A precisão na previsão do tempo é um dos pilares que sustentam o êxito da produção agrícola. O conhecimento antecipado sobre quando, quanto e como vai chover pode significar a diferença entre uma safra bem-sucedida e prejuízos irreparáveis.
No Brasil, parte considerável dos produtores ainda convivem com análises pouco precisas e uma cobertura limitada de estações meteorológicas, realidade bem diferente da observada em países como Estados Unidos e nações europeias.
Diante desse cenário, a Cocamar Cooperativa investiu na criação de uma rede meteorológica própria, projetada para oferecer dados climáticos de alta precisão aos cooperados.
O projeto desenvolvido em parceria com a Meteoblue, empresa suíça referência mundial em análises climatológicas, busca potencializar o planejamento das operações no campo e reduzir riscos diante das variações climáticas, cada vez mais frequentes no território brasileiro.
Sobre o motivo do investimento, Divanir Higino, presidente da cooperativa, destaca com exclusividade à MundoCoop, que a decisão nasceu da necessidade de informações mais confiáveis para o campo. “Ainda não somos servidos no Brasil com análises climáticas mais assertivas, que possam auxiliar os produtores a planejar bem as suas safras. Por isso, decidimos estruturar uma rede que supere essas limitações e atenda às necessidades do campo e das cidades”, explicou.
Inicialmente, o projeto prevê a instalação de 206 estações meteorológicas, distribuídas a cada 80 quilômetros, cobrindo 60 municípios no noroeste do Paraná, uma área de 16,5 mil km².
Tecnologia a serviço do produtor
O diferencial da iniciativa está na capacidade de oferecer previsões georreferenciadas específicas para as coordenadas de cada propriedade. O presidente reforça que as informações são acessíveis por computador ou celular e vão muito além do tradicional “chove ou não chove”. “O produtor precisa de dados que vão muito além daquilo que consultamos nos sites e aplicativos gratuitos. Ele precisa saber quando, como e quanto vai chover nos lotes dele, lá na propriedade. É muito comum ver a chuva passar no vizinho e não entrar na sua lavoura”, pontuou.

Divanir também explica que o sistema trará indicadores essenciais para a agricultura, como evapotranspiração, balanço hídrico no solo e janelas ideais de pulverização. “A partir do momento que você confia no dado de previsão, o próximo passo é estudar qual a melhor forma de utilizá-lo. Não é apenas saber se vai ou não chover, mas entender o impacto disso na água disponível no solo e na produtividade”, completa.
Entretanto, o benefício não se limita ao campo. Gestores públicos e equipes de defesa civil terão acesso a informações antecipadas sobre eventos climáticos extremos, para auxiliar no planejamento de obras e na adoção de medidas preventivas. Parte desses dados também será disponibilizada gratuitamente à população. “Um dos compromissos com a Meteoblue é garantir que as cidades tenham acesso a previsões detalhadas. Para nós, não faria sentido não compartilhar essa informação com todos”, diz o dirigente.
Mudança de cultura
O projeto ainda busca promover uma mudança cultural entre os associados, incentivando o uso constante de ferramentas de monitoramento climático, para, assim, fortalecer tomadas de decisões mais estratégicas e minimizar riscos de perdas. “Preconizamos que o produtor crie o hábito de trabalhar com essas informações para tomar decisões mais precisas e se mantenha competitivo na atividade. Além disso, é fundamental investir em irrigação e manejo adequado do solo para garantir sustentabilidade”, ressaltou.
Para que essa ação seja viabilizada, a equipe técnica da Cocamar está recebendo treinamentos e discutindo casos práticos para orientar o melhor uso das previsões no dia a dia das propriedades. A expectativa é que, já na safra de verão 2025/26, os cooperados possam assinar o serviço e receber informações meteorológicas diárias personalizadas.
Desafios e perspectivas de expansão
A construção dessa rede colaborativa passa por desafios que vão desde a negociação com o poder público até a articulação com empresas privadas. Para o presidente, o avanço demanda paciência e alinhamento de interesses. “Existe um rito e uma burocracia natural no setor público. Iniciamos os termos de cooperação com dois importantes consórcios de municípios no ano passado e, devido às eleições e trocas de gestão, conseguimos retomar apenas em março deste ano. Agora estamos próximos da publicação oficial do edital que permitirá a adesão das prefeituras à rede”, explica.
A Cocamar vê o projeto como um modelo a ser replicado em outras regiões. A meta é expandir a rede e garantir que mais produtores tenham acesso a informações climáticas de alta qualidade e confiabilidade. “Temos conversado com outras cooperativas que vão participar dessa expansão conosco. Precisamos evoluir nessa área e queremos que essa rede seja referência”, finaliza Divanir.
Por Redação MundoCoop