A inovação é, sem dúvida, a palavra da vez do mundo corporativo. E quando o foco são os profissionais do cooperativismo, não poderia ser diferente. Para se destacar num universo cada vez mais competitivo e que exige diversas Innovations Skills, ou seja, habilidades necessárias para se encaixar no que é esperado atualmente pelo mercado de trabalho, Marcelo Pimenta, especialista em descomplicar inovação, professor de inovação e design thinking na pós-graduação da ESPM, consultor do Sebrae Nacional e representante brasileiro em Paris junto ao NetExplo – fórum acadêmico da UNESCO que identifica as inovações que mudam o mundo. “Você deve diferenciar as Hard Skills, que são as qualidades que desenvolve no dia a dia do seu trabalho de acordo com a sua função, das Soft Skills, que envolvem como desenvolver o trabalho em equipe, além das Inner Skills, que estão ligadas ao autoconhecimento de cada um. Ou seja, um profissional de gestão de pessoas precisa saber recrutar, admitir, fazer esse trabalho de recepção e integração de novos funcionários, por exemplo. Essas são as Hard Skills. Já as Soft Skills se relacionam a como se trabalhar na mesma equipe, ter resiliência, empatia, sentimento de pertencimento. E as Inner Skills são as que dependem de cada pessoa, como concentração, autoconsciência, intuição e a coragem, por exemplo”, explica.
Jaime Bustamante, desenvolvedor regional de negócios da Mauve Group na América Latina, concorda. Ele destaca, ainda, ser fundamental que, na parte de Hard Skills, haja o domínio de ferramentas tecnológicas para uso diário no trabalho, além de conhecer profundamente o setor de atuação. E, na parte de Soft Skills, destacam-se capacidades criativas, pensamento crítico, flexibilidade para resolver problemas complexos, disposição para assumir riscos calculados e habilidade para se adaptar às dinâmicas. “Além disso, para profissionais que operam num contexto global, a comunicação intercultural e a compreensão dos mercados e tendências internacionais podem aumentar significativamente a inovação e a eficácia”, observa.
No entanto, as Innovation Skills surgiram depois, quando inovar se tornou uma condição necessária para as empresas de uma forma geral. Segundo o especialista Marcelo Pimenta, elas estão relacionadas a temas como influência digital, empreendedorismo, criatividade e inteligência artificial, principalmente a generativa. E quem pode sair ganhando com isso é justamente o cooperativismo. “Existe uma grande oportunidade do profissional do sistema cooperativo se tornar um colaborador inovador e fazer a virada de chave na era da inteligência artificial, das novas conexões, de um mundo cada vez mais colaborativo e cooperativo. O sistema cooperativo, por exemplo, não acreditou na revolução das startups. Isso fez com que o setor, mesmo crescendo no Brasil, não aproveitasse uma série de oportunidades para ter um crescimento mais exponencial. Hoje, esse é o grande salto, isso se o profissional estiver preparado para a inteligência artificial”, opina.
A vantagem do sistema cooperativo de desenvolver profissionais inovadores também é confirmada por Jaime Bustamante, da Mauve. Ele diz que, justamente por conta da essência das cooperativas ser a coletividade e o trabalho em equipe, é natural que se crie um ambiente propício para a inovação colaborativa.“Profissionais inovadores em cooperativas tendem a encontrar um terreno fértil para suas ideias, pois estão inseridos em um contexto que valoriza a contribuição de todos os membros. Essa cultura de colaboração pode acelerar a implementação de inovações, uma vez que as ideias são compartilhadas, discutidas e aprimoradas coletivamente”, detalha.
Entenda por que o profissional inovador é um agente de mudança
“Um profissional inovador é um agente de mudança. Ele sabe entender a demanda do novo consumidor, entregando serviços e produtos que as pessoas amem, se surpreendam”. A frase de Marcelo Pimenta resume quem, de fato, é esse profissional. Para ele, vivemos em um mundo cada vez mais não-linear, frágil e incompreensível, definido pelo conceito do Mundo Bani. “É preciso que as cooperativas tenham em seus quadros cada vez mais pessoas com uma mentalidade inovadora, ou seja, capazes de usar a sua criatividade em cima de referências para que possam criar novas combinações e visões de mundo”, explica.
Pimenta defende, também, que a máxima copiar, combinar e transformar deve ser aplicada. Ele explica: “se vejo um concorrente de outro segmento fazendo algo muito bacana, preciso copiar. É assim que a evolução do mundo acontece. Não vou copiar igual, mas da minha maneira. Depois, copiar e combinar possibilidades. E por último, transformar. A cópia sempre foi uma maneira de educação. A criatividade é individual, e a inovação é coletiva”, define ele, acrescentando que um profissional criativo pode contribuir para transformar o setor de forma promissora.
“Um profissional inovador é um agente de mudança. Ele sabe entender a demanda do novo consumidor, entregando serviços e produtos que as pessoas amem, se surpreendam”
– Marcelo Pimenta, professor e especialista em descomplicar inovação
Na opinião de Bustamante, as habilidades relacionadas à inovação são conquistadas através do comprometimento em estudar e experimentar de forma regular, seja na teoria ou na prática. Ele indica participar de cursos de atualização, workshops e eventos especializados como maneiras eficazes de adquirir novas competências. “Olhar para além das fronteiras em busca de oportunidades educacionais também pode ajudar; a troca de conhecimento com colegas internacionais ou a participação em conferências no exterior, ou virtuais, podem trazer novas ideias, expandindo a criatividade. Assim como a tecnologia evolui rapidamente, as habilidades de um profissional inovador também devem se adaptar constantemente para acompanhar as novas tendências e demandas do mercado”, pontua.
Desafios pela frente
No entanto, muitos desafios ainda fazem parte do sistema cooperativo quando se pensa no desenvolvimento e na retenção de um profissional inovador. Jaime Bustamante, especialista da Mauve, afirma que, para estarem alinhadas com esse novo colaborador, as cooperativas precisam oferecer ambientes menos formais, mais claros e diretos, assim como precisam de profissionais abertos ao diálogo e que cultivem boas relações interpessoais. “É necessário que o setor veja nos profissionais inovadores soluções criativas que melhorem processos, aumentem a eficiência e promovam o crescimento sustentável, além de oferecer ambientes de trabalho dinâmicos que tenham uma mentalidade orientada para resultados. Isso tudo é fundamental para criar mentalidades empreendedoras nas suas equipes, também conhecidas como ‘intraempreendedores’”.
Outro ponto importante destacado por Bustamante é que a necessidade da transformação digital imposta pelo mundo atual também pode levar as cooperativas a aproveitarem novas oportunidades de negócios. “Isso costuma valorizar ainda mais o trabalho em equipe e a capacidade de alinhamento com seus valores. No entanto, apesar da alta demanda por profissionais de TI, as cooperativas do ramo não escapam de entraves, por exemplo. Parte dos potenciais contratantes desconhece que uma cooperativa pode realizar as mesmas tarefas, com conformidade e prazo, das empresas tradicionais de serviços de TI, por exemplo”, alerta.
Marcelo Pimenta também acredita que o momento é oportuno: “a tecnologia é um grande acelerador. Claro que a inteligência artificial está tomando a grande cena da história, mas temos a robótica, a visão computacional, as criptomoedas, ou seja, diversas tecnologias que fazem parte dessa revolução. É legal quando essas revoluções acontecem: com a revolução da IA, todas as empresas partem do mesmo ponto, é uma nova onda. O cooperativismo pode embarcar nela se os profissionais entenderem todas as oportunidades que estão vindo pela frente”, comenta.
Como identificar um profissional inovador
- Observe os colaboradores que não apenas sugerem novas ideias, mas demonstram iniciativa e sabem como implementá-las;
- Apresentam um histórico de conquistas e projetos bem-sucedidos, que foram cruciais para a melhoria dos resultados de uma organização;
- Buscam sempre feedback dos seus gestores e nunca param de estudar para aperfeiçoar suas habilidades.
Dicas para se tornar um profissional inovador
- Mantenha-se sempre atualizado sobre as tendências do seu setor, participe de comunidades e redes de inovação;
- Busque feedback contínuo sobre suas ideias e projetos;
- Mostre resiliência e esteja disposto a aprender com os erros;
- Desenvolva suas habilidades de comunicação para articular suas ideias de forma clara e persuasiva;
- Cultive a curiosidade e a disposição para explorar novas possibilidades, inclusive para trabalhar em outros países;
- Cuide da alimentação, dos pensamentos e tenha momentos de lazer;
- Entenda que o mundo não é só trabalho, mas que o trabalho faz parte da vida.
Por Leticia Rio Branco – Redação MundoCoop
Matéria publicada na edição 118 da Revista MundoCoop
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