A agricultura regenerativa é a implementação de práticas que regeneram o ambiente produtivo, o aproxima mais do original e estimula uma maior biodiversidade.
O termo surgiu com o americano Robert Rodale, que teve como base as teorias da hierarquia ecológica para estudar os processos de regeneração nos sistemas agrícolas. A ideia principal do conceito está ligada à recuperação dos solos.
A prática pegou força com a agricultura orgânica, que surgiu em 1940 com J.I. Rodale do Instituto Rodale. Nas décadas de 1970 e 80, a agricultura regenerativa passou a ser adotada pela orgânica, reduzindo nas produções os usos de pesticidas, herbicidas e fertilizantes. O movimento ganhou adesão com os produtores de milho e de soja do Centro-Oeste dos Estados Unidos durante uma crise em suas produções.
Os benefícios desse modelo de agricultura são muitos, entre eles é possível recuperar os solos empobrecidos, valorizar os micro-organismos presentes, e ajudar a reverter as mudanças climáticas.
Diante disso, o tema tem despertado o interesse dos pequenos, médios e grandes produtores, principalmente cooperativistas, unindo sustentabilidade à garantia da produção dos alimentos.
No radar
O cooperativismo e a agricultura regenerativa se encaixam perfeitamente, motivados a buscar colaboração, propósito, preservação e sustentabilidade.
Não é à toa, que cada vez mais as cooperativas agrícolas têm investido nesse tipo de produção, porque ela representa uma agricultura menos dependente de defensivos e fertilizantes químicos e é mais resistente às adversidades climáticas. Afinal, um solo saudável contribui com a maior tolerância das plantas à falta de chuvas e às altas temperaturas.
Além disso, o solo de uma lavoura manejada com práticas regenerativas tem maior estoque de carbono, portanto, é uma prática que contribui para o equilíbrio do meio ambiente. Ainda, a prática valoriza a manutenção do solo, a preservação de plantas vivas, a integração de animais e o próprio uso de práticas conservacionistas.
Atualmente, esse tipo de agricultura conta com o auxílio das tecnologias digitais, permitindo a rastreabilidade, o uso sem desperdício e a própria precisão na aplicação de nutrientes ou similares. A tendência é que ela se estabeleça como dominante, estando presente nos campos desde o plantio direto, a rotação de culturas.
Outras práticas importantes na agricultura regenerativa são a redução do revolvimento do solo, manutenção da cobertura do solo, manutenção de plantas vivas, investimento na biotecnologia e a integração animal e das plantas.
Jorge Dietrich, Coordenador de Pós-graduação de Novos Negócios e Coordenador do Master de Gestão e Marketing do Agronegócio da ESPM, conta que o tema foi abordado no Fórum Econômico Mundial em 2023, quando se falou sobre o futuro do agronegócio. “O Brasil vai precisar alimentar 2 bilhões de pessoas em 2025, hoje alimenta um pouco mais de 1 bilhão. Diante de um cenário ambiental cada vez mais exigente em práticas sustentáveis, precisamos produzir mais com práticas que preservem o ambiente. Enfim, a sustentabilidade é mandatória”, lembra Dietrich.
O especialista ressalta que muitas cooperativas já têm práticas bastante presentes em sua atenção que levam à sustentabilidade e à agricultura regenerativa. “Precisamos fazer essa informação chegar ao consumidor final. Mostrar que o agro brasileiro é muito mais do que ser responsável de 25 % do PIB brasileiro. Ele também é responsável em sua maioria por uma agricultura responsável, com energia limpa e com práticas de agricultura regenerativa”, lembra.
Case nacional
Várias cooperativas brasileiras, como a Cooperativa Cooxupé, em Minas Gerais, têm buscado práticas com plantio direto e a rotação de culturas.
A Cooxupé descobriu na agricultura regenerativa a melhor maneira de produzir o seu café, unindo a preservação do ambiente e a demanda dos clientes.
Eduardo Renê da Cruz, coordenador de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé explica que vários motivos estimularam a cooperativa a investir nesse tipo de cafeicultura. O primeiro deles foi o aumento da resiliência dos sistemas produtivos, tornando as lavouras mais resistentes às adversidades climáticas, como a seca.
Em segundo lugar, essa forma de produção faz uma maior fixação de carbono no solo, por meio do plantio de plantas de cobertura e de uso de material orgânico. E, em terceiro lugar, atender a demanda dos clientes que preferem o café produzido com práticas regenerativas.
“Esse modelo de agricultura é menos dependente de defensivos e fertilizantes químicos devido às cultivares resistentes e ao controle biológico. Ela é também uma agricultura mais resistente às adversidades climáticas. Pois um solo saudável, com matéria orgânica e cobertura de solo armazena mais água, mantém a temperatura do solo mais baixa, o que contribui com a maior tolerância das plantas à falta de chuvas e às altas temperaturas. Além disso, o solo de uma lavoura manejada com práticas regenerativas tem maior estoque de carbono, portanto, é uma prática que contribui para o seu balanço”, exemplifica Renê.
A cooperativa não pretende parar por aqui e acredita que no futuro haverá cada vez mais a implementação de práticas regenerativas na cafeicultura, como uso de plantas de cobertura, controle biológico e material orgânico.
Essas práticas permitem uma menor utilização de defensivos químicos, e segundo um levantamento interno realizado em 2023, a Cooxupé identificou que mais de 60% das mudas plantadas se tornaram resistentes à ferrugem ou nematoides. “O cooperativismo tem papel fundamental na difusão das práticas para os pequenos produtores, na orientação sobre a importância e implantação da cafeicultura regenerativa. Por meio da assistência técnica, no fornecimento dos insumos como produtos biológicos, compostos orgânicos, fertilizantes organominerais e sementes de plantas de cobertura com condições de pagamento que facilitam a aquisição para fomentar a adoção”, finaliza.
Empresas apostam
O mercado como um todo tem entendido que melhorar a saúde do solo, fortalecer a resiliência, restaurar a biodiversidade, contribui no aumento da produtividade, do bem-estar econômico e social dos agricultores e de suas comunidades. Por conta dessa visão, empresas e instituições têm investido em inciativas em parceira com cooperativas que atuam através a agricultura regenerativa.
Esse é o caso da Bayer Coopera+, um programa em que são promovidas ações de apoio ao desenvolvimento de inovação e agricultura regenerativa nas cooperativas. A proposta é oferecer treinamentos de lideranças nas entidades cooperativas, em que os cargos de gerência, marketing e inovação são aprimorados.
A experiência tem mostrado que esse modelo colaborativo é eficaz ao fomentar a resiliência e a sustentabilidade nas cooperativas, ajudando a enfrentar os desafios climáticos e econômicos. Carolina Graça, diretora de sustentabilidade da Bayer para a América Latina, explica que a organização acredita nas práticas regenerativas como remodeladoras de uma agricultura global melhorada. Em especial por conta dos desafios enfrentados, como as mudanças climáticas e da segurança alimentar. “Ao disseminar as práticas agrícolas regenerativas, consequentemente contribuímos para que os cooperados alcancem seus benefícios: resiliência frente a cenários de eventos climáticos, aumento da produtividade, melhoria na rentabilidade com a gestão dos recursos naturais e oportunidades de receita, como os pagamentos pelo carbono sequestrado, valor agregado aos produtos com rastreabilidade na cadeia alimentar, entre outros”, finaliza Graça.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
Matéria publicada na edição 118 da Revista MundoCoop
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