O mercado financeiro no Brasil sempre foi, historicamente, dominado por grandes e poucos bancos. Porém, esse cenário começou a mudar nos últimos anos, com o crescimento das chamadas fintechs, que são organizações de tecnologia financeira com operações 100% digitais e foco em soluções personalizadas.
Segundo a pesquisa Fintechs de Crédito Digital, realizada pela PwC em parceria com a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), o número de clientes pessoa física atendidos por fintechs no país saltou de 25,6 milhões em 2022 para 46,7 milhões em 2023 – um crescimento de 82%, percentual que supera, com folga, o avanço de 58% registrado no restante do mundo no mesmo período.
Para estar em harmonia com essa nova realidade, o sistema cooperativista avança na criação de suas próprias fintechs, com objetivo de “bater de frente” na competitividade e na melhora do atendimento aos cooperados, característica principal do modelo. Segundo Diego Perez, presidente da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), o espaço para novos entrantes ainda é enorme.
“Existe uma concentração bancária muito grande, são cinco grandes bancos detendo 60, 70% da carteira de crédito ativa, mais de 50% dos serviços financeiros disponíveis, fazendo com que aconteçam assimetria, gerando baixa competitividade que reflete em valores em custos elevados. As fintechs surgem para suprir essa necessidade, trazendo mais eficiência e uma competição justa, com o uso intensivo de tecnologia e desenvolvendo produtos que os clientes realmente desejam contratar”, explica Perez.

“As fintechs surgem para suprir essa necessidade, trazendo mais eficiência e uma competição justa, com o uso intensivo de tecnologia.” – Diego Perez, presidente da ABFINTECHS
O avanço das cooperativas
Entre os exemplos mais recentes desse novo segmento explorado, estão a Fincoop, criada pela Coopercitrus, e a Universo Soluções Financeiras, lançada pela Unimed Fortaleza. Ambas mostram como diferentes ramos do cooperativismo – agropecuário e saúde – estão se posicionando de forma inovadora.
A Fincoop foi apresentada ao mercado durante a Agrishow 2025, uma das maiores feiras do agronegócio da América Latina. A iniciativa da Coopercitrus tem como objetivo fortalecer o apoio aos mais de 40 mil cooperados, oferecendo soluções completas em crédito, seguros, consultoria jurídica e sustentabilidade. Seus quatro pilares de atuação são: serviços financeiros com crédito rural facilitado, corretora de seguros com atendimento 24 horas, consultoria jurídica para planejamento sucessório e estruturação patrimonial, além de projetos de sustentabilidade como rastreabilidade e geração de crédito de carbono.

“A Coopercitrus percebeu a necessidade de ter uma plataforma que pudesse conectar as melhores soluções do mercado e organizar uma oferta direcionada para a necessidade de cada cooperado”, explica Fernando Degobbi, CEO da Coopercitrus. “Temos planos de expansão, pois essa é uma operação constante e diária. Constantemente criamos sinergia entre nosso cooperados e clientes da base Fincoop”, completa.
Do lado da saúde, a Unimed Fortaleza uniu forças com a M7 Soluções Financeiras para criar a Universo Soluções Financeiras. O foco é atender médicos cooperados, fornecedores e integrantes da rede credenciada. “Organização e planejamento financeiro e acesso a linhas de crédito diferenciadas pensadas na necessidade do cooperado” foram as principais motivações para a criação da Universo, explica Flávio Ibiapina, diretor Administrativo-Financeiro da Unimed Fortaleza e diretor da fintech.
Segundo o diretor, a fintech já oferece dois produtos principais: a antecipação de recebíveis da rede de fornecedores da Unimed e a antecipação da produção médica dos cooperados. “Ambos produtos são linhas de crédito pensadas e personalizadas para esses públicos, com processos de contratação 100% digital e taxas competitivas”, afirma. Além disso, os médicos contam com um checkup financeiro que auxilia na organização e planejamento das finanças pessoais.
Colocar uma operação totalmente digital em funcionamento não foi tarefa simples. “Operações 100% digitais oferecem desafios diversos como a construção da jornada do cliente, conformidade regulatória, segurança da informação, infraestrutura tecnológica e integração entre sistemas e dados”, relata Ibiapina.
Vantagens competitivas e desafios
A entrada das cooperativas no universo das fintechs representa mais do que um passo em direção à digitalização, trata-se de uma estratégia para diversificar receitas, fidelizar cooperados e ampliar a relevância institucional no mercado.

Para Diego Perez, essa movimentação é positiva não apenas para as cooperativas, mas para o sistema financeiro como um todo. “As cooperativas aderiram a esse novo formato de ofertar serviços financeiros por meio de plataformas digitais, o que é extremamente positivo pois faz com que a competição aconteça de maneira natural, que os clientes tenham opção de escolher os serviços que melhor atendem aos seus desejos. Isso entrega uma melhor experiência para o cliente, aumenta a eficiência dos sistemas e faz com que o sistema cooperativo se adapte à nova economia digital”, avalia.
Segundo ele, os maiores desafios para as fintechs é lidar com o aumento da tributação sobre o lucro líquido, que busca equipará-las a instituições financeiras tradicionais. Além disso, há a constante competição com grandes bancos. “Hoje, os desafios são uma competição desleal com grandes bancos que sempre atuam em desfavor das fintechs e tentam barrar o crescimento desses novos agentes”, aponta Perez.
Expectativas para o futuro
Mesmo diante dos desafios, a expectativa é de crescimento contínuo para o setor de fintechs no Brasil. Segundo Diego Perez, as fintechs seguirão como uma grande tendência no mercado financeiro nacional por oferecerem soluções que unem qualidade, eficiência e custo acessível.
“Esse modelo é relevante em razão do serviço bom, barato, eficiente e que atende as demandas das pessoas que contratam, um serviço altamente disponível, de fácil manuseio e que preserva a experiência do cliente. As fintechs já estão presentes em todos os setores, todos os segmentos do mercado financeiro e vêm cumprindo um papel importantíssimo na difusão e diluição da concentração bancária”, afirma. Para ele, a relação entre inovação e competitividade seguirá impulsionando esse mercado: “Enquanto existir fintech vai existir competição, enquanto existir fintech vai existir inovação. E é isso que esse mercado precisa.”
O avanço das cooperativas rumo ao universo das fintechs em 2025 confirma uma mudança estrutural no sistema financeiro brasileiro. O cooperativismo, mais do que nunca, passa a adotar ferramentas digitais para atender seus públicos com mais agilidade, personalização e eficiência, garantindo aos cooperados o acesso a serviços financeiros cada vez mais modernos e acessíveis.
Fintechs: benefícios e desafios
Fintechs são plataformas digitais que oferecem serviços financeiros de forma ágil, personalizada e com menos burocracia.
Por que as cooperativas estão investindo?
- Ampliar o acesso ao crédito
- Oferecer serviços personalizados
- Melhorar a experiência digital dos cooperados
- Diversificar receitas
Principais desafios:
- Alta tributação sobre o lucro das fintechs
- Competição com grandes bancos
- Conformidade regulatória
- Segurança da informação
Por Andrezza Hernandes – Redação MundoCoop

Reportagem exclusiva publicada na edição 124 da Revista MundoCoop