Imagine como seria o nosso mundo se os estereótipos de gênero nunca tivessem existido e se a sociedade sempre dissesse às mulheres e meninas: sim, você pode! A essa altura, haveria pelo menos três mulheres presidentes em todos os países do mundo, as copas do mundo de futebol feminino seriam tão comemoradas quanto as masculinas e haveria muito mais mulheres na indústria de tecnologia.
Durante anos, as mulheres acreditaram que não havia espaço para elas nas áreas ligadas à Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática (STEAM) e decidiram seguir outras carreiras sem, sequer, pensar no mundo de oportunidades infinitas que a tecnologia oferece. Porém, com a chegada da pandemia do COVID-19, todos nós vimos a importância da tecnologia e o poder que ela tem de transformar a sociedade. A aceleração da digitalização trouxe novas oportunidades. Mas, para compreendê-las, devemos ser capazes de medir e gerar dados atualizados.
De acordo com o relatório Global Gender Gap 2022, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, a porcentagem de mulheres formadas em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) é de 1,7% em comparação com 8,2% dos homens formados e, em Engenharia e Manufatura, os números são de 24,6% para os homens e 6,6% para mulheres. Esse cenário mostra que ainda há um longo caminho a percorrer e que precisamos começar a incentivar as mulheres a considerarem os campos STEAM.
Por isso, devemos apostar na promoção da diversidade e inclusão na indústria tecnológica porque existe uma oportunidade para a transformação do emprego feminino. Mas, como devemos fazer isso? Como convidamos outras pessoas a participar de nosso setor? E se começarmos a trabalhar para elevar as histórias de muitas mulheres que tiveram um impacto positivo na indústria?
Iniciativas de reconhecimento a mulheres e pessoas não binárias que lideraram o caminho da tecnologia é um passo. Evidenciar e impactar mulheres em cargos de liderança que deixaram sua marca na indústria e que estão apoiando outras mulheres em suas carreiras profissionais é uma forma de chamar a atenção para este cenário.
Outra medida é apostar em pesquisas que revelem, por exemplo, como a pandemia afetou mulheres, homens e outros gêneros que trabalham no STEAM, os novos desafios que enfrentam e as oportunidades que surgiram. Num recente levantamento, conseguimos detectar que uma das principais constatações foi relacionada justamente à remuneração: apenas 19% das mulheres que já trabalham em tecnologia afirmou ter recebido redução no salário. Dos 81% restantes, 41% afirmaram que tiveram aumento salarial.
Também foi possível identificar um crescimento nas oportunidades de aprendizado. Mas, neste caso, existiam lacunas entre quem desempenha funções de cuidado e quem trabalha: 60% deste grupo viu aumentar as suas oportunidades profissionais. Enquanto 67% das pessoas sem dependentes viram suas oportunidades de carreira aumentarem durante a pandemia.
Essa disparidade é a razão pela qual os líderes empresariais devem abraçar os diversos papéis que as pessoas desempenham em suas famílias ao projetar programas de treinamento profissional e incorporar flexibilidade para permitir o gerenciamento de tempo e outros fatores. Dessa forma, garantimos o acesso, a continuidade e a conclusão dos programas de formação, que são fundamentais no ecossistema tecnológico, onde o upskilling e o reskilling se tornam motores de crescimento das pessoas e da indústria.
Os resultados da pesquisa indicam que houve mudanças na percepção do ecossistema tecnológico e que as ações e as políticas que as empresas implementaram para reter o talento feminino durante a pandemia funcionaram. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar uma participação mais igualitária e melhores condições para as mulheres na indústria.
Capacitar mulheres e minorias para os campos STEAM é uma responsabilidade coletiva dos tomadores de decisão na indústria de tecnologia. Precisamos ter um grupo diversificado de pessoas moldando esse futuro e liderando as transformações digitais que estão ocorrendo. Percorremos um longo caminho para alcançar um espaço aberto para mulheres na tecnologia e temos que continuar nesse caminho criado para tomar ações concretas e sustentáveis que melhorem as questões que estamos abordando.
* Melina Masnatta é diretora global de Aprendizagem, Diversidade, Igualdade e Inclusão na Globant
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