O Brasil vive uma das maiores safras de soja de sua história. Com projeção entre 164 e 175 milhões de toneladas em 2025, o país não apenas mantém, mas amplia a liderança mundial na produção, deixando para trás os Estados Unidos, que colhem cerca de 117 milhões de toneladas.
A soja, sozinha, representa metade da produção nacional de grãos e responde, junto a outras culturas, por cerca de 30% do PIB do agronegócio. Em Santa Catarina, o desempenho acompanha o avanço nacional: nos últimos 12 anos, a produção cresceu 93% e, nesta temporada, deve ultrapassar 3 milhões de toneladas.
Mais do que números, isso reflete uma cadeia produtiva que alia tecnologia, manejo sustentável e a força das cooperativas para competir mesmo com uma área agricultável limitada.
Do campo ao mercado, uma produção que move a economia
O cultivo da soja em Santa Catarina ocupa hoje 770 mil hectares, um aumento de 60% em pouco mais de uma década, com concentração no Planalto Norte, Oeste e Serra.
O ciclo 24/25 foi favorecido por condições climáticas positivas e pela adoção de sementes certificadas, associada a manejos técnicos e acompanhamento constante de equipes especializadas.
Em diversas propriedades, a produtividade ultrapassou 6 toneladas por hectare, algo que, segundo Claudiney Turmina, coordenador de agricultura da Cooperalfa, ficará na história da soja catarinense.
A média estadual chegou a quase 4 toneladas por hectare, consolidando o grão como responsável por 8% do PIB agrícola do estado e cerca de R$ 4 bilhões em valor bruto da produção. Em algumas regiões, como parte do Oeste, a soja chega a representar até 35% da economia primária, movimentando transportadoras, indústrias, serviços e comércio.
O manejo adequado do solo é um dos pilares desse desempenho. Após a colheita, produtores adotam culturas de inverno, como aveia e trigo, que protegem contra erosão, preservam a umidade e cumprem o vazio sanitário exigido para o controle de pragas e doenças.
Mirela Bertoncello, agrônoma da Copercampos, ressalta que o solo é o berço dessa semente e que investir nele é garantia de retorno, mesmo em anos menos favoráveis.
Essa atenção se traduz no uso crescente da agricultura de precisão, que mapeia a lavoura e indica, por cores, a necessidade de adubação: verde escuro para áreas já fertilizadas, verde claro para as que receberão insumos e azul para pontos que demandam ajustes específicos.
As máquinas ajustam automaticamente a aplicação conforme se deslocam, garantindo doses exatas para cada parte da lavoura, reduzindo custos, evitando desperdícios e preservando a saúde do solo.
Com uma área agricultável menor que a de outros estados produtores, a estratégia catarinense é colher mais na mesma extensão. Isso exige sementes de alto potencial genético, boas práticas agrícolas e acompanhamento técnico próximo.
É também nesse ponto que o cooperativismo ganha força: ele conecta produtores a assistência técnica qualificada, fornece insumos, processa a produção e garante logística eficiente para o escoamento.
Cooperativismo e infraestrutura como diferenciais competitivos
Em Chapecó, a Cooperalfa opera um dos maiores complexos agroindustriais da América Latina, com capacidade para armazenar 225 mil toneladas e processar grãos em óleo degomado, farelo e sementes. Na safra 24/25, recebeu mais de 17 milhões de sacas de soja. No pico da colheita, a movimentação chegou a quase 1 milhão de sacas por dia, volume que exige planejamento detalhado para evitar gargalos.
“Não existe plano B durante a safra”, afirma Luis dos Santos, gerente de cereais da Cooperalfa, destacando a importância de antecipar decisões para garantir que produtores não enfrentem filas ou falta de espaço para descarregar.
Campos Novos, maior produtor de grãos do estado, é também referência nacional na produção de sementes. A Copercampos produz volume suficiente para plantar 1,8 vez a área total de soja de Santa Catarina. Suas oito unidades de beneficiamento recebem mais de 3,5 milhões de sacas por ano, operando com equipamentos capazes de processar até mil sacos de 40 kg por hora.
A altitude média de 950 metros e o clima da região favorecem a manutenção da qualidade genética, física e fisiológica das sementes, que abastecem lavouras em diversos estados. Além disso, a cooperativa armazena grãos para empresas parceiras e multinacionais, movimentando mais de 3 milhões de sacas anualmente.
A logística é um capítulo à parte. Como a velocidade da colheita costuma ser maior que a capacidade de recebimento, as cooperativas distribuem a produção entre unidades e programam o transporte para evitar acúmulos. Esse controle garante que o produto chegue rapidamente ao processamento ou ao armazenamento, preservando a qualidade e assegurando prazos.
Histórias que mostram a força do setor
Entre os produtores, cada propriedade traduz em números e decisões o que significa alinhar tradição e tecnologia. Davi Ribeiro, de Campos Novos, cultivou 370 hectares nesta safra e colheu 180 toneladas. Logo depois, plantou aveia para cobrir o solo e prepará-lo para o próximo ciclo, cumprindo as exigências do vazio sanitário.
Já em Guatambu, Ivan Zeni, que planta soja desde 1980 e hoje trabalha com o filho Leonardo, enfrentou estiagem que reduziu em cerca de 20% a produção, fechando a média em 60 sacas por hectare. “O nosso dever é produzir e esperar que venha chuva”, resume.
A inovação também está no combate a doenças como a ferrugem asiática. No laboratório da Epagri em Chapecó, pesquisadores desenvolvem agentes biológicos como o Trichoderma, que reduzem a necessidade de defensivos químicos. Esses produtos podem ser aplicados no tratamento de sementes ou via foliar, competindo com patógenos e induzindo resistência nas plantas, sem perder eficiência.
Do plantio à colheita, e novamente ao preparo do solo, o ciclo da soja em Santa Catarina é contínuo e começa a ser desenhado um ano antes. A cada safra, planejamento, manejo sustentável e tecnologia se somam à força do cooperativismo para garantir que o estado mantenha produtividade alta, competitividade no mercado e impacto positivo na economia local.
Em 2025, declarado Ano Internacional das Cooperativas, produtores e cooperativas mostram que cooperar é semear desenvolvimento, um trabalho que transforma não apenas o campo, mas também a vida nas cidades.
Fonte: ND Mais