O avanço do setor é fruto de uma cultura cooperativista consolidada e de um ambiente favorável à inovação e à intercooperação. O Estado vem ampliando a atuação das cooperativas em áreas estratégicas como crédito, transporte, saúde e serviços. A diversidade de ramos, a solidez financeira e a governança também são marcas do cooperativismo mato-grossense. Esse modelo de negócio tem permitido que as cooperativas mantenham o equilíbrio entre rentabilidade, impacto social e responsabilidade ambiental.

Em entrevista exclusiva à MundoCoop, Frederico Azevedo, superintendente da OCB/MT,analisou o panorama atual do cooperativismo no estado, setor que cresce em ritmo acelerado e já se consolida como um dos mais fortes e estruturados do país.
Atualmente, o estado abriga 171 cooperativas registradas e 1,79 milhão de cooperados, o que representa quase metade da população mato-grossense envolvida diretamente com o modelo. Em 2024, o setor movimentou R$ 47,95 bilhões, um aumento de 19,6% em relação ao ano anterior, e projeta alcançar R$ 100 bilhões até 2027.
A geração de 15 mil empregos diretos e a longevidade das instituições ainda reforçam a força do cooperativismo como pilar econômico e social do estado.
Para Frederico Azevedo, esse avanço é resultado de planejamento estratégico e valorização das pessoas que integram o sistema. Ele aponta que o modelo cooperativista reflete a própria identidade do povo mato-grossense, de trabalho, união e visão de longo prazo.
Além da forte cultura de intercooperação, a base de governança e práticas transparentes vem se reinventando e diversificando as atividades das cooperativas no estado, incorporando tecnologia sem perder o compromisso comunitário. “O cooperativismo em Mato Grosso reflete a essência do Estado: trabalho, união e visão de longo prazo. O crescimento de cooperados está ligado ao valor que as cooperativas geram nas regiões onde atuam, transformando economias locais, fortalecendo a produção e criando oportunidades. Esse avanço resulta de uma gestão eficiente, da diversificação das atividades e do investimento em inovação e pessoas”, afirmou.
União do cooperativismo mato-grossense
O cooperativismo mato-grossense é, antes de tudo, um fenômeno de coesão social e econômica. Em um estado de dimensões continentais, onde pequenas comunidades dependem da cooperação para prosperar, o modelo tornou-se ferramenta de inclusão e estabilidade.
Em 2024, as cooperativas do estado registraram sobras de R$ 2,36 bilhões e ativos totais de R$ 78,69 bilhões, números que demonstram a solidez do sistema. Desse montante, R$ 118 milhões foram destinados ao Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social (FATES), canalizando recursos para capacitação, projetos culturais, esportivos e de saúde.
Azevedo e Silva destaca que o sucesso do setor se sustenta em três pilares: sustentabilidade, diversificação e planejamento de longo prazo. O representante defende que a visão estratégica é o que permite o crescimento consistente, mesmo diante de desafios econômicos e climáticos. “Para manter nossos grandes resultados e alcançar a meta dos R$ 100 bilhões, vamos continuar trabalhando de forma sustentável, com visão de longo prazo e foco na diversificação das atividades das cooperativas. Isso significa avançar na verticalização da produção, investir em novas indústrias e ampliar o acesso a mercados internacionais.”
No que se diz respeito à dimensão territorial, o cooperativismo tem sido um dos maiores agentes de interiorização do desenvolvimento. As cooperativas estão presentes em 45 municípios onde não há instituições bancárias tradicionais, garantindo acesso a crédito, assistência técnica e oportunidades de geração de renda.
A força das cooperativas também se reflete na capacidade de reter riqueza no próprio território e manter o capital circulando dentro das comunidades. Esse movimento cria um ciclo que transforma economias locais e promove inclusão social. “Quanto mais as cooperativas crescem, mais reinvestem no desenvolvimento social e humano das regiões onde atuam”, pontuou o superintendente.
Diversificação do agro
O ramo agropecuário segue como o principal pilar do cooperativismo mato-grossense, com 72 cooperativas, 3.724 empregados e R$ 29,35 bilhões em receitas, o equivalente a mais da metade do faturamento total do setor. O estado, que é líder nacional na produção de soja, milho e algodão, tem nas cooperativas o alicerce de uma agricultura moderna, verticalizada e competitiva.
Ao mesmo tempo, outros ramos vêm se fortalecendo, ampliando o alcance do cooperativismo em diferentes frentes. O crédito reúne 1,75 milhão de cooperados e R$ 14,59 bilhões em receitas, além de manter 8.752 empregados e uma carteira de crédito de R$ 36,41 bilhões. Já os ramos de trabalho, transporte e produção de bens e serviços (TPBS) estão ganhando protagonismo ao interiorizar o movimento e criar novas oportunidades de renda.
“A diversificação dos ramos é o que dá força e resiliência ao nosso cooperativismo. O agro, sem dúvida, é o pilar central, especialmente em termos de faturamento e pelo modelo em que os produtores confiam em suas cooperativas para comprar, armazenar e vender. Mas o avanço de outros ramos, como o de trabalho, transporte e, principalmente, crédito, mostra que o cooperativismo pode estar presente em todos os setores da sociedade.”
Essa intercooperação entre ramos tem sido decisiva para fortalecer o movimento. Hoje, 88% das cooperativas do estado realizam parcerias entre si, com destaque para os ramos de crédito (95%) e agropecuário (93%). A complementaridade entre setores, como as linhas de crédito voltadas ao transporte e à produção rural, gera sinergia e dinamiza a economia. “As cooperativas se complementam, como as de crédito, que apoiam as de transporte ou de produção, criando intercooperação e fortalecendo o movimento como um todo.”, afirmou o superintendente.
Governança e longevidade
A solidez e a diversificação do setor se refletem também em sua governança e capacidade de permanência. Com 76 cooperativas em atividade há mais de 20 anos, o cooperativismo mato-grossense demonstra uma solidez rara entre modelos empresariais. Essa longevidade é resultado direto de uma gestão participativa e transparente, sustentada por uma governança sólida e decisões compartilhadas.
A transição entre o tema da diversificação e o da longevidade mostra como o amadurecimento institucional tem permitido ao cooperativismo mato-grossense alcançar resultados de longo prazo.
Azevedo explica que, diferente de outras empresas, o cooperativismo não tem o lucro como objetivo principal, mas o equilíbrio entre viabilidade econômica, sustentabilidade e impacto social. Esse modelo cria empresas mais estáveis e conectadas às demandas locais. “A longevidade das cooperativas de Mato Grosso é, sem dúvida, um grande diferencial. Ela é resultado da gestão democrática, da participação ativa dos cooperados e da visão de longo prazo que orienta o movimento. As cooperativas trabalham com governança sólida, equilíbrio e estratégia, sempre com o objetivo de garantir sua perenidade.”, ressaltou.
O apoio contínuo do Sistema OCB/MT também é peça-chave nesse processo. Por meio de programas de capacitação, consultorias de gestão e representação institucional, o sistema tem fortalecido as cooperativas de dentro para fora, criando um ambiente de confiança e colaboração duradoura. “Somado a isso, o papel do Sistema OCB/MT em cada vez mais apoiar negócios e conhecimento corporativo cooperativo tem sido um motor para a longevidade das cooperativas mato-grossenses.”, pontuou.
Futuro inovador e inclusivo
O cooperativismo de Mato Grosso não apenas cresce em números, ele também se projeta como modelo de inovação e inclusão. A aposta da OCB/MT para os próximos anos é fortalecer os programas voltados à formação de jovens e mulheres, ao mesmo tempo em que impulsiona a digitalização das cooperativas e o uso de novas tecnologias.
Essas transformações têm papel essencial na continuidade do movimento. Frederico enxerga na sucessão de lideranças e na modernização dos processos o caminho para um cooperativismo ainda mais competitivo e conectado com as demandas da sociedade. “O futuro do cooperativismo mato-grossense será cada vez mais inovador, inclusivo e digital. No Sistema OCB/MT, estimulamos a participação de jovens e mulheres em posições de liderança, não apenas nas cooperativas já existentes, mas também fomentando a criação de novas. Promovemos a cultura da inovação e da tecnologia, pois sabemos que são fundamentais para aumentar a competitividade e a sustentabilidade do movimento.”
A intercooperação também é vista como ferramenta estratégica para o futuro. A união de forças entre ramos permite que as cooperativas se tornam mais eficientes e preparadas para os desafios globais, da transição energética à economia digital.
“Nossas metas para os próximos anos incluem fortalecer esses projetos, ampliar a intercooperação e apoiar as cooperativas em sua jornada digital, por meio de formação e capacitação. Também estamos investindo em programas de sucessão e liderança, para que jovens e mulheres possam ocupar cada vez mais espaços de decisão, garantindo a continuidade e o fortalecimento das cooperativas no futuro.”, finaliza Frederico Azevedo.
Por João Victor, Redação MundoCoop











