As cooperativas brasileiras tem ganhado cada vez mais espaço no mercado internacional. Apenas em 2022, elas exportaram mais de U$162 milhões, segundo dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
As vendas em 2022 representam 2,2% do total embarcado pelo país em iniciativas apoiadas pela agência. Apesar de uma fatia ainda pequena, a tendência é de crescimento, dizem especialistas e empresas. Para atravessar fronteiras e fomentar os negócios, muitas delas vêm recorrendo a ações de qualificação e promoção comercial realizadas por governos locais, além de inciativas da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e da ApexBrasil.
“Nosso objetivo é a diversificação da pauta exportadora brasileira. Por meio de parceria com a OCB, queremos ampliar as oportunidades para os cooperados em mercados estrangeiros, gerando impactos socioeconômicos positivos em todo o país”, diz Laudemir Muller, gerente de Agronegócios da ApexBrasil, destacando que a instituição apoiou 61% das cooperativas que exportaram no ano passado.
Segundo Armando César Sugawara, consultor de Agronegócio do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de São Paulo (Ocesp), a participação no mercado internacional não é mais uma opção, e sim uma necessidade crucial para as cooperativas. Hoje, a organização trabalha com 38 cooperativas exportadoras. Para ele, o principal objetivo é fomentar essa cultura de diversificação de mercados. “Essa estratégia tornou-se essencial para garantir a competitividade em um cenário global altamente dinâmico. A globalização dos mercados, juntamente com a redução dos custos de transporte e o acesso facilitado à informação, tem desempenhado um papel fundamental nessa transformação”, diz Sugawara.
Desafios em curso
Em Minas Gerais, a Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé) começou a exportar em 1959 para Santiago, no Chile, como forma de agregar valor à produção dos cooperados. Com isso, os volumes embarcados foram aumentando até chegar a 5,713 milhões de sacas embarcadas para 49 países no ano de 2022. Agora, busca novos mercados. Ao longo dos anos, a cooperativa contou com apoio de vários órgãos de fomento.
“O consumo de café é muito concentrado na Europa e América do Norte. Estamos trabalhando em alguns projetos para ampliar a participação em países já consolidados e mapeando oportunidades. Para isso, estamos ampliando também o número de associados — diz Luiz Fernando dos Reis, superintendente Comercial da Cooxupé. Mas, apesar do crescimento, há desafios. “No caso do café, o momento em que o cooperado quer vender o seu produto é totalmente diferente do momento em que o cliente quer comprar, então, é necessário trabalhar com estoques altos e muitos recursos financeiros, que em tempos de juros altos se transformam também em grandes desafios. Além de tudo isso, existe um grande investimento em estrutura física para atender a demanda.
Para Gustavo Reis, analista de competitividade do Sebrae, acessar o mercado externo é possível, mas exige preparação. O empresário deve entender como, na estratégia do seu negócio, a internacionalização ocorrerá; se seu produto ou serviço é aderente aos novos mercados. E deve comunicar a sua equipe que o mercado internacional também faz parte da estratégia. “É importante ter muita clareza sobre o mercado que se quer atingir uma vez que existe a questão cultural e comportamental do consumo”.
Ele diz ainda que é preciso verificar quais os melhores canais para a promoção dos bens ou serviços que o cooperado quer exportar. “Se é por meio de um distribuidor, de eventos, de uma parceria com uma empresa que já está no exterior ou se por meio da abertura de um novo negócio”, afirma Reis, lembrando que o Sebrae tem capacitações e consultorias para promover o negócio no mercado internacional.
Segundo Sugawara, da Ocesp, uma empresa ou cooperativa precisa respeitar 314 leis e normas para transportar um insumo agrícola até uma propriedade rural. Para obter sucesso na exportação, além das exigências do mercado interno, é preciso que cada detalhe da operação esteja alinhado também com os padrões internacionais. A área industrial deve operar com eficiência, a área ambiental precisa garantir uma produção sustentável e a área de recursos humanos deve assegurar a oferta e a qualidade da mão de obra, entre outros aspectos, afirma Sugawara.
Cases de sucesso
A busca por oportunidades no cenário internacional vai de norte a sul do país. A Cooperativa de Produção, Economia Solidária de Agricultura de Campo do Brito (Coofama) nasceu em 2006 , na cidade de mesmo nome, no interior de Sergipe, e começa a dar os primeiros passos rumo ao exterior. Após fazer parcerias com Banco do Brasil, Sebrae e Câmara de Negócios Internacionais de Alagoas, ela vai destinar parte da produção de farinha de mandioca para os Estados Unidos.
Para realizar a venda do produto, os cooperados tiveram de criar uma loja virtual. Foi preciso também ter o reconhecimento do selo da Federal Drug Administration (FDA), órgão americano que faz o controle dos alimentos. “O mercado internacional sempre foi nosso objetivo. E, juntos, conseguimos ter uma estrutura para vencer os desafios burocráticos. A cooperativa consegue gerar credibilidade para divulgar os produtos, pois os cooperados são em geral empresas familiares”, diz Luiz Carlos da Lapa, gerente da Coofama.
Com 40 associados, a cooperativa, que vende sua produção para diversos estados brasileiros, também começou a investir na produção de produtos como bolos, panetones, tapiocas e pé de moleque.
A Coplana, que planta e processa amendoim, nos municípios de Guariba e Jaboticabal, em São Paulo, também vem desbravando o mercado internacional. As exportações começaram em 2000 como forma de buscar novos clientes para reduzir o risco da volatilidade de preços do mercado interno entre seus cooperados, afirma Robson Fonseca, gerente comercial da cooperativa. Com 1.200 associados, dos quais 110 são produtores de amendoim, o foco hoje é a Europa, embora sejam feitos embarques para 40 países de todos os continentes. Para conquistar novos consumidores, diz Fonseca, uma das saídas foi a busca por certificações. “Nossa principal meta é melhorar cada vez mais a qualidade do nosso amendoim. Hoje, uma grande parcela do nosso volume exportado é destinado para a União Europeia. Vendemos ao exterior 50% da nossa produção, e a quantidade embarcada vem crescendo ao longo desses 23 anos”.
A cooperativa também participa de feiras e eventos no exterior. “Trazemos compradores externos para as rodadas de negócios, para conhecer a nossa estrutura. E promovemos constantemente pesquisas de mercado para identificar novas oportunidades.
Em 2014, alguns membros da Associação Paulista de Produtores de Caki (APPC), em Pilar do Sul, se juntaram e formaram a Cooperativa Agroindustrial APPC, reunindo produtores de diversas frutas para vender não só no Brasil, mas também no exterior. Como alguns dos 65 pequenos produtores que formam a cooperativa já vendiam para fora do país, a troca de informações foi importante para incentivar outros cooperados, diz Elias Issao Onoda, gerente geral da APPC. Hoje, há vendas para países da Europa, Oriente Médio e Ásia, além do Canadá.
A cooperativa comercializa cerca de 2.300 toneladas de produtos por ano. Desse total, cerca de 20% a 30% são destinadas à exportação. E a tendência é de crescimento. Para fomentar os negócios, a cooperativa da pequena cidade paulista vem investindo em capacitação da equipe técnica, além de intercâmbio com produtores de outras regiões. “Nossa meta é buscar novas tecnologias em parceria com universidades próximas. Temos planos de ampliar os parceiros comerciais e a produção de novas frutas que possam ser exportadas”, detalha Onoda.
Fonte: O Globo, com adaptação da MundoCoop
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