Inovar é um ato de sobrevivência, considerando um mercado em que as transformações tecnológicas acontecem em ritmo exponencial, permanecer no mesmo lugar é, na prática, ficar para trás. A inovação deixou de ser um luxo das grandes corporações para se tornar o alicerce de competitividade e longevidade das organizações – de qualquer porte ou segmento.
Um estudo global da PwC mostra que 79% dos executivos acreditam que a capacidade de inovar é hoje o principal fator que diferencia empresas líderes das que ficam pelo caminho.
É nesse cenário de reinvenção constante que surge a 11ª edição do anuário Valor Inovação Brasil 2025, principal premiação nacional dedicada à pesquisa, desenvolvimento e inovação. Realizado pelo Valor Econômico em parceria com a Strategy& (PwC), o levantamento analisou centenas de organizações e destacou as 150 empresas mais inovadoras do país, oferecendo um retrato fiel de como o mercado brasileiro tem interpretado e praticado o conceito de inovação.

“O diferencial está em democratizar o acesso às ferramentas de inovação, tornando a cultura inovadora visível a todos.” – Mayra Theis, sócia e líder de Agronegócios na PwC Brasil
Nas dez primeiras colocações estão: Natura; Einstein; CNH; Embraer; Energisa; Petrobras, Grupo Boticário; Eletrobras; Vivo; e WEG. Nomes que simbolizam diferentes setores, mas compartilham o mesmo DNA: o de fazer da inovação uma parte intrínseca da estratégia de negócio.
“O ranking Valor Inovação Brasil utiliza uma metodologia bastante robusta para avaliar o grau de inovação das empresas. Ele se baseia em cinco pilares: intenção estratégica, esforço em recursos, resultados atingidos, reconhecimento entre pares e propriedade intelectual”, explica Mayra Theis, sócia e líder de Agronegócios na PwC Brasil. “Essa abordagem permite identificar não apenas quem está inovando, mas quem faz isso de forma estruturada, com impacto real e visão de longo prazo.”
O que o mercado lê como inovação hoje
Os dados mais recentes confirmam que o investimento em inovação é um vetor direto de crescimento. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 85% das empresas de varejo que inovaram em 2022 registraram aumento de lucro ou valorização de marca. Outro levantamento, o “ROI na Inovação – Benchmark Report 2025”, mostra que mais da metade das empresas que monitoram o retorno sobre inovação atingem mais de 30% de retorno em menos de dois anos.
Para Mayra Theis, o sucesso dessas empresas nasce de uma base comum: a cultura inovadora e a liderança ativa. “As empresas mais inovadoras compartilham práticas que vão além da tecnologia. A primeira delas é a cultura de inovação, que envolve toda a organização. A liderança tem papel ativo, promovendo ambientes seguros para testar ideias e aprender com erros”, explica.
Outros fatores decisivos são o investimento contínuo em P&D, mesmo em períodos econômicos adversos, e o uso de tecnologias emergentes, como inteligência artificial, automação e análise de dados. Também se destaca o alinhamento a práticas ESG, com foco em impacto ambiental e social – e não apenas em ganhos de eficiência.
Cases de quem está fazendo diferente
A presença de nomes consolidados como Grupo Boticário e Embraer no topo do ranking mostra que inovar é um processo constante e não depende do setor ou porte da empresa, mas da capacidade de se reinventar.
Nos últimos anos, o Grupo Boticário acelerou sua agenda de inovação com foco em ciência e sustentabilidade. Em 2024, inaugurou um novo Centro de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento em São José dos Pinhais (PR), ampliando sua capacidade de criar fórmulas, biotecnologias e embalagens sustentáveis. O investimento, de R$ 840 milhões, reforça a aposta da companhia na integração entre tecnologia e meio ambiente.
O grupo também foi destaque no ranking “100 Open Startups”, como uma das corporações que mais colaboram com startups no país. Essa postura de inovação aberta tem gerado novos produtos e processos – do uso de biotecnologia a modelos de economia circular.
Na Embraer, inovação e sustentabilidade caminham juntas. A empresa firmou recentemente um acordo de R$ 126,7 milhões com a Finep e o MCTI para pesquisa em aviação sustentável, e vem testando protótipos de carros elétricos e aeronaves de propulsão híbrida. Outro projeto, apoiado pelo BNDES Mais Inovação, destinou R$ 500 milhões ao desenvolvimento de tecnologias para o chamado “voo do futuro”.
Além disso, a companhia está à frente do projeto de “táxi voador elétrico”, cuja certificação está prevista para 2027, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Esses investimentos mostram que, para a Embraer, inovação é tanto um compromisso tecnológico quanto ambiental.
“Essas empresas também apostam fortemente em inovação aberta, formando parcerias com startups, universidades e centros de pesquisa para acelerar soluções”, ressalta Mayra Theis, que também destaca a habilidade humana como essencial. “O diferencial está em mergulhar nos desafios internos das pessoas, identificar as habilidades que precisam ser desenvolvidas e acompanhar de perto a evolução dessa prática inovadora na rotina. Afinal, é no dia a dia que a inovação realmente acontece. Esse processo é fundamental para democratizar o acesso às ferramentas de inovação, tornando a cultura inovadora concreta e visível para todos as camadas”.
O que as cooperativas podem aprender com as empresas inovadoras
As lições do ranking não só podem como devem inspirar o cooperativismo brasileiro, que vem consolidando sua própria trajetória de inovação. Segundo a Pesquisa de Inovação no Cooperativismo Brasileiro 2024, oito em cada dez cooperativas já implementaram ao menos um projeto inovador nos últimos dois anos, mas ainda enfrentam o desafio de transformar essa prática em cultura organizacional contínua. Nesse ponto, o aprendizado com as grandes empresas é valioso.
“As cooperativas têm uma vantagem natural quando se trata de inovação colaborativa, pois já operam com base na construção coletiva e na intercooperação”, observa Mayra. “Elas podem aprender com empresas inovadoras a estruturar essa colaboração de forma estratégica, criando redes de inovação entre cooperados e outras cooperativas.”
O caminho, segundo a especialista, passa por fortalecer parcerias com universidades, startups e centros de pesquisa, investir em digitalização de processos e apostar na inovação incremental, aquela que melhora gradualmente produtos e serviços.
“A inovação incremental é especialmente eficaz para cooperativas, pois permite avanços consistentes sem exigir grandes investimentos”, afirma Mayra. “Com essas adaptações, as cooperativas podem se tornar protagonistas em inovação social e econômica.”
Mayra Theis defende que o aprendizado pode fluir em ambos os sentidos. “As empresas inovadoras também podem aprender com as cooperativas em relação a colocar o cliente no centro do desenvolvimento de inovações. As cooperativas entendem que todo o trabalho deve retornar aos cooperados. Colocar o cooperado no centro é um grande aprendizado que o mercado corporativo pode absorver”, completa.
Tendências que moldam o futuro da inovação
O futuro da inovação, segundo Mayra, já está em curso. Tecnologias como inteligência artificial generativa, biotecnologia, hidrogênio verde e hiperautomação estão redefinindo modelos de negócio e a forma como as empresas se relacionam com clientes e comunidades.
“Essas tendências refletem uma mudança profunda na forma como as empresas se posicionam diante dos desafios atuais e futuros. Elas não são apenas tecnológicas – representam uma transformação cultural e estratégica”, explica.
Para o cooperativismo, acompanhar essas tendências significa consolidar a cultura de inovação, estruturar processos, mensurar resultados e garantir que a tecnologia sirva ao propósito coletivo. Afinal, inovar, no contexto cooperativo, é sinônimo de gerar valor compartilhado.
Panorama da Inovação nas Empresas Brasileiras
- +30% de retorno em inovação em até 2 anos
- 85% das empresas que inovaram registraram aumento de lucro
- 5 pilares de avaliação: estratégia, recursos, resultados, reputação e propriedade intelectual
- 10 setores líderes em inovação: cosméticos, saúde, automotivo, energia, tecnologia, aviação, telecom, petróleo, bens de capital e eletroeletrônica
Por Andrezza Hernandes

Reportagem exclusiva publicada na edição 126 da Revista MundoCoop












