O cooperativismo tem se consolidado como um modelo de negócios capaz de gerar impacto econômico e social ao mesmo tempo em que fortalece vínculos com as comunidades nas quais está inserido. O sexto princípio cooperativo, que prega a cooperação, se encontra no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 17 da ONU, que trata de parcerias. Ao redor do mundo, esse alinhamento já se traduz em experiências que geram impacto nos âmbitos econômico, social e ambiental.
Um exemplo expressivo vem da Colômbia, onde o Banco Coopcentral atua desde 1964 como a principal provedora de liquidez para o setor financeiro solidário. A instituição conecta centenas de entidades locais a sistemas nacionais e internacionais, o que acelerou a digitalização durante a pandemia de COVID-19 graças a alianças com a DGRV (Alemanha) e a USAID (EUA).
O caso colombiano expõe como parcerias podem ampliar a resiliência de pequenas instituições e viabilizar o acesso a serviços financeiros, além de alavancar desenvolvimento consciente e sustentável.
Esse mesmo movimento de fortalecimento pela intercooperação se reproduz no Brasil, onde diversas iniciativas mostram como a soma de esforços entre comunidades, governos, empresas e entidades cooperativas gera valor coletivo.
Fortalecimento do mercado biológico local

No interior do Acre, a Coopercintra (Cooperativa dos Produtores de Agricultura Familiar e Economia Solidária de Nova Cintra) tornou-se referência em como o cooperativismo pode aliar preservação ambiental e geração de renda. A organização articula parcerias com governos, empresas privadas e instituições de pesquisa para estruturar a cadeia do óleo de murumuru, insumo que abastece indústrias de cosméticos nacionais e fortalece mais de 50 comunidades extrativistas.
A experiência apresentou que, quando unidas, as comunidades locais conseguem transformar um recurso antes subestimado em motor de desenvolvimento.
Queline Souza, diretora executiva da cooperativa explica que explica que o diferencial está no engajamento coletivo e defende que a união entre famílias e instituições parceiras é o que garante a continuidade da produção e a preservação da floresta. “O murumuru hoje é uma fonte de renda dentro das famílias. Antes era visto como apenas um espinheiro na mata, que muita gente achava inútil. Hoje, nossos produtores relatam que virou uma renda complementar e ajuda a preservar a natureza”, relata.
Educação para o futuro
No Norte do país a floresta se converte em bioeconomia, mas, no Sul, o cooperativismo encontrou possibilidades na formação das novas gerações. A parceria entre o Sicredi e os Smurfs é um exemplo de como a intercooperação pode assumir formatos criativos e de grande alcance social.

A iniciativa utiliza personagens conhecidos mundialmente para aproximar crianças e jovens da Agenda 2030, transformando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em temas acessíveis e lúdicos.
O projeto já impactou milhares de alunos em dezenas de cidades do Paraná e de São Paulo a partir de cursos gratuitos para educadores e jogos digitais.
A respeito da iniciativa, André Alves de Assis, gerente de Desenvolvimento do Cooperativismo da Central Sicredi PR/SP/RJ reforca que o impacto vai além do conteúdo e atinge a formação cidadã e o senso de responsabilidade das novas gerações diante dos desafios globais. “Não existe ação pequena ou local demais; cada passo contribui para essa caminhada, cada atitude faz a diferença e cada gesto conta”
Essa estratégia amplia a capacidade de engajamento das cooperativas e fortalecem seu papel como educadoras financeiras e sociais.
Empoderamento feminino
A intercooperação também se manifesta em outras regiões do Brasil, reforçando seu caráter inclusivo e estratégico. No Nordeste, a Coomafes (Cooperativa Feminina da Agricultura Familiar e Economia Solidária de Valença, na Bahia) demonstra que as parcerias podem transformar realidades sociais historicamente desiguais.

Ao lado da empresa Binatural, especializada em biodiesel, o grupo de mulheres agricultoras ganhou autonomia financeira, acesso a novos mercados e visibilidade para seus produtos. “Na Feira, não apenas vendemos, mas nos encontramos, trocamos sementes, experiências e, principalmente, nós apoiamos umas às outras. É um espaço de terapia e de celebração”, conta Maria Joselita Santos, conhecida como Branca, uma das líderes da cooperativa.
Já na Amazônia, a intercooperação também assume papel estratégico. O Sistema OCB/AM, em parceria com o BNDES, promoveu o programa “BNDES Mais Perto de Você” para ampliar o acesso a linhas de crédito inclusivas. “Graças a essa parceria conseguimos ampliar as oportunidades de financiamento para as nossas cooperativas. Isso significa mais desenvolvimento para o estado, geração de emprego e renda para os amazonenses”, afirma Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB.
Esses dois exemplos ilustram como o cooperativismo, apoiado por parcerias sólidas, pode tanto promover inclusão social quanto garantir que organizações tenham meios de prosperar em setores estratégicos.
Do crédito à educação, o objetivo se define pelo empenho na ampliação do raio de ação a partir de parcerias estratégicas, sejam elas inspiradas por experiências internacionais ou construídas a partir das demandas locais das comunidades. A intercooperação tem se mostrado como uma ferramenta concreta de desenvolvimento sustentável, capaz de transformar territórios.