O Brasil está em movimento e, com ele, surgem novos territórios estratégicos para a atuação cooperativista. Dados do Censo 2022 apontam uma mudança inédita e considerável mudança nos fluxos migratórios do país, evidenciando não apenas os novos destinos da população, mas também os motivos que a levam a buscar oportunidades em novos regiões.
Pela primeira vez, o estado de São Paulo teve saldo migratório negativo, perdendo cerca de 89 mil moradores para outras regiões. O Rio de Janeiro, por sua vez, perdeu mais de 165 mil pessoas.
Com saldo positivo de 106,5 mil migrantes, Minas Gerais ultrapassou São Paulo como polo de atração no Sudeste. A migração foi puxada por moradores de SP e RJ, reforçando a força dos municípios do interior mineiro como novos centros de oportunidades. Pela primeira vez, o Distrito Federal passou a perder mais moradores do que recebe, registrando a maior queda percentual do país, com -3,53%. No cenário todo, o principal destino dos migrantes foi Goiás (48,5%).
Essa redistribuição revela uma mudança estatística e pode auxiliar a antecipação de uma reorganização do desenvolvimento no país. Tal deslocamento tem gerado novas demandas econômicas e sociais, que podem colocar o cooperativismo como peça-chave para impulsionar o crescimento dos novos polos.
Novo mapa de atuação
Nesse novo movimento, estados como Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais se destacam como novos polos de atração populacional, evidenciando uma mudança no protagonismo histórico de estados como São Paulo. Segundo o estudo, Santa Catarina lidera o ranking de crescimento populacional por migração, com um saldo positivo de 354 mil pessoas entre 2017 e 2022. Goiás, Minas e Mato Grosso também atraíram milhares de novos moradores, muitos vindos justamente dos grandes centros.
Essa nova geografia confirma a tendência de interiorização populacional e aponta para a consolidação de polos regionais como centros de desenvolvimento. Para as cooperativas, trata-se de uma janela estratégica, onde municípios médios, com consumo em ascensão, passam a demandar serviços financeiros, saúde, educação, moradia e abastecimento, justamente pela atuação do setor em capilaridade e impacto.
Mais do que acompanhar o crescimento dessas cidades, as cooperativas podem liderar os processos de organização social e produtiva. A abertura de novas unidades, a personalização dos serviços e a escuta ativa característica do modelo de negócio se tornam diferenciais em locais que recebem migrantes.
Nessas regiões, o cooperativismo pode apoiar empreendedores locais, facilitar o acesso ao crédito, fomentar o uso compartilhado de recursos e, sobretudo, promover o enraizamento dos recém-chegados por meio da criação de vínculos comunitários.
Perfil dos recém-chegados
Mais do que volume, a migração atual também se diferencia pelo perfil dos migrantes. A pesquisa caracteriza a nova população como jovens interessados em oportunidades para concretzação daestabilidade financeira e formação de família. Com isso, observa-se também uma valorização crescente da consciência sobre qualidade de vida vinda das novas gerações.
Em Santa Catarina, por exemplo, o crescimento populacional não vem apenas do Sul. São Paulo, com 12,4% da origem dos novos cidadãos, e Pará, com 8,9%, também contribuíram para esse salto demográfico que evidencia a expansão da migração de longa distância.
Além disso, a maioria dos novos moradores chega em idade economicamente ativa, o que amplia a demanda por serviços financeiros e oportunidades de trabalho. De acordo com o IBGE, 1 em cada 5 migrantes tinha entre 25 e 29 anos.
Em sentido oposto, o Nordeste segue enfrentando a evasão populacional. A Bahia perdeu mais de 300 mil habitantes por migração, maior número absoluto do país. Pernambuco e Maranhão também apresentaram saldos negativos superiores a 100 mil pessoas cada.
Esse esvaziamento, em geral motivado pela busca de melhores condições de vida e trabalho, impõe um desafio que o cooperativismo pode enfrentar com soluções baseadas no fortalecimento do campo, por exemplo.
Cooperativas ligadas à agricultura familiar, ao extrativismo sustentável, ao artesanato e ao microcrédito têm potencial para fixar populações e gerar renda, o que, consequentemente, viabiliza a valorização local e contribui para o estabelecimento das novas famílias na região.
Com informações do IBGE