O cooperativismo brasileiro vive um momento de virada com a abertura de hubs logísticos em outros países. Essa expansão vai além da simples exportação de produtos, representando um movimento decisivo para consolidar a presença das cooperativas no mercado global.
Para as cooperativas brasileiras, que já são grandes fornecedoras de commodities, a presença física e estratégica significa uma evolução de seu modelo de negócios, além da otimização de operações e impulsionamento do agronegócio nacional.

Entre esses exemplos está a Aurora Coop, que inaugurou sua primeira unidade em Xangai na China, marcando o início de uma atuação direcionada ao mercado asiático. O movimento vem após resultados expressivos no exterior. Em 2024, a receita operacional bruta no mercado externo cresceu 23,7% totalizando R$ 9,1 bilhões.
“A presença in loco junto ao mercado torna mais assertivas e ágeis as ações para o atendimento dos clientes” – DILVO CASAGRANDA
Dilvo Casagranda, Diretor Comercial de Mercado Externo da Cooperativa Central da Aurora Coop, destaca a relevância estratégica da unidade em Xangai, afirmando que a China é o principal mercado das exportações da Aurora, com perspectivas de crescimento considerável nos próximos anos. Para ele, a presença in loco “torna mais assertivas e ágeis as ações para o atendimento dos clientes.”
A Aurora Coop já exporta para mais de 80 países. Em 2024, a cooperativa respondeu por 21,6% das exportações brasileiras de carne suína e por 8,4% das exportações de carne de frango, sendo um dos grandes destaques na produção nacional.
Em outro exemplo recente, a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer) inaugurou um hub logístico em Londres, na Inglaterra. Os produtos já disponíveis para comercialização no armazém devem trazer um impacto de vendas significativo, com um crescimento esperado de 15% já no primeiro ano.
Para a Expocacer, a abertura de um segundo hub após a experiência bem-sucedida nos Estados Unidos em 2024, reforça a visão estratégica do negócio. “A abertura de um hub nos permite estar mais próximos do consumidor com o café de seu cooperado. Com esses hubs, a Expocacer pode fazer vendas fracionadas, atendendo os seus clientes com quaisquer quantidades, o que seria impossível não tendo o hub”, destaca Simão Pedro de Lima, Diretor Presidente Executivo da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer).
Em 2024, a cooperativa bateu recorde e registrou aumento de 41% em exportação de cafés, em comparação ao ano anterior. Foram mais de 550 mil sacas de 60kgs vendidas para o mercado externo, com um faturamento de cerca de 840 milhões de reais.
Fortalecimento dos negócios e relacionamento
São inúmeros os fatores que tornam esses hubs e espaços uma decisão assertiva, entre eles o fato de que presença física facilita a logística e a distribuição, reduzindo custos e tempo. Aliado a isso, o estreitamento da relação com o cliente final, permite um feedback direto e a customização de produtos; ainda gerando um conhecimento aprofundado dos mercados locais, parte fundamental para o desenvolvimento de novas oportunidades.

Ao expandir os negócios através desse modelo, a cooperativa ganha um diferencial. “As presenças efetivas das cooperativas, sejam via filial ou unidade controlada, as colocam em destaque diante do mercado. Essa presença estreita a cadeia comercial, seja B2B ou B2C, em que produtor e consumidor conversam por meio da presença da cooperativa, em um movimento onde passamos a ser uma extensão do braço do cooperado”, aponta Simão.
Contudo, esse passo deve ser pensado com clareza; principalmente diante dos obstáculos que apresentam pelo caminho. “Experenciamos em Londres os mesmos desafios que vimos nos EUA, sejam eles o conhecimento da cultura comercial desses países (logística, sistema de crédito etc.), assim como adaptação ao sistema tributário que possuem significativas diferenças do sistema brasileiro”, destaca Simão, reforçando que apesar desses pontos, hoje a cooperativa opera a plenos pulmões nesses mercados.
Para a Aurora, tais barreiras são apenas uma parte do processo, com resultados que vão além dos econômicos. “É um aprendizado incalculável e uma experiência enriquecedora, mas também uma responsabilidade imensa. As oportunidades foram mapeadas, tanto na China como em outros países do sudeste asiático que tem demanda. E eles tem no Brasil o fornecedor capaz de atender essas demandas com qualidade e competitividade”, aponta Casagranda.
“Cooperativas brasileiras em solos estrangeiros é mostrar que o cooperativismo do Brasil dá certo” – SIMÃO PEDRO DE LIMA
Perseguindo oportunidades
Diante de exemplos tão significativos, a internacionalização das cooperativas brasileiras se consolida como um divisor de águas para o setor. Ao estabelecerem bases sólidas em mercados-chave, elas não apenas ampliam seus próprios negócios, mas também abrem portas para outros produtores cooperados, elevando a percepção da qualidade e da capacidade do agronegócio brasileiro.
“As oportunidades existem pelo mundo em todos os segmentos. O que precisa é ter uma definição clara da vontade de internacionalizar. E aí estamos falando da cooperativa como um todo e não apenas de um departamento. É preciso que toda a instituição esteja alinhada ao projeto para que a implementação tenha o suporte necessário e assim traga consistência e resultados positivos”, reforça Casagranda.
Essa expansão estratégica torna o Brasil um fornecedor global ainda mais relevante, diversificando mercados e fortalecendo a cadeia produtiva interna. É um investimento no futuro, demonstrando resiliência e visão de longo prazo. “A presença das cooperativas é uma forma de conversar com o mundo do consumidor, de mostrar a realidade do setor produtivo, a força da união que multiplica o progresso. Cooperativas brasileiras em solos estrangeiros é mostrar que o cooperativismo do Brasil dá certo”, conclui Simão.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop

Reportagem exclusiva publicada na edição 124 da Revista MundoCoop