O cooperativismo brasileiro, um movimento robusto que congrega mais de *25,8 milhões de cooperados e opera com 4,3 mil cooperativas ativas em mais de 90% dos municípios do País, é hoje um protagonista na agenda de sustentabilidade global. Tanto que é destaque na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontece em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro. Cooperativas de diferentes setores participam em mais de 30 painéis, com temas como bioeconomia, agricultura de baixo carbono, inclusão produtiva, entre outros.
A participação ganha peso especial justamente em 2025 – declarado pela ONU como o ‘Ano Internacional do Cooperativismo’. O modelo é destacado como uma solução global para desafios complexos que vão da segurança alimentar e transição energética ao financiamento climático, que são essenciais para a adaptação e mitigação de riscos climáticos em escala nacional.
O modelo de organização coletiva do cooperativismo entrega resultados concretos, alinhando eficiência econômica e sustentabilidade, com um papel fundamental em: agricultura de baixo carbono, promovendo a segurança alimentar; financiamento e valorização das comunidades; apoio à transição energética e ao desenvolvimento sustentável; incentivo à bioeconomia e ao uso eficiente dos recursos naturais; e construção de resiliência a riscos climáticos.
No agronegócio, a relevância é indiscutível: pouco mais de um quinto dos produtores rurais brasileiros estão organizados em cooperativas, mas juntos, eles são responsáveis por mais da metade da safra nacional de grãos e fibras, garantindo competitividade global. Essas organizações movimentaram R$ 438 bilhões em receita no último ano, distribuíram R$ 30 bilhões em lucro e mantêm mais de 268 mil empregos diretos.
A força do cooperativismo, no entanto, vai muito além das cifras do agro. De acordo com o Anuário do Cooperativismo Brasileiro, o setor movimenta financeiramente aproximadamente R$ 750 bilhões ao ano, com uma geração de 570 mil empregos diretos. O impacto é sentido diretamente nos territórios: municípios com cooperativas apresentam, em média, um incremento de R$ 5,1 mil no PIB por habitante, além de um acréscimo médio de 14,8 estabelecimentos comerciais por mil habitantes. Esse modelo de negócios é um indutor de desenvolvimento que contribui para a redução de famílias no Cadastro Único e entre as beneficiárias do Programa Bolsa Família, e ainda estimula o aumento de matrículas no Ensino Superior, bem como o aumento da arrecadação e de empregos formais nas regiões em que está presente.
As cooperativas promovem inclusão social, dinamizam economias locais e levam tecnologia e assistência técnica a produtores que, isoladamente, teriam mais dificuldade em acessar esses recursos. São estruturas que compartilham riscos, multiplicam oportunidades e constroem comunidades mais fortes. Em um tempo de instabilidades geopolíticas e custos crescentes de produção, as cooperativas funcionam como um escudo para seus associados, garantindo acesso a insumos, crédito, orientação técnica e melhores condições de comercialização.
A diversidade do cooperativismo agropecuário brasileiro também merece destaque. Presente em todos os elos da cadeia, ele reúne desde cooperativas voltadas ao fornecimento de insumos até aquelas que atuam na industrialização e comercialização de produtos de origem vegetal e animal. Isso permite agregar valor à produção, abrir novos mercados e reduzir a vulnerabilidade do produtor diante das oscilações de preço. Além disso, a intercooperação, princípio que orienta a atuação conjunta entre cooperativas de diferentes ramos, potencializa resultados. Em 2024, mais de 60% das cooperativas agropecuárias realizaram negócios com cooperativas de crédito, 23% utilizaram planos de saúde de cooperativas especializadas e outras tantas recorreram a serviços de transporte e trabalho
Nesse cenário, o mercado e as empresas têm um papel fundamental a cumprir. Ao desenvolver produtos e soluções que facilitem o trabalho no campo, melhorem a produtividade e promovam a sustentabilidade. Essa colaboração é particularmente importante na agricultura familiar, onde o acesso a tecnologias, insumos de qualidade e assistência técnica muitas vezes depende do suporte das cooperativas e da oferta responsável de companhias parceiras. Quando uma empresa estrutura programas de capacitação, disponibiliza equipamentos mais acessíveis ou estabelece canais de venda em conjunto com as cooperativas, ela não está apenas ampliando sua presença de mercado, mas está ajudando a transformar a realidade de pequenos produtores, que passam a produzir mais e melhor. Essa parceria virtuosa entre inovação empresarial e organização coletiva é parte essencial do caminho para garantir a resiliência do agro brasileiro e sua relevância mundial.
O setor, ao aliar eficiência econômica, compromisso social e responsabilidade ambiental, é a vitrine viva do conceito “Cooperativas constroem um mundo melhor”, tema eleito pela ONU para 2025. O Brasil, por meio do cooperativismo, projeta internacionalmente a capacidade de consolidar um modelo que concilia alta produtividade e a urgência da sustentabilidade. Celebrar o Ano Internacional das Cooperativas é reconhecer que o futuro do agro, da alimentação e da sustentabilidade do planeta passa por esse modelo de organização coletiva. O cooperativismo brasileiro não apenas constrói um mundo melhor: ele já o está transformando, todos os dias.
Mauro Favero é presidente da Divisão de Agricultura Leve no Grupo Husqvarna












