A bioeconomia, considerada uma das vertentes para o desenvolvimento sustentável na Amazônia, e que prioriza a produção de baixo carbono, pode gerar faturamento industrial adicional de US$ 284 bilhões por ano, até 2050. As estimativas da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) levam em conta uma série de ações conjuntas nas quais o agronegócio e os setores de alimentação, farmacêutico, de cosméticos e de genética assumem protagonismo.
— Se conseguirmos zerar o desmatamento ilegal, dá para inverter a economia da Amazônia em menos de dez anos. É possível dar valor à bioeconomia rapidamente — afirma o cientista climático Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), citando potencial de geração de US$ 50 bilhões na região em uma década.
As projeções refletem experiências em curso. Atividades desenvolvidas por cooperativas, como a da C.A.M.T.A, em Tomé-Açu, no Pará, produtora de mais de uma centena de produtos, têm rentabilidade de US$ 1 mil por hectare por ano. O retorno com a criação de gado gira em torno de US$ 100 por hectare por ano.
Segundo Nobre, há duas décadas, a indústria do açaí gerava, por ano, US$ 50 milhões em vendas. Hoje, atingiu US$ 1,2 bilhão na Amazônia e US$ 15 bilhões no mundo:
— Quando se desenvolve produtos da nova economia há mercado internacional para eles —diz Nobre, que dirige a Amazon Third Way Initiative/Projeto Amazônia 4.0, que tem entre suas metas a criação de um instituto de tecnologia, nos moldes do americano Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), com investimentos de US$ 1 bilhão destinados a formar especialistas em bioeconomia.
Mas será preciso diminuir os riscos dos investimentos privados, o que demandará o combate rigoroso ao crime na região, refletido, sobretudo, no desmatamento e no garimpo:
— Investidores internacionais ainda não levam a sério as políticas adotadas para conter a ilegalidade na Amazônia — diz Nobre.
O cientista participou de debate ao lado do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB-PA), sobre bioeconomia durante o Fórum Ambição 2030. O Pará, um dos maiores emissores de gases de efeito estufa no país devido a desmatamento e mudanças no uso do solo, quer deixar essa posição e adotar novo modelo econômico, de baixo carbono.
A meta é atingir em 15 anos status de carbono neutro e, para tanto, o governo elaborou um Plano de Estadual de Bioeconomia. O Pará tem chances para ser a sede da COP30, em 2025, decisão que será conhecida em maio, diz Barbalho:
— Precisamos conhecer o que possuímos e, a partir daí, desdobrar com a iniciativa privada todas as oportunidades que isso pode gerar.
Estudo recente coordenado pelo TNC, Natura e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estimou em US$ 30 bilhões a receita para o Pará até 2040
Aumento de renda
Outra estatística relevante diz respeito ao aumento da renda na região a partir das atividades desenvolvidas pelas cooperativas. Estudo do professor Francisco Costa mostra que parte da população que trocou a pecuária pelo açaí e produtos agroflorestais saltou da chamada classe E para a classe C.
—Mesmo sendo a maioria dos produtos primários, ainda não industrializados. As poucas cooperativas na Amazônia conseguiram melhorar a vida da população —diz Nobre.
O Brasil detém entre 10% e 15% da biodiversidade mundial, o que abre portas para o desenvolvimento da bioeconomia na região.
*Especial para o Valor e O GLOBO
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