Falar de inovação nas cooperativas passa, necessariamente, por discutir inclusão, diversidade e equidade. Esses três pilares, quando integrados à estratégia organizacional, fortalecem a criatividade, ampliam as possibilidades de atuação e tornam o movimento mais conectado às demandas sociais e de mercado.
Para entender melhor essa agenda, a MundoCoop conversou com a Dra. Gisele Gomes, embaixadora da Rede Global de Mulheres Líderes. Em entrevista exclusiva, ela compartilha sua visão sobre os avanços e os desafios do cooperativismo no Brasil e no mundo, além de exemplos internacionais inspiradores que reforçam a importância de colocar inclusão e diversidade como infraestrutura estratégica de inovação.
Confira!
O que é a Rede Global de Mulheres Líderes e como ela atua no cooperativismo de crédito?
A Rede Global de Mulheres Líderes nasceu em 2009 nos Estados Unidos, vinculada ao Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito. A missão é conectar, inspirar e empoderar mulheres, para que possamos fazer diferença real nas cooperativas, nas comunidades e umas na vida das outras. Hoje, já são mais de 5 mil participantes em 88 países e no Brasil, o Sicredi é o único membro direto da rede, atuando como patrocinador institucional e garantindo o apoio estratégico para a implementação local.
Inclusão, diversidade e equidade costumam ser apresentadas juntas. Qual é o papel de cada um desses pilares?
Costumo dizer que a inclusão é o objetivo final: garantir que todas as vozes sejam ouvidas e influenciam nas decisões. Diversidade é o motor cognitivo, aquilo que amplia a visão de mundo e enriquece as soluções em ambientes complexos. Já a equidade é a ponte, o mecanismo que corrige distorções históricas e cria acesso real às oportunidades. Sem equidade, não conseguimos que diversidade se transforme em inclusão.
E como o cooperativismo brasileiro tem avançado nesse campo? No Brasil, a diversidade já é tratada como vantagem competitiva ou ainda é vista como marketing institucional?
Houve avanços significativos, mas ainda temos muito a percorrer. Hoje, o setor já discute mais o tema, o que é positivo, mas ainda encontramos lideranças que tratam essa agenda apenas como reputação, e não como estratégia. O cooperativismo é diverso por essência e precisa assumir isso como vantagem competitiva. Conceder crédito, por exemplo, a uma mulher negra periférica é muito mais que uma operação financeira: é inclusão social e econômica ao mesmo tempo.
No Brasil, estamos em transição em relação a esse tema. Parte do setor já compreendeu que inclusão, diversidade e equidade são estratégicas para inovação e resultados sustentáveis. Mas ainda há quem veja apenas como pauta de imagem. Precisamos avançar culturalmente e entender que essa agenda não é moda: é condição de crescimento.
Qual é o impacto da Rede Global de Mulheres Líderes nesse contexto?
A rede busca fortalecer o protagonismo feminino no cooperativismo de crédito. Embora tenhamos muitas mulheres como colaboradoras e cooperadas, ainda existe uma lacuna no pipeline de liderança. O objetivo é abrir espaço, mas também criar condições para que essas mulheres permaneçam nos cargos. Nossa atuação é pautada por um lema simples: “We for She”, ou seja, todas e todos por elas.
A Conferência Mundial das Cooperativas de Crédito reuniu 450 brasileiros em em Estocolmo, na Suécia, país reconhecido por seus avanços em equidade de gênero. O que podemos aprender com países que estão mais avançados nesse debate?
A Suécia trata diversidade e equidade como ativos de inovação. Lá, toda política pública passa pela perspectiva de gênero — é o chamado gender mainstreaming. Isso significa planejar ações considerando as necessidades reais das mulheres. É um país que entende a inclusão como fator de competitividade. Esse olhar pode nos inspirar a criar estruturas semelhantes no Brasil, adaptadas à nossa realidade.
Que mensagem você deixa para as lideranças cooperativas sobre esse tema?
Precisamos olhar para a agenda de diversidade e inclusão com seriedade e enxergá-la como oportunidade de fortalecer o cooperativismo. Quando incluímos, geramos impacto positivo não apenas nas cooperativas, mas em toda a sociedade.
Por Redação MundoCoop

Reportagem exclusiva publicada na edição 125 da Revista MundoCoop











