tudo e nossas ideias são ouvidas”, destacou.
Outras duas mulheres jovens que participam intensamente das atividades da cooperativa são Daiana Pinto Souza Carrari, 28, que também é conselheira fiscal e Raryane Rodrigues. No vídeo abaixo, assista a entrevista com as duas jovens, em que elas contam a participação das mulheres na Cafesul e o orgulho de serem cooperadas.
Fonte: Montanhas Capixabas
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