Em um cenário onde os bancos tradicionais focam suas atividades em rentabilidade centralizada, as cooperativas do ramo financeiro têm conquistado espaço no mercado financeiro como uma alternativa para descentralizar o acesso a serviços bancários e fortalecer economias locais. Com atuação pautada pela proximidade com os associados e o compromisso com o desenvolvimento local, o cooperativismo de crédito cresce em ritmo acelerado e se mostra essencial para impulsionar economias regionais e promover a inclusão financeira no país.
De acordo com dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as cinco maiores instituições financeiras do país fecharam 2.563 agências entre 2020 e 2022, enquanto as cooperativas seguem na contramão. Segundo o Banco Central, em dezembro de 2023, o sistema cooperativo de crédito já estava presente em 3.177 municípios brasileiros, alcançando 57% das cidades do país. Esse número representa um avanço significativo frente ao ano anterior e mostra o papel das cooperativas em preencher vazios deixados pelo setor bancário tradicional.
O Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) já responde por mais de 10% do crédito destinado ao setor rural e por 5,7% de todo o crédito nacional, movimentando mais de R$ 500 bilhões em ativos totais em 2023, segundo dados do Banco Central. Mais do que números, essas instituições promovem uma lógica diferente: os lucros são reinvestidos nas comunidades por meio de programas sociais, formação de capital local e fortalecimento de pequenos negócios.
O trabalho realizado pelo ramo de crédito tem mostrado seu potencial a partir de iniciativas de reinvestimento que não só realizam um importante apoio às comunidades, como também fortalecem uma nova lógica de como o sistema financeiro pode promover equidade e desenvolvimento sustentável. Um exemplo desse modelo é o trabalho da Sicredi Altos da Serra (RS), que em 2024 destinou cerca de R$ 800 mil para mais de 80 projetos sociais, culturais e educacionais. Além disso, a cooperativa distribuiu R$ 12 milhões em Juros ao Capital aos seus associados. Ao todo, já foram repassados R$ 24,2 milhões aos cooperados e outros R$ 12,4 milhões foram capitalizados, reforçando a solidez e a capacidade de reinvestimento do modelo.
Papara Mario Maurina, presidente da cooperativa, o ciclo virtuoso do cooperativismo se materializa nesses repasses. “Estas entregas são reflexo do compromisso em reinvestir na comunidade, fortalecendo a economia local e melhorando a qualidade de vida dos associados. Através do cooperativismo, uma força transformadora que promove o desenvolvimento sustentável e a inclusão social, continuaremos a apoiar iniciativas que gerem impacto positivo e contribuam para uma sociedade mais próspera”, afirmou para o portal Sicredi.
Também no Sul do país, o Sistema Ailos tem se destacado. Em 2023, sua carteira de crédito cresceu 18,2%, atingindo R$ 17,4 bilhões. Além disso, o sistema foi um dos primeiros a oferecer linhas emergenciais durante as enchentes no Rio Grande do Sul, demonstrando agilidade e sensibilidade às necessidades da população.
O apoio ao empreendedorismo local também está no centro da atuação do Ailos, por meio de iniciativas como a Feira de Negócios Local, que conecta cooperados empreendedores à comunidade em cidades de pequeno e médio porte, fomentando a economia circular e o consumo consciente.
Já o Sistema Cresol reforça o compromisso com regiões subatendidas, com forte presença em municípios com menos de 50 mil habitantes — cerca de 80% de suas agências estão nesse perfil. Com R$ 42,1 bilhões em ativos totais em 2023 (crescimento de 33% em relação ao ano anterior) e R$ 805 milhões em resultado financeiro, a Cresol converte parte expressiva desses recursos em projetos sociais e educacionais.
Mais de 32 mil crianças, adolescentes e jovens já foram beneficiados por programas como “Mesadinha e Sua Turma”, “Um Olhar Para o Futuro” e “Juventude Cooperativista”, que disseminam educação financeira, sustentabilidade e empreendedorismo. As ações são realizadas em parceria com mais de 700 escolas em 13 estados.
Segundo Adriano Michelon, vice-presidente da Cresol, ao portal da instituição, investir em educação e inclusão é estratégia vital para o desenvolvimento econômico nas regiões menos urbanizadas do Brasil. Para ele, a criação de empregos e oportunidades de negócios, com o auxílio das cooperativas de crédito, se consolidam como expressivos agentes de transformação.
Perspectivas de futuro
As projeções para o setor são animadoras. Segundo o Banco Central, o cooperativismo de crédito tem potencial para alcançar até 10 mil agências nos próximos anos, considerando a demanda crescente por serviços financeiros personalizados em regiões interioranas e áreas urbanas menos atendidas. Estimativas da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) apontam que, até 2027, o número de cooperados no Brasil deve ultrapassar os 20 milhões, frente aos 15,4 milhões registrados em 2023
Além disso, com o avanço da digitalização dos serviços, as cooperativas vêm investindo fortemente em tecnologia para ampliar o acesso, principalmente entre os jovens. Isso indica não apenas uma expansão territorial, mas também uma renovação geracional do cooperativismo — um sinal claro de que o modelo está preparado para o futuro.
O cenário é de otimismo: crescimento sustentável, inclusão social e protagonismo na construção de um sistema financeiro mais justo e colaborativo. As cooperativas de crédito não apenas complementam, mas transformam o mercado.
Por João Victor, Redação MundoCoop