Elucidar mudanças, percepções e posicionamentos. Todos os caminhos atualmente apontam para decifrar o que se tornou – ou se tornará – inadiável para sobreviver na contemporaneidade.
Entretanto, está cada vez mais evidente que muitas dessas respostas estão estampadas em questões já muito bem conhecidas. A grande demanda está então em adotar uma diferente perspectiva.
Transformar a cultura dos negócios, e consequentemente essa realidade, é o que move Ana Bavon. Liderando equipes complexas e híbridas, ela desenvolveu uma visão integrada que conecta números e pessoas e, hoje, é um dos principais nomes quando assunto é diversidade, ética e impacto social.
Construindo uma carreira a partir da união de relações pessoais e gestão de estratégias, Ana se tornou referência nacional em cultura inclusiva, onde tenciona temas urgentes a partir das lentes da transformação guiada pela diversidade humana.
A executiva é fundadora e CEO da consultoria B4People, integrante do Conselho Consultivo do Movimento Elas Lideram 2030 e do Comitê de Auditoria do Pacto Global da ONU. Além disso, é consultora dentro de renomadas empresas e reconhecida por sua atuação em Direitos Humanos e a agenda ESG.
Em conversa com a MundoCoop, Ana Bavon fala sobre assuntos importantes e urgentes para toda e qualquer organização que pretende sobreviver no mercado. Ainda, compartilha reflexões que ultrapassam barreiras de vida profissional e pessoal.
Confira!
Onde as organizações ainda erram quando o assunto é fortalecimento da cultura em seus negócios?
Cultura inclusiva é aquela que respeita uma fórmula simples em dois eixos: ela é data driven, guiada por dados e people centered, centrada nas pessoas.
As organizações erram ao presumir que a cultura organizacional é um elemento quase que intuitivo e de responsabilidade específica de áreas ligadas a pessoas – como RH, além disso acreditam que a cultura permeia o ambiente de forma igualitária entre todas as pessoas em todos os níveis. Muito ao contrário, a cultura é um elemento estratégico da companhia que é percebido de forma específica por cada agente que compõem a companhia – todos os stakeholders, portanto, precisa ser tratada de forma integrada e com o envolvido principal do C-Level.
Em um momento onde a IA generativa domina as conversas sobre o futuro dentro das companhias e negócios, qual a importância de falar sobre a humanização para inovação?
O fator humano é fundamental para a inovação na medida em que é a percepção humana sobre o mundo que faz com que as inovações aconteçam.
Eu costumo dizer que é precisamente o background de cada pessoa que é capaz de gerar uma condição cognitiva específica para a criatividade. São capacidades como a empatia, o espanto, a necessidade, o medo, o amor, o cuidado, a solidariedade, e a compaixão que guiam nossos impulsos criativos, já que somos criaturas guiadas pelo movimento de homeostase: estamos sempre buscando prazer e fugindo da dor, esses são os elementos que guiam nossas ações.
Não é diferente na inovação, os processos de criatividade mais intensos e que nos levam a criar disrupções tem sempre esses dois elementos na raiz. Nada disso é capaz de ser reproduzido pela IA generativa ou regenerativa.
Você integra o conselho consultivo do movimento Elas Lideram 2030. O que essa iniciativa representa para o futuro do mercado?
O Pacto Global da ONU é o organismo responsável por guiar empresas na sua jornada rumo a um planeta e uma sociedade mais sustentável, o pacto é quem garante as ferramentas que podem ser utilizadas para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável, entre eles o 5 – que é a equidade de gênero.
O movimento Elas Lideram tem como eixo o fornecimento de ferramentas e jornada práticas que impulsionam as organizações na missão de colocar mais mulheres em cargos de liderança.
Negócios pautados na coletividade, que tenham na raiz o compromisso com a paridade de gênero são capazes de trazer velocidade e maior tração a ascensão de mulheres, isso porque quando em maior número maiores as chances de uma mulher ser percebida como liderança. Um ambiente absolutamente masculinizado ou androcêntrico, é um ambiente pouco fértil para o reconhecimento da liderança feminina.
É preciso se reinventar para sobreviver ao mercado hoje?
Se em 2024 e após o evento pandêmico ainda não somos capazes de entender que a colaboração é mais produtiva do que a competição, seremos incapazes de avançar como humanos e líderes, e isso eu me recuso a aceitar.
Acredito que hoje nossa maior competição seja com a tecnologia ou mais precisamente com a inteligência artificial, essa que captura não apenas algumas funções realizadas pelas pessoas, mas também sua subjetividade, já que a nossa atenção, nossa concentração, nosso sistema de recompensa já são influenciados pela forma como nos relacionamos com a tecnologia – redes sociais.
A forma como os colaboradores reagem aos estímulos já não é mais a mesma, a forma como as novas gerações se comportam diante dos compromissos e formalidades organizacionais, já não é mais a mesma.
A reinvenção da liderança deve ser baseada na sua própria capacidade de humanizar suas decisões, considerando fatores emocionais que atravessam e guiam essas suas decisões, por isso eu insisto em dizer que a cultura organizacional precisa ser data driven e people centered, dados trazem objetividade eliminando impressões subjetivas que eventualmente possam causar ruídos ou riscos.
Afinal, qual o impacto de lideranças relutantes à mudança?
A liderança relutante às mudanças impede o próprio desenvolvimento organizacional rumo ao atingimento de objetivos de desenvolvimento sustentável. Essa liderança impede que uma cultura centrada em pessoas seja estabelecida de forma integral, isso porque a liderança é responsável pelo cascamento de comportamentos baseados em fatores humanos.
Em 2023, você representou o Brasil no Fórum Mundial de Empresas e Direitos Humanos em Genebra. Quais as principais pautas discutidas na ocasião são as maiores urgências para os negócios brasileiros?
O centro das discussões foi a responsabilidade empresarial na agenda de direitos humanos. A nova diretiva sobre a Due Diligence em ESG – sustentabilidade empresarial, acordada informalmente pelos colegisladores da União Europeia, estabelece obrigações para as empresas mitigarem o seu impacto negativo nos direitos humanos e no ambiente, como o trabalho infantil, o trabalho análogo a escravidão, a exploração laboral, a poluição, a desflorestação, o consumo excessivo de água. consumo ou danos aos ecossistemas. Proteger, Respeitar e Remediar impactos das organizações e suas atividades no planeta e na sociedade.
Quais serão os principais desafios da sociedade na próxima década?
Os maiores desafios serão adaptar nossas decisões a uma sociedade imersa em uma catástrofe climática, com impactos significativos no comportamento e desenvolvimento humano.
A única forma de nos prepararmos para essas mudanças que estão fora do nosso controle, é investir na nossa capacidade adaptativa, ou seja, contribuindo para que as pessoas possam efetivamente oferecer suas habilidades humanas ao todo, sem excluir nenhuma delas em razão. Por essa razão é tão importante prepararmos nossas organizações para culturas inclusivas centradas em pessoas e suas habilidades criativas para inovar.
Por Fernanda Ricardi – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na edição 119 da Revista MundoCoop
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